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Paraíso dos emigrantes em Ourém não tem mar mas sim uma ribeira baixinha e fresca

Paraíso dos emigrantes em Ourém não tem mar mas sim uma ribeira baixinha e fresca

Parque de Merendas de Casal dos Bernardos, em Ourém, é muito procurado no Verão

Famílias reúnem-se no local sobretudo aos fins de semana para, entre petiscos e conversas, conviver em contacto com a natureza. Agosto é o mês alto da estação.

Vítor Castelão, 50 anos, prepara as costeletas e as entremeadas para meter nas brasas do grelhador do parque de merendas de Casal dos Bernardos. É hora de almoço e o emigrante nos Estados Unidos da América, no estado de Connecticut, aproveitou para passar a sexta-feira, 21 de Agosto, no espaço do concelho de Ourém já conhecido como um pequeno paraíso para os emigrantes e gentes das redondezas. A transparente e fresca ribeira da Salgueira corre calma e baixinha. Só no espelho de água a montante a água chega aos joelhos. As filhas de Vítor, Ana Rita Castelão, 19 anos, e Mariana Castelão, 25 anos, esperam que a carne esteja pronta. Entre uns “yah” e “right” pelo meio do português, o emigrante diz que o parque de merendas é um bom espaço para reunir a família, passar um dia agradável e matar saudades da terra de onde saiu há 20 anos. Não faz parte dos planos de Vítor regressar a Portugal. O seu objectivo é ser cidadão americano. O carpinteiro que faz armários de cozinha confessa que a vida nos “States” “é muito boa e há muitas oportunidades”. Mas o sonho americano “é só para quem trabalha, para quem não trabalha não há sonho que resista”. A filha mais velha de Vítor, Mariana, é enfermeira e Ana Rita estuda medicina dentária.Um dos familiares de Vítor presentes no convívio é Amílcar Oliveira, 61 anos, que acabou de se reformar e volta para Portugal no fim deste ano. Amílcar emigrou para Paris a 20 de Agosto de 1970, no dia em que fez 16 anos, mas nunca gostou de França e foi enganado quando partiu. “Disseram-me que ia passar umas férias a Espanha mas eu via a minha mãe e a minha avó a chorar e estava a achar tudo muito estranho. No caminho o meu pai disse-me que afinal íamos para França para me livrar à tropa e fiz a minha vida naquele país. Não me posso queixar da reforma que tenho, cerca de 4100 euros”. A mulher de Amílcar também vai regressar com o marido. “Ainda não está em idade de reforma, mas larga tudo para vir comigo, sempre sonhei com este dia”, conta com brilho nos olhos. Durante o almoço surgem as histórias, entre tilintar de pratos e talheres e embaladas pelo som dos pássaros. Amílcar conta que trabalhou no Kuwait, onde o álcool é proibido. Chegou a ir comprar uvas e fazer o próprio vinho, mas “aquilo sabia tão mal” que desistiu. Trabalhou numa empresa de combustíveis e conseguiu meter recipientes com vinho dentro dos depósitos dos camiões. Alguém deve ter denunciado a situação e a partir dum certo momento “os nossos camiões eram todos passados a pente fino”, conta aos familiares às gargalhadas. Noutra mesa mais perto da pequena ribeira está uma família de emigrantes em França. A matriarca Maria Luísa, 60 anos, aproveita para matar saudades das sardinhas assadas, que só come quando vem a Portugal. Não se atreve a assar sardinhas em Paris, porque “os franceses começam logo a olhar para mim de lado”, conta com pronúncia afrancesada e olhos atentos na salada de tomate e alface que está a temperar. Na mesa está o marido, Silvério Lopes, 62 anos, a filha Severine Lopes, 34 anos, que não se considera “nem portuguesa nem francesa mas sim europeia”, e o genro, que só fala francês. Melhores condições que na praiaE porque decidiram passar o dia no parque de merendas e não na praia? “Porque aqui conseguimos estar o dia todo e na praia não. Aqui está fresco, temos sombra, temos todas as condições para poder fazer o almoço e também temos a água da ribeira, que não dá para tomar banho mas dá para refrescar”, refere Maria Luísa. O parque de merendas de Casal dos Bernardos é um “ex-libris da zona” como diz Sérgio Fernandes, ex-presidente da extinta junta de freguesia de Casal de Bernardos, que agora faz parte da União de Freguesias de Rio de Couros e Casal dos Bernardos. O ex-autarca explora o bar do parque de merendas que durante a semana tem muita afluência e ao fim-de-semana enche. O terreno, cheios de árvores, é propício a brincadeiras de crianças e jovens. Não se encontram jovens a jogar PlayStation ou em tablets. Os telemóveis também ficaram arrumados. O tempo é passado a comer, a conversar, a jogar petanca e a molhar os pés na ribeira que nasce na Salgueira de Cima e desagua no rio Nabão. O parque, a que se acede por uma estrada de terra batida, fora do centro da localidade, tem capacidade para cerca de 400 pessoas, tem bar, grelhadores, casas de banho.
Paraíso dos emigrantes em Ourém não tem mar mas sim uma ribeira baixinha e fresca

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