Vítor Carapau era um dos jogadores que integrava a secção de damas da Juventude Estrela Salgueirinha. Residente na vizinha aldeia do Rebocho, era na sede da colectividade do concelho de Coruche que passava grande parte dos seus dias. Foi aí que aprendeu, há um par de anos, a jogar às damas com os jogadores que por ali se batiam para disputar umas partidas. “Comecei a vê-los a jogar e fui aprendendo. Depois comecei a ganhar alguns jogos e vi que até tinha um bocadinho de jeito para a coisa”, explica o jogador de 42 anos. Passou a ser um dos quatro membros da equipa de damas que representava a colectividade em torneios nacionais da Federação Nacional de Damas.Desempregado, Vítor Carapau era uma das muitas pessoas que frequentavam a colectividade, apesar de não pertencer ao grupo dos cerca de 60 associados. A Juventude Estrela Salgueirinha era um ponto de encontro das gentes da terra e das redondezas. Era ali que as pessoas ocupavam o seu tempo depois de um dia de trabalho ou aproveitavam para relaxar durante o fim-de-semana. Bebericavam qualquer coisa, viam os jogos de futebol, jogavam umas partidas de damas, bisca, sueca ou até dardos. A secção de damas foi a última a ser criada, juntando-se às já existentes secções de pesca, futebol de salão, futebol 7 e 11.Uma morte marcanteNo Verão a população lá se juntava para conviver em animados churrascos e petiscos. Os dias de Inverno eram aquecidos pela lareira no interior da sede. Foi precisamente num dia frio do mês de Janeiro que a Juventude Estrela Salgueirinha fechou portas depois do homem que dava a cara pelo projecto, Rui Penteado, ter morrido de forma inesperada na madrugada de dia 7, aos 41 anos. Uma morte sem aviso prévio pouco tempo depois de ter enterrado o primo Eliseu Feijão, uma das vítimas mortais do acidente que aconteceu em Almeirim entre uma mota e um carro a 30 de Dezembro de 2014, também ele sócio da colectividade.Rui Penteado assumiu a direcção da associação em 2012. Impedido de trabalhar depois de sofrer um acidente de trabalho, decidiu começar a ocupar o seu tempo a dinamizar o espaço. A Juventude Estrela Salgueirinha era “a escolinha do pai”, nas palavras da filha de dois anos, Mariana, que adorava passar as tardes na sede com o pai.Conhecido por “Matraquilho”, explica a mãe, Hortênsia, por ser muito enérgico e dinâmico, Rui Penteado era uma pessoa conhecida na terra. “Era bastante humilde e muito amigo do seu amigo”, lembra o irmão, Carlos Penteado, que está em Cabo Verde há nove anos mas foi uma das pessoas envolvidas na recuperação da colectividade. Não era muito de jogos e gostava mais de tratar das questões logísticas, mas chegou a participar em alguns torneios de pesca.Faltam voluntários para agarrar no lemeFoi na sede da Juventude Estrela Salgueirinha que Carlos Penteado e Vítor Carapau estiveram à conversa com a repórter de O MIRANTE e recordaram o dinamismo que se vivia no espaço que era um ponto de convívio entre miúdos e graúdos. Lembram sobretudo as Festas Populares da Salgueirinha e o 1º Open Nacional de Damas da Salgueirinha realizado a 31 de Maio de 2014. A sala estava cheia com mais de quatro dezenas de jogadores de norte a sul do país e havia um frenesim de espectadores a entrar e a sair.Recordações de uma colectividade dinâmica que era um marco na comunidade e que está encerrada há mais de cinco meses. Os jogadores de damas deixaram de se encontrar e não se fazem representar nos torneios nacionais. Para além do vazio de perder um grande amigo Vítor Carapau sente a falta de ocupar os seus dias de forma interessante. Bebe um café pelos estabelecimentos da Salgueirinha ou vai dar uma volta até Coruche, mas pouco mais que isso. Os mais jovens, que frequentavam com regularidade o espaço, estão agora mais recolhidos em casa. “É difícil encontrar alguém disponível e responsável que queira assumir uma direcção”, lamenta Vítor Carapau. A actividade da Juventude Estrela Salgueirinha está assim suspensa e o seu futuro comprometido.