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A doença não lhe afectou a paixão pela fotografia

A doença não lhe afectou a paixão pela fotografia

Hilário David teve um AVC aos 26 anos e desde aí capta imagens só com a mão esquerda porque a direita ficou incapacitada
Hilário David é um fotógrafo amador fora do comum. Capta os instantes com a mão esquerda, não porque seja canhoto mas porque não pode utilizar o braço direito devido a um acidente vascular cerebral (AVC) durante a noite de 22 de Julho de 1996. O empresário de Almeirim, tinha 26 anos e hoje, aos 45 anos, continua a ter na arte de fotografar um escape, mostrando que com força de vontade é possível ultrapassar as limitações. Não só as físicas, como as de não existirem máquinas no mercado preparadas para a mão esquerda.O gosto pela fotografia surgiu ainda na adolescência, numa época em que só existiam máquinas de rolo. Sempre foi um autodidacta e tudo o que sabe sobre fotografia foi aprendendo com a prática e a ler manuais técnicos. Teve a sua primeira máquina fotográfica aos 16 anos: uma Pratika, comprada em segunda mão. Essa máquina acompanhou-o durante vários anos, inclusive na passagem na tropa como pára-quedista. Na tropa captou centenas de saltos de pára-quedas, que vendia aos oficiais depois de as revelar em Almeirim ao fim-de-semana. Também gostava muito de fotografar provas de motocross ou não fosse um jovem apaixonado por motas. Quando saiu do serviço militar comprou uma máquina digital.Com o infortúnio da doença, que o atirou para a cama do hospital onde esteve 28 dias em coma, a paixão da fotografia ficou adiada e as forças concentraram-se em recuperar alguma qualidade de vida. Quando acordou do coma não falava e a parte direita do corpo estava imóvel. Seguiram-se uma série de complicações, operações e longos internamentos em hospitais. Apesar das poucas esperanças por parte dos médicos, Hilário nunca desistiu de lutar. Fez mais de três anos de fisioterapia, reaprendeu a falar e a andar. “Chegou uma altura em que tive de me dar por vencido e aceitar as coisas tal como elas são”, confessa.Voltou a fotografar em 2010 e ao início foi “esquisito” habituar-se a não ter mão de apoio para fazer movimentos tão básicos como focar. Começou por utilizar um tripé mas foi-se habituando a dominar a máquina com a mão esquerda. “Agora tenho de saber o que vou fotografar antes de disparar para não perder a oportunidade de captar aquele momento”, refere. As “fotografias de rua” são as suas preferidas. Adora a genuinidade de cada detalhe, como um sorriso, o gesto carinhoso de um pai com um filho, as mãos de um idoso que escondem décadas de histórias de vida. Também se sente fascinado pelas paisagens. “A fotografia de paisagem dá uma outra liberdade porque posso explorar as funcionalidades da máquina e para mim é mais fácil porque utilizo o tripé”, conta. Utilizar lentes grandes, logo mais pesadas, tirar fotografias que implicam uma grande precisão e imagens em grande movimento são algumas das limitações que encontra. Não tem uma fotografia preferida e pensa sempre que a próxima vai ser melhor. Diz-se descontente ao ver a banalização em que a fotografia caiu nas redes sociais. Hilário David encontra na fotografia um escape para se evadir do mundo. Proprietário de um bar em Almeirim, passa o dia rodeado de pessoas e confessa que por vezes precisa de estar sozinho, apenas a fotografar e a reflectir sobre a vida. Hilário David pertence a dois grupos de fotógrafos do Ribatejo e Alentejo e de vez em quando junta-se a eles e parte em busca da liberdade da fotografia. Já alcançou um 3º lugar num concurso de fotografias sobre Santarém e até foi vítima de plágio de um fotógrafo amador que concorreu com uma fotografia da sua autoria. “Fotografar é a minha terapia e quando a fotografia já não der, vou saltar de pára-quedas e fico feliz”, confidencia.
A doença não lhe afectou a paixão pela fotografia

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