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Festa de Verão não é festa sem frango assado e bailarinas jeitosas a dar à anca

Festa de Verão não é festa sem frango assado e bailarinas jeitosas a dar à anca

Sofia, Catarina e Alexandra em tons de Ivete Sangalo na Festa do Pombalinho

Os músicos podem dar umas notas ao lado e os cantores podem sair do tom de vez em quando que ninguém nota. Mas uma festa popular sem bailarinas jeitosas e suculentas de perna à vela e a dar à anca em coreografias exótico/eróticas é que não é festa nem é nada.

Elas abanam as ancas, levantam e baixam as pernas, rodopiam, agitam os braços em coreografias melhor ou pior ensaiadas. Vestem roupas justas e curtas que não tapam muita coisa porque, como diz o povo, o que é bom é para se ver. Não há cantor nem cantora de festas populares que abdique de bailarinas. Duas, três, quatro o máximo, porque os palcos não são muito grandes. No Pombalinho, concelho da Golegã, na noite de 22 de Agosto, sábado, no pequeno palco instalado no fundo seco da alverca (terra alagadiça) de Fernão Leite, de frente para a ponte que esteve para ser demolida mas que foi recuperada (ver caixa), subiram ao palco dois músicos, duas bailarinas e a cantora Sofia Campos que, tal como muitas cantoras pop famosas, também participou nas coreografias.Sofia Campos é do concelho de Almeirim. É estudante mas quer ser artista. Canta mas também dança. Se houver possibilidade de subir a um palco não hesita. Na festa do Pombalinho teve a seu lado Catarina Cardoso e Alexandra Paixão e é de paixão que se faz o que elas fazem. Animam festas, tentando imitar em palco os artistas com “A” grande. As três amigas do concelho de Almeirim actuam com o nome “Sons do Ribatejo”. À volta do palco, num plano elevado, estão as mesas e cadeiras de plástico branco onde as pessoas se sentam para jantar. Há mesas em cima do tabuleiro de madeira da ponte, nas margens da alverca, ao mesmo nível e dois metros e meio mais abaixo e a alguns metros dos artistas. O espaço livre é para alguns pares que vão dançando. Foram trazidas luzes e holofotes para iluminar o recinto que fica junto a uma curva da Estrada Nacional 365, fora da zona urbana, na direcção de Santarém.Ainda vestidas como quaisquer outras jovens da sua idade, sobem ao palco para uma verificação do som e para ensaiarem alguns passos de dança. Têm que tirar as medidas à boca de cena para não tropeçarem em nada nem correrem o risco de caírem dali abaixo. Anda cheiro de carne assada no ar, principalmente de frango assado. Passa pouco tempo das sete da tarde e no fim do ensaio o grupo vai jantar. Os dois músicos que vão acompanhar Sofia têm o seu próprio espectáculo. Serão eles a actuar primeiro.Alexandra Paixão e Catarina Cardoso são estudantes. Começaram a dançar em palco desafiadas por Sofia Campos. Gostam do ambiente dos espectáculos e do convívio com os músicos. Nenhuma tem formação em dança. As coreografias são inspiradas em aulas de dança que vêem no youtube, principalmente em vídeos brasileiros. Os ensaios são em casa e onde calha. Sofia Campos é uma admiradora da enérgica cantora brasileira Ivete Sangalo, considerada a Rainha do Axé, um género de música da zona de S. Salvador da Baía. Durante o espectáculo cantará algumas músicas da Diva e usará um body com mangas e uma capa a imitar o que ela usou num dos espectáculos de 2014 disponibilizados na internet. Os bodys que mandou fazer para as bailarias são também imitação dos das bailarinas da baiana. Lilás e preto, muitos brilhantes e fecho de correr à frente. Os sapatos, como não podia deixar de ser, são de tacão bem alto.“É body-cueca com manga comprida”, explica Sofia Campos, dizendo que a roupa que mandou fazer de propósito vai ser estreada naquela noite. Acrescenta a sorrir que todas têm que ter cuidado com a alimentação para continuaram a caber dentro das roupas que são “muito justinhas”. Isso não as impede de atacarem hambúrgueres em vez de iogurtes magros, à hora do jantar.Elas sabem que os espectadores mais atrevidos gostam de ver “chicha” e que as bocas começam quando alguns já beberam uns copos a mais. “És boa”, “Papava-te toda” ou “Tira a saia” são coisas que não irão ouvir no Pombalinho. A maior parte do público é composto por pessoas de mais idade que estão em família. Ninguém se aproxima do palco a não ser um ou outro par de pessoas de idade. Mas os comentários entre amigos não faltam. O MIRANTE ouviu um senhor bem disposto dizer para os amigos: “O material é bom mas devia ser como o melão, devíamos ter direito a apalpar para ver se está maduro”. O grupo sublinha o dito com gargalhadas.Não há camarins para os artistas e há que improvisar. Reúnem-se junto à mala do carro em que vieram. Sofia Campos vai maquilhando Catarina Cardoso ajudada pela luz do telemóvel de Alexandra Paixão. Na carrinha onde se vestem também não há luz. Perto das onze da noite sobem ao palco e são recebidas com aplausos. O senhor que gosta de apalpar melões recosta-se na cadeira com cuidado, não vá a mesma dar de si, e bebe mais um gole da cerveja. A noite está um pouco fria mas é só enquanto não começam a actuar. O grupo ataca “Sinto Falta dela”, dos brasileiros Carlos & Jader, depois, Balada Boa, Morena Kuduro, Elas ficam loucas, Ai se eu te pego... e pouco a pouco, a coisa... começa a aquecer!.“Ponte do Pau” foi salva para preservar “memórias”Chamava-se Ponte do Pau porque foi originalmente feita, em 1895, toda em madeira. Mais tarde, por volta de 1900, foi refeita em pedra. A população chamava-lhe também “ponte velha”. Integrou o traçado da Estrada Nacional 365 e foi desactivada em 1986 quando a estrada foi reformulada. Ficou ao abandono desde essa altura e foi-se degradando. Em 2010 a Junta de Freguesia do Pombalinho, que ainda pertencia ao concelho de Santarém, iniciou diligências em conjunto com a câmara para evitar a ruína total da estrutura. A gestão da ponte foi-lhe entregue pela Estradas de Portugal e, em 2015, com fundos próprios (60%) e do PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural), a junta de freguesia fez obras de recuperação no valor de 20 mil euros, criando também um espaço de lazer na zona envolvente da alverca. A inauguração foi a 25 de Abril deste ano e a festa foi feita para marcar o reencontro dos habitantes com um lugar onde muitos brincaram na infância e namoraram na adolescência e idade adulta. O momento teve duas originalidades. Foi a primeira vez que a ponte foi iluminada à noite para permitir a permanência de pessoas e o palco foi montado no leito seco da alverca de Fernão Leite, devido a dois anos sucessivos de Invernos pouco chuvosos.“A reconstrução da ponte não vai mudar em nada a nossa vida mas é um orgulho vê-la assim arranjada. Quando era miúdo mergulhei muito aqui de cima e no Verão era aqui que tomávamos banho. Espero que daqui a 100 anos continue arranjada para que os mais novos a vejam assim”, disse a O MIRANTE João Condeço, um natural do Pombalinho de 60 anos de idade.O presidente da junta de freguesia, Luís Filipe Júlio, diz que, quando houver dinheiro, vão ser colocados dois candeeiros de iluminação pública de cada lado da ponte e que também tem intenção de colocar no local um chafariz com água potável.
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