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A história de um soldado esquecido em “Adeus África”

A história de um soldado esquecido em “Adeus África”

O Professor Adriano Moreira apresentou o livro e marcou a sessão com alguns testemunhos que prenderam a assistência. João Céu e Silva volta aos escaparates, desta vez com um romance testemunho numa edição cuidada da editora Guerra & Paz.

João Céu e Silva regressou com um romance sobre a guerra colonial, intitulado “Adeus África- A História do Soldado Esquecido”. O livro conta uma história de amor e guerra que atravessa os vários cenários do conflito colonial e regressa a Portugal com Afonso, o soldado esquecido e principal personagem deste romance. “Adeus África - A História de um Soldado Esquecido” refaz o mundo brutal dos jovens que foram combater sem saberem o que lhes estava reservado, que era uma guerra onde matar inocentes ou morrer em emboscadas se tornavam situações triviais.O autor confessou no dia do lançamento do livro que a ideia para o romance nasceu de um trabalho jornalístico para o Diário de Notícias, realizado em Lisboa e em Lamego, que incluía muitas entrevistas a antigos militares. Com tanto material recolhido para uma reportagem, que num jornal nunca pode ser muito desenvolvida, João Céu e Silva resolveu partir para o romance. “Tudo o que está escrito neste livro é ficção. Se não aconteceu podia ter acontecido. Garanto que alterei todas as falas dos meus entrevistados”, disse Céu e Silva na apresentação de “Adeus África”, na livraria do Centro Comercial Plaza, com o espaço cheio de amigos, mais de metade deles de pé, com Lídia Jorge na assistência e o editor Manuel S. Fonseca ao lado do Professor Adriano Moreira, que apresentou o livro.“Adeus África” leva-nos ao dia dez do mês de Novembro de 1975 quando as últimas autoridades militares portuguesas abandonam Angola no paquete Niassa, horas antes da independência. O atirador especial Afonso está nas praias de Porto Amboim a vigiar a chegada de centenas de cubanos e não embarca no navio português que deixa para trás uma presença de quase cinco séculos. Afonso sobreviverá à guerra civil escondido durante onze anos até ser capturado e repatriado.O editor Manuel S. Fonseca reconheceu na leitura do livro muitos cenários e confessou que chegou a Luanda apenas alguns dias atrasado em relação à partida de Afonso. Mas foi o Professor Adriano Moreira que cativou a plateia contando a sua experiência em Angola antes do 25 de Abril de 1974, nomeadamente com a história de um oficial que, chamado a dar contas sobre o desaparecimento de muitos presos, confessou que tinha poucas munições e que, por isso, se via obrigado, pelo caminho, a usar armas brancas e assim eliminar os presos antes que eles causassem problemas.Adriano Moreira confessou que ouviu com horror a confissão do militar mas percebeu que naquele cenário era viver ou morrer. Contou ainda que reencontrou, 20 anos mais tarde, o mesmo militar numa viagem de trabalho a Viseu e que, ao perguntar-lhe sobre alguns factos, ele confessou não se lembrar de nada. “Os deuses foram bondosos com ele”, adiantou.Para Adriano Moreira este livro tem o mérito de individualizar a participação na guerra colonial o que leva a concluir que, “sobre esta guerra, jamais saberemos a história toda, o que torna o livro, embora romance, num testemunho pedagógico”.“Há guerra em todas as partes do mundo. Neste momento há trezentas mil crianças a combater com armas na mão. E não são eles que compram as armas. A falta de respeito pela vida humana ultrapassou todas as regras. A crueldade é grande mas ainda vai ser maior. Quanto mais se aposta no fabrico de armas e na sua sofisticação mais aumenta a crueldade porque numa guerra, a cada ano que passa, cada vez se vê menos o mal que se faz”, disse, olhando ora para o autor, ora para o editor, com as pessoas na plateia, literalmente, agarradas ao que ia contando e partilhando.Voltando aos anos anteriores ao 25 de Abril de 1974, Adriano Moreira reconheceu que o país não tinha qualquer conhecimento do que era a guerra nas antigas colónias portuguesas. “A ignorância sobre a realidade era geral. Por isso a vida dos jovens portugueses mobilizados para a guerra era ainda mais heróica, já que nem imaginavam o que os esperava do outro lado do mar”. Ainda sobre o passado e o papel colonizador do Estado Português, Adriano Moreira falou de impérios terceiro-mundistas que sempre existiram ao cimo da terra. E recordou o nome de países colonizadores como França e Inglaterra para depois afirmar que “Portugal, pelo menos, marcou a diferença ao criar condições para que exista ainda hoje uma CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) que é única no mundo”.
A história de um soldado esquecido em “Adeus África”

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