“Temos de perceber o contexto em que estamos inseridos e conhecer os jogadores que temos à frente, conhecê-los enquanto homens e saber como temos de intervir. Um jogador jovem, quanto tem potencial, precisa é de uma porta aberta. Normalmente, quando assim é, reage bem. Mas não tenho de ter um tratamento especial com os jovens. Se não lhes digo nada, é porque estão bem. O Messi, quando se estreou no Dragão, não era o que é hoje. O Moutinho também não.”Será o perfil revelado nesta frase que Rui Vitória proferiu, numa entrevista ao site Maisfutebol, em 2013, que levou Luís Filipe Vieira a pensar no nome deste ribatejano de Alverca para suceder a Jorge Jesus no comando técnico do Benfica. Numa altura em que o Benfica, pela voz do seu presidente, quer apostar nos jovens da formação, o provável ingresso de Rui Vitória assentaria que nem uma luva no perfil traçado. O técnico esteve ao comando dos juniores do Benfica entre 2004 e 2006 e é um velho conhecido de Vieira desde os tempos de Alverca.No entanto, o nome não reúne consenso na Luz, com nomes como Marco Silva e Paulo Bento em cima da mesa, mas a palavra do presidente é decisiva e, neste momento, a redução de custos com o futebol leva a uma aposta na formação. E aí, o perfil de Vitória é o mais indicado. O MIRANTE tentou falar com Rui Vitória mas o técnico nunca respondeu aos nossos contactos.O carácter a que Vieira aludiu na semana passada como elemento central no novo técnico é secundado, no caso de Rui Vitória, pela opinião do catedrático Manuel Sérgio: “Conheço Rui Vitória muito bem, é um rapaz com muito valor. Daqui a um ano vão ver como vão falar dele. É uma pessoa de muito valor, culto e que escreve muito bem. Tanto ele como Jorge Jesus têm o condão de ser homens entre homens”.Tudo começou nas escolinhas do FC AlvercaTrabalho, liderança e tranquilidade são argumentos muitas vezes utilizados para definir Rui Vitória. Respira futebol desde os 9 anos, quando começou nas escolinhas do FC Alverca, clube da terra natal. Autodidacta, tem gostos variados para lá do futebol, com especial ênfase para a música, onde é mestre na bateria. Forte crente no valor do trabalho, Vitória é exigente mas amigo, profissional mas compreensivo. A escrita e expressão são pontos fortes, algo que o ajudou na conclusão da licenciatura em Educação Física e nas aulas que deu anos a fio. Agora, aos 45 anos, prepara-se para regressar ao seu clube do coração, depois de passar por emblemas como Vilafranquense, Fátima, Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães.Frontal, ambicioso mas humilde, o seu carácter - moldado pela perda dos pais num acidente de automóvel quando tinha 32 anos - é o traço que mais convence Luís Filipe Vieira na aposta que deverá ser de três anos com o intuito de virar o Benfica para a aposta na formação. E, Vitória sente-se preparado, como já admitia a O MIRANTE, em 2010.“Chego à conclusão que sou um privilegiado. Todos os passos estão a ser dados de uma forma muito segura e consistente. As coisas não foram feitas à toa. Passei por variadíssimas situações que foram fundamentais para a minha formação enquanto treinador. Primeiro, as dificuldades de um clube amador cheio de problemas. Depois o conhecer a realidade de um clube como o Benfica. Aí, tive a oportunidade de contactar com outras equipas, culturas, formas de estar e jogar bem diferentes. Pude conhecer como é que pensam os jogadores vindos da formação a este nível e perceber as suas expectativas em relação ao futuro”. Rui Vitória foi galardoado em 2008 por O MIRANTE como Personalidade do Ano na área do desporto, após na época anterior ter levado o Centro Desportivo de Fátima à Liga de Honra do Futebol Profissional.