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Das mãos de João Marramaque sai arte à sua maneira

Das mãos de João Marramaque sai arte à sua maneira

Artesão trabalha a madeira e inspira-se sobretudo no mundo rural a que sempre esteve ligado

Aos 85 anos este habitante da Barrosa trabalha por amor à arte e não vende as peças de artesanato que produz. Apenas as quer mostrar ao maior número de pessoas possível.

João Marramaque encontrou na madeira a melhor forma de exprimir o orgulho que sente por uma vida inteira de trabalho no campo. Aos 85 anos este habitante da Barrosa, no concelho de Benavente, é presença habitual em feiras de artesanato pelo concelho e não só, mas ao contrário de quase todos os outros participantes nestes eventos, não tem o objectivo, nem tão pouco considera, vender qualquer uma das suas peças esculpidas em madeira.Desde juntas de bois, a arados, passando por ceifeiras e campinos, João esculpe em madeira todos os aspectos da sua já longa vida, sobretudo aqueles que estão relacionados com o campo e o trabalho que lá é desenvolvido. Mas fá-lo só para mostrar. “Vou a feiras mostrar o que faço porque me convidam e tenho nisso o maior prazer. Gosto de ensinar os mais pequenos a fazer quando me pedem e perguntam como faço. O que faço é para meu prazer e gosto tanto de cada uma das peças que nunca sequer pensei em as vender”, explicou.O passatempo depressa se tornou num vício, saudável, de tal forma que João acumula já mais de 700 peças. Por isso, resolveu transformar um velho anexo num museu improvisado e mantém as portas abertas a quem tiver curiosidade em ver a sua arte. E quem lá for - já perdeu a conta aos visitantes que acolheu - pode sempre contar com as explicações de João Marramaque, que conhece cada peça como a palma das suas mãos.“Este museu é uma coisa modesta, que fiz só mesmo para quem pede para visitar. Não anuncio em lado nenhum. Já cá tenho cerca de 700 peças e ainda hei-de continuar a fazer muitas mais”, garante.Homem de poucas palavras, recorda com saudade a sua vida de campo mais activa e explica porque sempre se deu bem no meio dos animais que agora esculpe. “Domestica-se melhor um animal selvagem do que uma pessoa de ideias ruins. E há muito mais maldade no ser humano do que nos animais, digo eu pela experiência de uma vida inteira a lidar com os dois”, afirma.O seu passatempo tem, ainda assim, tempo certo. As tardes são o período escolhido para esculpir. “Desde pequeno que tinha tendência para fazer este tipo de trabalhos em madeira. Agora faço isto por puro prazer, para me entreter durante as tardes. De manhã é sempre de enxada na mão a tratar das minhas hortas, que me dão muito que fazer”, realça, entre sorrisos.A inspiração surge-lhe, sobretudo, do dia-a-dia, da vida do campo e do olhar de quem tem larga experiência. “Tento esculpir tudo o que diz respeito ao que é e tem sido a minha vida, não só na terra, no cultivo, mas também de coisas que vejo e fixo. Levo cerca de três horas ou coisa parecida, a esculpir uma peça simples. Só uso uma enxó, uma grosa, um canivete e lixa própria para fazer isto”, refere.João não tem ambições de melhorar a técnica ou tornar-se perfeito. O prazer é o que o guia na sua arte. “Nunca fui, nem nunca quis ser profissional. Isto é arte, mas à minha maneira”, concluiu.
Das mãos de João Marramaque sai arte à sua maneira

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