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“Campinos em tractores são como facadas no peito”

“Campinos em tractores são como facadas no peito”

António Afonso, 68 anos, é o campino homenageado no Colete Encarnado

António nasceu numa herdade situada a três quilómetros da Herdade das Pancas, em Samora Correia. É filho e irmão de campinos e já tem um filho e um neto na profissão. Não é pessimista nem derrotista e acredita que a tauromaquia e a campinagem têm futuro. Já chorou a perda de um cavalo como se de um familiar se tratasse.

Os toiros, os cavalos e os campinos foram criados para andarem sempre unidos, por isso existirem campinos a tratarem de toiros em tractores e motos de quatro rodas é algo inconcebível para António Afonso. O campino homenageado este ano nas festas do Colete Encarnado de Vila Franca de Xira diz que estas imagens “são como facadas no peito”.Para António Afonso o gado deve ser manejado a cavalo e por isso custa-lhe ver as inovações nos campos que estão, aos poucos, a facilitar a vida aos campinos. “A vida hoje já não é tão dura como antigamente. A maior dificuldade dos campinos e dos ganadeiros são os ordenados. As casas agrícolas andam com dificuldades e já não conseguem ter os 10 ou 15 campinos que tinham antigamente”, lamenta.António nasceu numa herdade situada a três quilómetros da Herdade das Pancas, em Samora Correia. É filho e irmão de campinos - o seu irmão, Bernardo, foi homenageado o ano passado no Colete Encarnado - e já tem um filho e um neto na profissão. Não é pessimista nem derrotista e acredita que a tauromaquia e a campinagem têm futuro, graças às festas e tradições ribatejanas. “A campinagem está jovem e cada vez mais forte, há muita gente nova com talento e boa a manejar o gado”, explica.Quando era criança António estava sempre a tossir e ganhou a sua alcunha depois de dizer à professora primária que estava com “Tocha”. Desde então os amigos tratam-no pela alcunha. Casado, conheceu a mulher, Maria da Piedade, quando ela vinha do norte com outras raparigas para a apanha do arroz nas herdades Palha. “Ela sofria muito por mim, passava horrores quando eu saía a montar durante a noite, rezava muito por mim e estou-lhe agradecido por isso”, confessa. Morava no campo, no meio da tapada onde andavam os toiros, mas hoje já trocou o campo por uma casa no Porto Alto. São privilégios da reforma, diz a brincar. Apanhou muitos sustos e uma vez foi parar ao hospital depois de ser colhido por um toiro quando caminhava na herdade. “Nunca me passou pela cabeça desistir desta arte. Ainda hoje sinto falta do campo, gosto de estar perto da natureza”, conta a O MIRANTE. A morte dos seus cavalos são as suas maiores mágoas. As lágrimas que mais derramou foram quando perdeu “Piquete”, a sua montada de confiança de largos anos. “Morreu de velhice, chorei-o muito, era o meu melhor amigo, tinha-lhe uma grande amizade”, lamenta.António Afonso diz que a crise veio empurrar muitos jovens para a vida no campo mas que não é qualquer um que consegue ser campino.
“Campinos em tractores são como facadas no peito”

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