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Inapelável Manuel Serra d’Aire

O país das marias e manéis tornou-se de repente num contentor de charlies. De um dia para o outro, graças a uns marados que se lembraram de entrar a matar na redacção de um jornal satírico parisiense, Portugal em peso descobriu com fervor quase fundamentalista o seu amor pela liberdade de imprensa e pela liberdade de expressão. Foi comovente observar as diversas manifestações, em que cada um parecia querer dizer que era mais charlie que o outro. Ver o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, empunhando um cartaz a dizer que é charlie foi enternecedor e deu-me a certeza que nunca mais será preciso um jornalista recorrer aos tribunais para conseguir documentos públicos daquela autarquia enquanto ele for presidente.Também gostei de ver uma fotografia de um deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Santarém com uma camisola com a frase “Je Suis Charlie” estampada, poucos dias depois do atentado. Foi gratificante saber que o camarada Vítor Franco não pactua com as medidas contra a liberdade de expressão, seja cá, seja em França, na Coreia do Norte ou na China.Aliás, esta praga de charlies fez-me reflectir como foi possível este mesmo país ter ficado, há uns anos, horrorizado com o cartoon do ribatejano António onde o Papa João Paulo II aparecia com um preservativo enfiado no nariz. Ou como foi possível um secretário de Estado de Cavaco Silva censurar como pôde o “Evangelho Segundo Jesus Cristo” do ribatejano José Saramago.Tiro o chapéu aos cartoonistas, jornalistas e humoristas franceses que, com a sua morte, conseguiram pôr um país (e quase todo o mundo) em sentido na defesa de valores fundamentais. Confesso que, no calor do momento, cheguei a invejar esses mártires da liberdade de expressão (mas depois passou, porque mais vale estar vivo, penso eu…). Porque nós, caro Manel, andamos aqui há anos a invectivar a classe política, a brincar com a religião, a explorar marialvisticamente a faceta mais sinuosa das mulheres e os resultados obtidos são muito fraquinhos. Nem um pneu furado, uma ameaça de bomba, uma excomunhão, um murro nas fuças. Nada!Quer dizer, nada não, porque não há regra sem excepção e até nós, míseros escribas, temos direito a ela. E essa excepção foi uma acusação em tribunal que nos valeu sentar o cu no mocho, graças ao zelo do sempre vigilante Ministério Público, por, entre outras coisas, termos brincado com um excelentíssimo ex-autarca de Santarém que usava suspensórios mas que não gostou que disséssemos que usava suspensórios, talvez por não lhe assentarem bem ou por ter descoberto que eram acessórios fora de moda. Enfim, coisa comezinha que não dignifica ninguém nem devia ficar registada no nosso currículo, até porque, para cúmulo, acabámos ilibados. Uma tristeza!Foi também com tristeza que soube que o aguerrido vereador da Câmara de Alpiarça Francisco Cunha suspendeu o mandato. É uma grande perda para quem, como eu, estava habituado a “cuscar” pela Internet o que se passava nas animadas reuniões de câmara em que Cunha era um dos grandes protagonistas, sobretudo quando contracenava com o presidente Mário Pereira. Digo-te que está ali um talento nato na área da representação. Faço votos para que regresse depressa, porque a malta gosta de assistir a bons espectáculos. E ainda por cima de borla...Cumprimentos e beijinhos à prima doSerafim das Neves

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