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Litoral

Vem o litoral a propósito de uma conhecida revista semanal ter chamado recentemente à capa o assunto. Aliás, por razões óbvias, o tema é recorrente. Como sempre neste tema, como noutros, há um eminente professor que está na moda, oriundo da capital do reino, e que pelo seu estatuto anda durante uns anos a vender o produto. No presente caso, as tempestades de 2014 trouxeram a nu algumas realidades inconvenientes e, como é afirmado, as consequentes soluções “para resolver o problema da erosão”. A dada altura, também a costa “extremamente energética” é identificada como outro grave problema. A somar a tudo isto temos a subida do nível do mar, citada pelos pescadores sem necessidade porque qualquer um vê, e as alterações climáticas a grande bandeira.Daqui sai um cozinhado pouco conveniente mas com soluções ainda piores. Desde logo, porque a erosão é abençoada, um fenómeno natural, incontornável, tão normal como o ciclo da água ou como a polinização. Não é um problema nem devemos ou podemos lutar contra ela. As arribas caem, como sempre caíram. Chega de disparate pago a peso de ouro. Chega de mentira. As mentiras em que andámos a viver deram o resultado que conhecemos e no litoral é igual. O mar português é efetivamente vigoroso, há vastas faixas do litoral em risco mas sempre assim foi e será. O que está a mais é o urbanismo e é aí, e só aí, que temos de atuar. Converter os milhões – que afinal até são poucos, segundo a mesma fonte - da intervenção no litoral em demolições. Não há outro caminho, como os anos vão mostrar. A Natureza é assim. Alimentar artificialmente praias com areia não pode ser considerada a solução generalizada, apenas pontual. Muitas praias estão condenadas, pois o mar é dinâmico e ou o compreendemos e aceitamos, ou perdemos. Alguém tem a ilusão do contrário. Paradoxalmente, enquanto falta areia no litoral, o Tejo está assoreado. A natureza é tramada e “faz tudo ao contrário”, parece ser a grande mensagem deste tipo de estudos e ciência em que somos recorrentes.Vendemos belas vivendas em arribas instáveis, com vistas de mar únicas e agora o mar trama-nos. Não satisfeitos com isso insistimos no erro. Outros erros mas de igual gravidade. Até quando vamos viver encantados por estes enganos? Como já muitas vezes aqui o escrevemos é também por isto que somos um país pobre e paralelamente nos falta dinheiro para o importante e essencial. Em ano de eleições talvez seja uma boa oportunidade para abrirmos os olhos e exigirmos mais qualquer coisa que politiquice barata. Na verdade, não consigo identificar maior estupidez do que a de querer contrariar a natureza.Carlos A. Cupeto

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