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“Só se lembram da agricultura quando a crise bate à porta”

“Só se lembram da agricultura quando a crise bate à porta”

Rui Igreja, 46 anos, técnico da Associação de Agricultores da Charneca

Rui Igreja vive em Abrantes, mas trabalha há mais de vinte anos na Associação de Agricultores da Charneca na Chamusca. Define-se “meio abrantino, meio chamusquense”. Cresceu em contacto com a agricultura e não teve dúvidas na hora de escolher o curso de Produção Agrícola. Assume-se como um grande defensor da agricultura e considera que este sector se torna uma “moda” em tempos de crise. Adora o que faz mas confessa que gostaria de ter mais tempo para estar com a família.

Sou metade abrantino, metade chamusquense. Nasci e cresci em Abrantes e continuo lá a viver mas como trabalho na Chamusca há mais de 20 anos sinto-me um bocadinho chamusquense também. Tive uma infância e adolescência muito felizes em Abrantes rodeado de amigos e família e essas foram das melhores alturas da minha vida. Quando somos pequenos não temos grandes responsabilidades (risos).Depois de casar pensei ir viver para a Chamusca. Agora é mais complicado porque os meus filhos começam a ter as suas raízes e amigos em Abrantes, mas a vida passa a correr e qualquer dia quando der por mim eles já têm as suas vidas. Daqui a uns anos, quem sabe, porque não mudar-me para a Chamusca? Identifico-me muito mais com esta paisagem, a lezíria, a calma da vila. Abrantes tem mais população e mais serviços, como o hospital e o tribunal, mas não há uma diferença abismal entre as duas localidades.Nunca tive crises existenciais nem indecisões quanto à área que queria seguir no futuro. Os meus pais sempre estiveram ligados à agricultura e eu cresci naturalmente nesse meio. Estudei Produção Agrícola na Escola Superior Agrária de Santarém e a experiência de faculdade foi óptima. Diverti-me muito, aprendi bastante e fiz grandes amigos. Assim que acabei o curso comecei a estagiar na Associação de Agricultores da Charneca (ACHAR) e fiquei até hoje. A minha experiência na tropa não foi muito boa. Tive de interromper a faculdade durante um ano para cumprir o serviço militar obrigatório e andei lá sempre um bocado revoltado. Sentia que estava a ser um tempo perdido. A recruta na Escola Prática de Cavalaria de Santarém foi de facto mais dura mas de resto andei a “passar o tempo”, literalmente. Não me senti nada útil à Pátria (risos).A agricultura torna-se uma moda em tempos de crise. De repente parece que se faz luz e as pessoas percebem que o sector primário é fundamental. Estas modas surgem principalmente em tempos de crise porque há uma maior sensibilidade e uma tentativa, sobretudo dos mais jovens, de procurarem alternativas. Definitivamente é pelos jovens que passa o futuro da agricultura. Eles são mais irreverentes e curiosos e têm sempre a tendência de tentar incorporar novas tecnologias no sector.Adoro o que faço e não me consigo ver em qualquer outra profissão. Levanto-me todos os dias às 06h30 da manhã e por volta das oito horas já estou na Chamusca. Estou pelo escritório e ando por outras zonas do país a contactar com várias realidades do mundo agrícola. Sou uma pessoa responsável, empenhada e muito confiante do que quero a nível profissional. Quando comecei a trabalhar com um GPS foi um espanto. Há vinte anos, não existiam os meios informáticos e as tecnologias que há hoje. Agora um GPS é algo banal mas na altura era um equipamento muito importante a que poucas pessoas tinham acesso.Durante a semana chego a casa por volta das oito da noite. Durante a semana não estou muito tempo com a família mas dedico-lhe todos os meus tempos livres. Gosto de jogar ténis com os meus filhos e faço algumas caminhadas com a minha esposa. Gosto também de ler sobretudo livros sobre história. Em casa faço algumas tarefas domésticas que são necessárias mas confesso que odeio cozinhar (risos). Sou uma pessoa divertida e também adoro estar com os meus amigos ou ir jantar fora. Às vezes combinamos uns jantares de amigos de liceu.Assumo-me como um grande defensor da agricultura. É a agricultura que promove a essência do ambiente e da biodiversidade e até do ponto de vista social favorece a fixação das populações e cria emprego. A agricultura tem a grande virtude de fixar pessoas e dar vida ao mundo interior.
“Só se lembram da agricultura quando a crise bate à porta”

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