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Campeã de basquetebol lidera o desporto na Câmara de Santarém

Campeã de basquetebol lidera o desporto na Câmara de Santarém

Inês Barroso foi campeã nacional, treinou clubes e selecções jovens e é uma estreante nas lides autárquicas

Assume-se como uma desassossegada por natureza que gosta de desafios. Foi por isso que aceitou entrar no mundo da política após muitos anos dedicados ao basquetebol, ao ensino e ao desporto escolar. Inês Barroso é responsável pelas pastas do Desporto e da Educação na Câmara de Santarém e também administradora da empresa municipal Viver Santarém. Numa conversa mais virada para as questões do desporto, garante que vai haver mais equidade nos apoios aos clubes e que a prioridade em termos de investimento é na manutenção e beneficiação do parque desportivo municipal, pois não há dinheiro para projectos megalómanos.

Justifica-se a existência de uma empresa municipal como a Viver Santarém para gerir as instalações desportivas municipais? Neste momento creio que sim. Porque as instalações desportivas já são de alguma dimensão e implicam reparações sistemáticas, beneficiações, requalificações a que o sistema burocrático do município não poderia dar uma resposta tão célere quanto uma empresa municipal. Obviamente temos que nos cingir à legislação inerente aos procedimentos de contratação ou de prestação de serviços, mas a empresa tem uma flexibilidade muito maior para dar uma resposta imediata.Como membro do conselho de administração da Viver Santarém custou-lhe ter de decidir o despedimento de cerca de 20 funcionários, no âmbito da reestruturação da empresa? Custou-me imenso. Aliás, custou a todos. Creio que as pessoas que saíram têm consciência disso. Tivemos que fazer opções do ponto de vista económico sob pena de, mais tarde, termos de despedir todos os trabalhadores caso a Viver Santarém fosse extinta. Foi um processo moroso, muito delicado, porque mexeu com valores humanos, com sensibilidades, com afectos e a mim, particularmente, custou-me imenso.Porquê? Porque havia aqui profissionais que eram colegas meus, licenciados em Educação Física, a quem tive de dizer que tinham que sair. Foi muito difícil e ainda hoje é uma pedra no sapato, é um desconforto sempre que pensamos nisso. Mas não havia outra solução, a não ser a extinção da empresa.Acredita que a Viver Santarém agora é viável? Sim. Tem sido feita uma gestão financeira muito rigorosa. Não está em causa a gestão anterior, porque as decisões são tomadas pensando-se sempre que são as melhores nesse momento, mas com a reestruturação houve uma diminuição de gastos e neste momento se não podemos, por exemplo, ter competição ao nível da natação, temos aquilo que achamos que é a missão de uma escola, que é a formação. Não podemos dar passos maiores do que as pernas.O complexo desportivo municipal na Quinta do Mocho chegou a ter a primeira pedra lançada. Já lá vão mais de dez anos. Entretanto o projecto foi descartado. É um processo encerrado? Neste momento não faz sentido estar a dizer que vamos pensar novamente nesse projecto, pois nem temos dinheiro para reabilitar o que temos. Obviamente que gostaríamos de ter uma zona de excelência para a prática desportiva, mas não a vamos conseguir tão cedo. Actualmente, o projecto da Quinta do Mocho não tem pernas para andar.O parque desportivo actual deixa-a satisfeita? De forma alguma. Temos alguns sonhos que gostaríamos de concretizar. O nosso parque desportivo, em termos de pavilhões e de salas polivalentes, já tem alguma idade e há que o preservar. É necessário reabilitar o pavilhão gimnodesportivo e a nave, que estão com graves problemas de infiltrações no telhado e cujo piso tem 30 anos e tem de ser substituído, pois não pode ser mais afagado. Temos que investir naquilo que temos.Fala-se na possibilidade de criação de mais um relvado sintético no campo da Ribeira de Santarém. Qual é o ponto da situação? Houve uma verba que sobrou do anterior quadro comunitário de apoio e foi aberta a possibilidade de se apresentarem candidaturas no prazo de 10 dias. Já tínhamos esse projecto identificado e submetemos imediatamente a candidatura. Ainda não obtivemos resposta.É uma boa aposta esse investimento numa zona que fica em leito de cheia? O projecto apresenta alguns cuidados a ter para evitar problemas por causa das cheias. E enquanto houver ali juventude e vontade de abranger a comunidade acho que vale a pena investir. Foi feita a candidatura. Se for aprovada, o financiamento de fundos comunitários é de 85 por cento e nós teremos que garantir o resto. Tem sido lá feita também alguma reabilitação, em conjunto com a União de Freguesias da cidade, que tem sido um parceiro fantástico nestas pequenas intervenções.“Se há apoios para um, há apoios para todos”Encontra-se em fase final a elaboração de um novo regulamento municipal de apoio às associações desportivas. O que estava em vigor foi feito já com o PSD na gestão da Câmara de Santarém. Havia necessidade de o actualizar? Havia, porque o retorno que tínhamos, até dos clubes, era de que o anterior programa de apoio ao associativismo desportivo englobava imensos critérios de apoio, o que dificultava aos clubes o seu entendimento. Ouvindo as preocupações dos clubes pensámos em fazer um novo regulamento. Só que este acarreta um tempo infinito em termos de tramitações legais. Não avançámos logo no início do mandato por questões orçamentais, pois não tivemos em 2014 verbas para o associativismo desportivo. Por outro lado a reestruturação da Viver Santarém obrigou a rever todos os protocolos com as associações. Houve toda uma tramitação que demorou imenso tempo. Temos partilhado com os clubes as dificuldades que tivemos para conseguir montar este puzzle.Era necessário fazer um novo regulamento? Não bastava fazer algumas alterações pontuais? Digo com franqueza que se tivesse o conhecimento que tenho hoje quando entrei para o município, teria avançado por aí. E digo mais: hoje ainda vou ter uma reunião precisamente para ver se consigo levar à próxima reunião do executivo o anterior programa de apoio mas com alteração das cláusulas que entendemos serem fundamentais. Há uma situação que para mim é ponto assente: quando houver apoios para um clube tem de haver para todos. E em 2015 vai haver apoios para todos? Vai. Temos orçamentados 125 mil euros para apoiar os clubes. Mas tem que ficar muito claro o que vamos apoiar, quando e porquê. Como é que se fiscaliza isso? Pedimos relatórios de execução comprovativos de despesas e vamos apoiar realmente quem mais trabalha. O regulamento visa sobretudo apoiar a formação. Alguns clubes queixam-se que não há equidade no apoio. Alegam que os clubes que utilizam instalações municipais na cidade são beneficiados, pois não pagam água, electricidade e gás. Reconhece justiça nessas críticas? Reconheço em parte, porque efectivamente clubes como o Atlético de Pernes, o Moçarriense ou o Amiense têm despesas que os que utilizam as instalações municipais não têm que assumir. Não estamos esquecidos disso.Que medidas vai tomar a esse propósito? Vamos apoiar todos os clubes do concelho com dois terços das despesas que tenham de água e electricidade. Já está contemplado no novo regulamento, que falta aprovar em reunião do executivo. Não será o apoio desejável, mas é igual para todos.Em Santarém há um fenómeno curioso, que é o da extrema concorrência entre clubes da cidade em várias modalidades. Como vê essa situação? Entristece-me imenso. Acho que as pessoas devem procurar entendimentos e equilíbrios na perspectiva de mais ganhos para o clube que representam. Criam-se alguns atritos entre as pessoas que constituem as direcções dos clubes e depois separam-se e formam outro clube.Seria melhor para o desporto do concelho se houvesse menos dispersão, se cada clube tivesse uma modalidade de referência? Penso que sim. E mesmo a nível dos apoios seria melhor. Basta ver que vamos distribuir 125 mil euros por mais de 50 associações desportivas… Mas há outra situação: os clubes por vezes não se lembram de quanto representa para o erário público a cedência de instalações ou de transportes. Essa contabilidade é feita? Agora já estamos a fazê-la. O pavilhão e a nave desportiva, por exemplo, custam 170 mil euros por época e têm um retorno de 3 por cento. As pessoas acham que é uma obrigação do município ceder as instalações, mas trata-se de um investimento muito significativo. Tal como os autocarros ou obras que são feitas nas instalações. O apoio em espécie é muito significativo.Foi atleta de basquetebol. Qual é hoje a sua ligação prática ao desporto e à actividade física? Com muita vergonha minha, tenho que dizer que não faço nada. Acho que é sobretudo por comodismo. Não me posso desculpar só com a vida super ocupada. O meu desporto agora é secretariado e automobilismo (risos).Uma professora apaixonada pelo jogo da bola ao cestoInês Barroso nasceu em Torres Novas em 2 de Março de 1965 mas nunca viveu na cidade do Almonda. A infância e parte da adolescência passou-as em Ponte de Sôr, até aos 15 anos. Depois residiu três anos no Entroncamento até ir estudar para Lisboa. Aos 22 anos mudou-se para Santarém, após aceitar o convite para jogar na equipa de basquetebol da União Desportiva de Santarém, e ficou pela cidade, de que diz gostar cada vez mais.Licenciada em Educação Física, com mestrado em Ciências do Desporto, é professora de Educação Física do quadro da Escola Secundária Sá da Bandeira, em Santarém. Ao longo da vida foi fazendo outras coisas, que inclusivamente a levaram a deixar a escola provisoriamente. Antes de assumir o cargo de vereadora na Câmara de Santarém, em Outubro de 2013, esteve 19 anos ligada ao desporto escolar, primeiro como coordenadora distrital e depois no gabinete coordenador do Ministério da Educação, em Lisboa.O basquetebol é uma das paixões da vida desta mulher, mãe de dois rapazes. Foi jogadora em várias equipas, nomeadamente na União da Chamusca e na União de Santarém, onde se sagrou campeã nacional como atleta e como técnica adjunta. Jogou e treinou em Santarém com Ticha Penicheiro, a melhor basquetebolista nacional de sempre que fez depois carreira na liga profissional americana. Foi ainda directora técnica da Associação de Basquetebol de Santarém, treinou selecções distritais e nacionais de escalões jovens e foi formadora da Escola Nacional de Basquetebol. Tem também os cursos de árbitro e de oficial de mesa.A sua entrada no mundo da política foi inesperada, apesar de ser militante do PSD. Foi convidada pelo presidente, Ricardo Gonçalves, a integrar a sua lista e inicialmente recusou. Mas ficou a maturar e, como é uma “desassossegada por natureza” que gosta de novos desafios, acabou por aceitar. E está a “gostar imenso”. “Não sou política. Toda a vida fui operacional, gosto de fazer coisas, de actuar no terreno”, diz quem se considera ainda em “fase de estágio” nas funções autárquicas, que considera extenuantes mas também gratificantes.
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