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“Presidente da Junta de Alverca precisa de aprender a ser humilde e a lidar com a crítica”

“Presidente da Junta de Alverca precisa de aprender a ser humilde e a lidar com a crítica”

Manuel Domingos Lourenço, 73 anos, é um autarca desiludido com a política

É um rosto conhecido em Alverca. Manuel Lourenço foi militante do PCP mas abandonou o partido desiludido com os jogos de bastidores e as facadas nas costas. Não gosta que pensem pela sua cabeça. Integrou quatro executivos da junta de freguesia e no último mandato serviu no executivo de Afonso Costa como independente. Diz que o presidente da junta tem de ser mais humilde e aprender a ouvir o povo.

O presidente da União de Freguesias de Alverca e Sobralinho, Afonso Costa (PS), precisa de aprender a ser mais humilde, saber escutar as pessoas e lidar melhor com a crítica. A opinião é de Manuel Domingos Lourenço, 73 anos, um rosto conhecido em Alverca e com um percurso vasto na vida política e associativa da cidade.Manuel integrou quatro executivos da junta e no mandato anterior serviu ao lado de Afonso Costa na gestão da junta. Está a cumprir o seu último mandato como independente eleito pela bancada do PS na assembleia de freguesia. Hoje diz que um presidente não se faz em dois dias e que não há políticos bons se não forem bons como homens.“O Afonso precisa de aprender a ser mais humilde e a saber lidar com a rua. Tive um presidente de junta comigo que também não era humilde mas andava todos os dias na rua com um caderno e sabia de tudo o que se passava. Na gestão de uma autarquia isto tem muito valor”, defende a O MIRANTE. O autarca nota que falta ao presidente de Alverca a capacidade para ter “abertura” às opiniões dos colegas de executivo. “É preciso saber ter abertura para opiniões diferentes e ouvir o que não se gosta. Nem toda a gente está disponível para isso”, confessa.Manuel Lourenço confessa-se um desiludido da política e diz que partidos “nunca mais”. Não gostou do que viu durante a sua passagem pela militância no PCP, sobretudo dos jogos de bastidores, das intrigas e das facadas nas costas. “As autarquias mudaram e muita gente já só fala pela gravata que tem ao pescoço. É preciso uma grande varridela à política nacional e local”, defende. Saiu do PCP desiludido sobretudo com as pessoas. Garante que continua a ser um homem de esquerda mas não gosta que pensem pela sua cabeça.“Gosto de ser livre para decidir o que penso”. Foi eleito para a Junta de Alverca pela primeira vez em 1979, quando não havia dinheiro para nada. “Hoje em dia têm condições para fazer coisas que eu nunca tive”, recorda. Garante que vai cumprir o mandato até ao fim mas que será o seu último. Vê com tristeza não haver em Alverca uma oposição eficiente capaz de marcar a diferença. “O combate político deve ser feito por pessoas com qualidade. E o que vejo nas assembleias de freguesia é uma pobreza de debate, sobretudo da oposição. Acho que essa pobreza não leva a lado nenhum e os membros que a compõem deviam pensar muito bem na estratégia se querem ganhar a junta. Não vejo nas pessoas que lá estão grandes alternativas”, lamenta.Manuel Lourenço entende que a CDU perdeu a Junta de Alverca e a Câmara de Vila Franca de Xira em 1997 por excesso de confiança. “Ninguém acreditava que íamos perder para a Rosinha. Mas as pessoas fartaram-se e desligaram-se. Quando as coisas começaram a estar feitas, e eram precisas obras de encher o olho, adormecemos e não conseguimos ir para a parte visível das obras, o que deu vantagem ao PS”, entende.O autarca diz ter uma boa opinião de Maria da Luz Rosinha e considera-a uma pessoa activa e determinada, que deixou marca na cidade. Mas, confessa, não eclipsou o trabalho de Daniel Branco. “O Branco foi um dos convencidos que nunca ia perder e por isso foi um dos derrotados”, vinca.“Luís Filipe Vieira deu muito ao FC Alverca”Além da política Manuel Lourenço integrou também a direcção do Futebol Clube de Alverca (FCA) na altura em que era presidente Luís Filipe Vieira, hoje presidente do Benfica. Diz que o dirigente não deve um pedido de desculpas ao clube mas gostava que ele se voltasse a sentar à mesa com os actuais dirigentes do FCA para encontrarem formas de melhorar o clube. Na altura diz ter percebido que o clube estava a “dar passos maiores que as pernas” mas que o grande trabalho feito justificou-o.“O Luís, com tanta entrevista que tem sido dada, também se sentiu magoado com várias situações, muitas delas que não correspondem à verdade. Ele foi um homem que trabalhou e deu muito ao Alverca, refere.O ex-dirigente diz que a dívida do clube “é uma fantasia” e que a mesma dizia apenas respeito ao centro de estágios. “Nunca tivemos a percepção que a Turiprojecto ia falir, tínhamos sempre a ideia de ser uma empresa robusta e com solidez. O centro de estágios tem muito dinheiro lá investido, no subsolo, há muito cimento lá debaixo, há campos marcados, há muita coisa feita. Muito trabalho que não está à vista”, conta.Orçamento participativo precisa de mudarManuel Lourenço diz que o orçamento participativo em Vila Franca de Xira tem de mudar e na última reunião de câmara fez questão de ir dizer isso mesmo ao presidente da câmara, Alberto Mesquita (PS). Na edição deste ano as colectividades também podem concorrer e, lamenta, a luta é desigual porque as colectividades têm mais meios de promover os seus projectos.“A ideia é aproximar as pessoas das decisões políticas mas isto só afasta. As pessoas sentem-se desiludidas porque sabem que não vão conseguir ganhar projectos por causa da concorrência das colectividades. Não tenho nada contra as colectividades e até compreendo as suas necessidades, o problema é concorrerem contra nós de forma desigual”, lamenta. Manuel sugere mesmo que no próximo ano se divida a verba entre associações e moradores, para que os projectos das associações não eclipsem os projectos dos cidadãos. O presidente do município, Alberto Mesquita (PS), concordou e defendeu que no próximo ano essa matéria seja revista. Manuel Lourenço apresentou uma proposta para requalificar dois espaços degradados da cidade, a praceta 1 e 2 da Quinta das Drogas. Para votar basta enviar um SMS (gratuito) para o número 3302 com o código MVF015[espaço]OP16.De pára-quedista a empregado bancárioManuel Domingos Lourenço nasceu a 5 de Maio de 1942 no concelho de Mértola. Filho de pai mineiro e mãe doméstica, foi para Lisboa aos 14 anos trabalhar. O seu primeiro emprego foi na Junta de Emigração, na rua da Junqueira, a ajudar os colonos que iam para África a tratarem dos documentos e das vacinas.Aos 18 anos entrou como voluntário para os pára-quedistas. Foi o número 1014. Embarcou a 17 de Abril de 1961 para a guerra onde fez sobretudo operações de vigilância. Passou à disponibilidade em Moçambique, onde conheceu a mulher. Tem duas filhas e dois netos. Começou a trabalhar no Banco Nacional Ultramarino (entretanto absorvido pela Caixa Geral de Depósitos). Veio para Portugal onde esteve nos balcões de Beja, Almodôvar, Benavente, Vila Franca de Xira e Lisboa. Reside em Alverca há 36 anos e diz que falta mais vida à cidade, sobretudo para ocupar os mais jovens. Não acha que Alverca deva ser sede de concelho mas defende uma maior instalação de serviços na cidade. Diz que seria uma mais-valia se o Tribunal do Comércio fosse instalado em Alverca e a escola da Armada deveria ser ocupada com uma universidade.Tem carro mas anda sempre de transporte público e ia sempre de comboio para o trabalho. Faz as compras e toda a sua vida em Alverca, onde a mulher tem um quiosque. Está a ler uma colecção sobre a guerra em África e é benfiquista. Gosta de cante alentejano.
“Presidente da Junta de Alverca precisa de aprender a ser humilde e a lidar com a crítica”

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