uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
O jovem actor de Coruche que luta pelo grupo de teatro da sua terra

O jovem actor de Coruche que luta pelo grupo de teatro da sua terra

José Sotero estreou-se no elenco da peça de teatro “Cyrano de Bergerac” no Teatro Nacional D. Maria II

Sempre sonhou ser actor e nunca desistiu de concretizar esse sonho. Para isso teve que deixar a sua terra natal, Coruche, para lutar pelos seus objectivos. Aos 22 anos conseguiu um papel ao lado de actores consagrados como Diogo Infante e Virgílio Castelo. José Sotero é também encenador e um dos impulsionadores do grupo de teatro de Coruche “Contacenas”. Na semana em que se assinala o Dia Mundial do Teatro, a 27 de Março, O MIRANTE falou com o jovem actor.

José Sotero conseguiu, aos 22 anos, realizar o sonho de pisar o palco do Teatro Nacional D. Maria II e contracenar com um dos seus actores de eleição, Diogo Infante. O jovem de Coruche integrou o elenco da peça de teatro “Cyrano de Bergerac” que esteve em cena entre Janeiro e Março, na Sala Garrett do D. Maria II, em Lisboa, com sessões esgotadas todos os dias. Terminou a sua formação o ano passado e nem acreditou quando lhe telefonaram a dizer que tinha sido escolhido para interpretar um dos personagens da peça. Este é o seu primeiro grande trabalho. “No primeiro dia de ensaios estava pasmado a olhar para os actores com quem ia contracenar”, conta a O MIRANTE numa entrevista que decorreu na vila de Coruche, junto ao rio Sorraia.José Sotero já faz teatro há cerca de dez anos. Começou a fazer “teatrinhos” na escola mas desde criança que é o rei das peças lá de casa. A família era o seu público. Entretanto, depois do primeiro contacto com o teatro na escola decidiu parar e voltar-se para a música, que tinha começado a aprender aos seis anos. Fez parte da banda da Sociedade de Instrução Coruchense (SIC), onde tocava bombardino. Depois disso, fartou-se de estar sentado nas cadeiras a tocar e voltou ao teatro da escola. Desde sempre lutou pelo sonho de ser actor e depois de terminar o ensino secundário conseguiu convencer os pais e fez um curso de actores em Lisboa. No final do curso, regressou a Coruche cheio de forças e ideias e decidiu reactivar o Contacenas. Um grupo de teatro amador que actualmente conta com dez actores, todos de áreas profissionais diferentes mas que conseguem produzir espectáculos teatrais com regularidade e, diz, que cativam o público.Além do curso de teatro que tirou na Escola Superior de Teatro e Cinema, José Sotero também fez canto lírico no Conservatório de Música e concluiu o curso de Produção de Marketing e Eventos. “A vida de actor é muito incerta e a música e a produção de marketing e eventos são ferramentas que tenho para não ficar à espera que o telefone toque com convites. Tenho capacidade para trabalhar na área da música e de criar os meus próprios projectos”, refere acrescentando que também faz trabalhos de moda. Como não sabe estar parado também criou uma companhia de teatro, “Caducado”, com um grupo de jovens actores.O jovem ribatejano considera que é possível viver só do teatro em Portugal mas que o grande problema é a sazonalidade dos trabalhos. Tão depressa um actor está a trabalhar e a ganhar bem, como pode estar grandes temporadas sem fazer nada. “Sou muito ansioso e mesmo quando tenho trabalho estou preocupado com o que vou fazer a seguir. Este ano já estou tranquilo porque tenho trabalho até final do ano mas é uma profissão muito instável. É preciso muito espírito de sacrifício para se ser actor”, diz. José Sotero está a concretizar outra paixão: fazer cinema, num filme de autor, com um realizador estrangeiro. O seu objectivo é fazer carreira em Portugal mas pretende fazer formação no estrangeiro, nomeadamente na Califórnia (Estados Unidos da América).Também sonha com o mundo da televisão. Não pela fama mas pelo facto de ser um meio onde o reconhecimento do público é mais imediato. Ambiciona pisar um palco de Londres [Inglaterra] e em Portugal gostava de actuar no São Luís e no São Carlos. Espera poder interpretar personagens de Shakespeare e Oscar Wilde. Diogo Infante, Eunice Muñoz, Dalila do Carmo e Ruy de Carvalho são alguns dos seus ídolos.“Não podemos ficar à espera do dinheiro para financiar espectáculos”Enquanto esteve em cena com a peça de teatro no D. Maria II não conseguiu visitar a sua vila natal, Coruche. Com muita pena sua uma vez que é lá que recarrega baterias e se refugia da azáfama do dia-a-dia. Estão há dois anos com o espectáculo musical “Terceira Idade”, que conta a história de cinco idosas e tem tido muito sucesso, daí ainda estar em público. Ainda este ano vão apresentar um novo espectáculo, intitulado “Fado”, que está em fase de preparação. Estão a tentar envolver várias colectividades do concelho de Coruche para participarem e tornarem o espectáculo mais grandioso. “Se trabalharmos todos em conjunto podemos oferecer um produto de maior qualidade à população”, refere acrescentando que o apoio da Câmara de Coruche tem sido muito importante para o grupo de teatro.Sotero lamenta que o Governo não invista na área da cultura. “Vou ao teatro todas as semanas e o que vejo é uma massa jovem a trabalhar afincadamente. Criam espectáculos próprios e têm público. A crise também tem coisas boas e uma delas foi que os jovens actores se tornaram mais pró-activos. As salas de teatro estão cheias o que significa que as pessoas querem ver espectáculos culturais. Não podemos ficar à espera do dinheiro para financiar espectáculos. Temos que ser nós a procurar alternativas para criar espectáculos porque as pessoas estão sedentas de cultura “, sublinha.
O jovem actor de Coruche que luta pelo grupo de teatro da sua terra

Mais Notícias

    A carregar...