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Cartas trocadas entre Alves Redol e Tavares Teles dão origem a livro sobre o Douro

Cartas trocadas entre Alves Redol e Tavares Teles dão origem a livro sobre o Douro

Obra foi apresentada no sábado em Vila Franca de Xira. A vida miserável de quem trabalhava na vindima e a dificuldade dos pequenos comerciantes em venderem o vinho que se produzia no Douro foram temas da correspondência trocada.

“Alves Redol e o Douro, Correspondência para Francisco Tavares Teles” é o título do livro que foi apresentado, no sábado, 22 de Novembro, no auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, inserido nas comemorações dos 75 anos de “Gaibéus”. Perante uma plateia ligada à cultura local e do Ribatejo, a sessão contou com a presença do filho do escritor Vila-Franquense, António Mota Redol, do historiador António Monteiro Cardoso, do organizador do livro Gaspar Martins Pereira (que foi o primeiro director do Museu do Douro e faz parte do Centro de Investigação da Faculdade de Letras do Porto) e de João Luís Sequeira (da Direcção Regional da Cultura do Norte, que financiou a publicação deste livro). A grande ausência na sessão de apresentação foi a do filho de Francisco Tavares Teles, o conhecido comentador desportivo e jornalista António Tavares Teles, devido a questões de saúde.A obra retrata capítulos de vivências no Douro, entre 1907 e o massacre de Lamego em 1915. Durante esse período Alves Redol e Tavares Teles trocaram correspondência onde falavam sobre a vida dura e mal paga dos trabalhadores das vinhas e ainda dos pequenos comerciantes que aplicavam tudo no negócio e depois penavam para conseguirem vender o vinho. Ao todo foram trocadas mais de 70 cartas e seis postais.António Monteiro Cardoso frisou que o livro tem a particularidade de mostrar como “Alves Redol tinha vastos conhecimentos de história, antropologia e sociologia”, além de demonstrar que, por diversas vezes, o escritor viveu fases depressivas, tendo até ponderado deixar de escrever, talvez devido à perseguição da censura, que o levava a reescrever quase sempre os seus livros.Já Gaspar Martins Pereira considerou que o seu papel de organizador “foi secundário”, porque este livro “só foi possível tendo em conta que os filhos de ambos sempre mantiveram estas cartas intactas e guardadas e ainda porque ajudaram na decifração de alguns factos contidos nas mesmas”. O professor deixou presente que “esta correspondência dá-nos a vivência mental actual do escritor e tudo o que ele sentia no momento, embora o rigor que aparece naquelas páginas só se consiga entender com muito trabalho”. “Alves Redol era um homem de paixões fáceis”O único entrave que António Mota Redol diz ter tido na sua relação com o pai, Alves Redol, foram as mulheres. “Era um homem de paixões fáceis, mas tinha uma visão muito diferente em relação à mulher. Deverá ter sido mesmo o primeiro escritor português a colocar a mulher numa posição importante, de igualdade em relação aos homens. Por exemplo, nos Avieiros a personagem principal é feminina”, referiu em declarações a O MIRANTE. No entanto, este engenheiro reformado nunca conseguiu ver com bons olhos a precoce separação dos pais e o facto de o seu progenitor ter sido um homem que se apaixonava com tanta facilidade, tendo o tema “dado origem a acesas discussões” entre os dois, mas admite que “era nessas alturas que ele escrevia com maior intensidade”.António Mota Redol afirma que foi através das cartas que deram origem ao livro agora editado que teve conhecimento que o seu pai era um homem com tendência para estados depressivos. “Penso que estas depressões deviam-se, sobretudo, à falta de descanso e ao excesso de trabalho porque, para além de trabalhar na sua firma, tinha que despender muito tempo das férias na recolha dos dados que deram origem a este e outros livros. Por outro lado, penso que essa tendência começou quando apanhou malária em Angola e esteve à porta da morte. Nessa altura, teve que deixar de trabalhar durante algum tempo e ainda de jogar futebol, que tanto amava”, referiu.Outra referência que António Mota Redol desconhecia até ler as cartas era que Alves Redol estava “constantemente a dizer que ia deixar de escrever”, talvez devido à constante pressão da censura, facto que veio mesmo a acontecer após ter escrito os “Olhos de Água”, em 1954, tendo retomado apenas em 1957/58.
Cartas trocadas entre Alves Redol e Tavares Teles dão origem a livro sobre o Douro

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