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Renovado Manuel Serra d’Aire

Espero que tenhas tido umas boas entradas, que tenhas calçado peúgas azuis para dar sorte e que não te tenha saído a fava no bolo-rei nem te tenhas engasgado com as bolhinhas do champanhe. Eu aguentei estoicamente a passagem de ano sem tropeções de maior o que, nos dias que correm, é façanha a merecer registo dada a graduação com que andam os vinhos tintos nacionais.Como estamos no início de um novo ano e como ainda estou embebido do espírito natalício que me deixa piegas e com a agressividade de um koala bebé não me apetece estar aqui a distribuir sarrafada verbal, preferindo concentrar-me nos votos que quero formular para 2015 e que espero ver correspondidos por quem manda nisto tudo, seja lá quem for.Por exemplo, gostaria que neste novo ano regressassem ao Tejo as famosas tágides dos tempos de Luís de Camões, que deveriam ser figuras curvilíneas de alto quilate porque não seria com certeza qualquer musa trinca-espinhas que inspiraria obras como “Os Lusíadas”. Actualmente o Tejo é habitat de barbos, enguias e fataças, espécimes irrelevantes se comparadas com tais seres fantásticos e que jamais inspirarão uma reles estrofe quanto mais uma obra-prima da poesia. O único óbice ao seu regresso é que um dia o sempiterno deputado Jorge Lacão consiga pôr finalmente o rio navegável e com isso o Tejo fique infestado de marinheiros lúbricos que possam pôr em causa a integridade física das atraentes musas. Aliás, se calhar foi por isso que elas desapareceram, fugindo de navegantes rebarbados. Ou por isso ou por estarem fartas de se banhar nos esgotos das populações ribeirinhas, porque naqueles tempos não havia etares nem preocupações ambientais e hoje, mesmo havendo, não falta trampa por esse rio abaixo.Outra coisa que eu gostaria que a região tivesse era um aeroporto. Podia ser em Fátima, em Tancos ou em Benavente, ou até nos três sítios (porque sonhar é fácil, pagá-los é que costuma ser complicado). Mas digo eu que o aeroporto daria muito jeito por cá, facilitando e acalentando a vaga de emigração fomentada pelo Governo e que é uma ideia que todos devemos patrioticamente acarinhar, porque se o Governo diz que deve ser assim, assim seja e não se discute mais. E uma pessoa que vai emigrar ter que se deslocar a Lisboa ou Porto para apanhar um avião carregado de malas não dá jeito nenhum. Assim nem dá vontade de emigrar…Gostava também que neste ano, depois do fado e do cante alentejano, também o fandango fosse considerado património imaterial da humanidade. Eu sei que dois homens a dançar frente a frente ao desafio pode não transmitir a imagem mais fidedigna da virilidade e do marialvismo ribatejanos. E reconheço também que as meias brancas de renda e os calções justos usados pelos dançarinos podem parecer abichanados e ajudam a reforçar a ideia de que algo correu mal no mundo dos trajes típicos. Mas se o cante alentejano é património imaterial da humanidade, que me perdoem os compadres, mas o fandango também merecia ser. E neste último caso bastam dois elementos aos saltos para o património se materializar, ao contrário do cante, que precisa um pelotão de gente a dar à goela e de uns copázios de tintol para aquecer e afinar as ditas. Calorosos cumprimentos do Serafim das Neves

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