Estou em meditação à beira-mar. Passam passarinhos e passarinhas e eu meramente contemplativo. As ondas batem na areia e não há polícia por perto para levantar qualquer auto por violência doméstica. Encaro a realidade em vez de a viver através dos vídeos postados na internet. E desde já te aviso que postar, neste caso particular, não é cortar às postas, embora nalguns casos isso se justificasse. Aqui nesta bela praia da zona de Peniche as mulheres são fantasticamente verdadeiras. Algumas têm barriguinha, outras celulite, outras estrias. Os homens são peludos e barrigudos, embora alguns, como eu, tentem, sem qualquer sucesso, encolher a barriga quando passa alguma jovem mais interessante.Viver a vida através da internet deve ser interessante, divertido e maravilhoso, a avaliar pelos minúsculos relatos que vou lendo com cada vez mais dificuldade uma vez que agora as frases tweetadas - e não twistadas como gostas de dizer por ainda seres do tempo do Twist - para além de serem gatafunhadas em sílabas de consoantes, passaram a respeitar o novo acordo ortográfico. Confesso que também ganhei o gosto pelos vídeos virais. Esta semana já apanhei três viroses de caixão à cova e não foi nenhuma com uma tal Sara Sampaio que toda a gente suspira por ver vestida.A água do mar é gelada, as ondas são apenas para surfistas e ao fim-de-semana chegam camionetas de excursão cheias de rurais com moçoilas bastamente tatuadas, com unhas de gel de cores berrantes e biquínis de marcas contrafeitas iguais aos das artistas dos programas de Verão das televisões. É um espanto vê-las mas ouvi-las é muito mais entusiasmante. Seres frágeis com direito a comissões de igualdade de género que debitam palavrões que eu nunca pensei existirem a uma velocidade de bólide de Fórmula Um.Vejo por aqui muita gente do nosso Ribatejo mas com muito menos roupa. O que se nota mais é a diminuição em altura das mulheres. Descobri que a praia as encolhe. Em Santarém, Almeirim, Entroncamento, Torres Novas ou Cartaxo são umas torres de metro e oitenta ou quase. Chegam aqui e não medem mais que metro e meio. Quando trocam as calças elásticas pelo biquíni também alargam. É o regresso total à sua natureza. Eu gosto da praia. Sempre gostei, tirando os escaldões e a areia nos calções. Encontro tipos que só tinha visto de fato, gravata ou mesmo com roupinha e ténis de marca e fico mais descansado. É a democracia Serafim. Só tenho pena que a campanha eleitoral não passe pelo areal. Era tão bom ver os nossos candidatos e as nossas candidatas pelo círculo eleitoral de Santarém a apelarem ao voto nas praias que os eleitores da região costumam frequentar. Nazaré, Baleal, S. Pedro de Moel, S. Martinho do Porto, Pedrógão, Vieira de Leiria. Isso é que era. Arruadas à beira mar com bombos e gaitas de foles...se tropeçares em algum dá-lhes a sugestão. Deves estranhar eu não comentar as incidências políticas dos últimos tempos. Estou a dieta, companheiro. O médico proibiu-me o consumo de tudo o que faça gases. Eu cumpro à risca. Não vejo tempos de antena na televisão nem abro jornais. Se já houvesse votos pela internet eu deixava ser o sistema a pôr a cruzinha ao calhas, como no site da Santa Casa da Misericórdia. Se deixo que o sistema decida se vou ser milionário porque não hei-de deixar que decida quem me vai esmifrar mais em impostos.Fico por aqui para te poupar a trabalheira de ler mais um ou dois parágrafos. Vê se podes dar cá um salto no fim-de-semana para uma caldeirada. Já agora traz umas garrafinhas daquele mesmo bom, de Alcanhões. Cardeal D. Guilherme Reserva de preferência...e protege-te do sol.Saudações refrescantesManuel Serra d’Aire