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Uma peça de teatro onde público é convidado a participar na festa de casamento da história

Uma peça de teatro onde público é convidado a participar na festa de casamento da história

Grupo Fatias de Cá apresenta “Viriato” aos sábados junto ao Castelo de Almourol
Ao caminharmos para a sala de teatro improvisada, no cais fluvial de Praia do Ribatejo, concelho de Vila Nova da Barquinha, observamos o cenário da peça que tem o Castelo de Almourol e o rio Tejo como pano de fundo e vista privilegiada. É ali que todos os sábados, ao final da tarde, até Setembro, o grupo de teatro Fatias de Cá, está a representar a peça “Viriato”. Uma história que se passa em 147 aC (antes de Cristo) e conta alguns episódios que deram origem ao povo que somos hoje. Os espectadores sentam-se nas escadas do cais. O tempo está ameno, apesar das nuvens escuras que ameaçam estragar o programa.Do lado nascente vem um cheiro a carne assada. Mais tarde sabemos que é para a refeição em grupo a meio do espectáculo. Ali não há camarins e os actores andam de um lado para o outro a preparar tudo para começarem o teatro a horas, às 19h19. Os seis cavalos, que os actores montam durante a representação, estão presos na descida para o cais quase junto à água. Alguns dos actores, já vestidos a preceito, encaminham o público para o auditório ao ar livre. No último sábado, dia em que fomos conferir o êxito de “Viriato”, encenado por Carlos Carvalheiro, o espectáculo começou à hora prevista. A música, com sons que nos transportam para tempos medievais, é o sinal de arranque do espectáculo. Apesar do pouco caudal do rio Tejo só é possível aceder ao Castelo de Almourol de barco. Em cima das pedras que dão acesso ao castelo, com um pequeno regato de água pelo meio, está o narrador da peça, todo vestido de branco. A história, baseada no romance de João Aguiar, é contada por Tongio, o sacerdote guardião do santuário de Endovélico. Já muito idoso, justifica o contar da história para que o “futuro não apague da memória os homens que ofereceram o seu sangue pela liberdade”. Vai contando as histórias de guerras naquele tempo em que os guerreiros lusitanos lutavam contra o império romano.A história vai-se desenrolando e prendendo os espectadores. Os imprevistos fazem parte deste espectáculo ao ar livre com actores amadores que são melhores que alguns profissionais. Numa das cenas um dos cavalos “recusou-se” a sair de cena e o jovem actor que o montava não o conseguia tirar dali, apesar das inúmeras tentativas. O actor Paulo Moura, que na peça interpreta a personagem Audax, regressou ao palco com a sua montada e, como se fizesse parte do seu papel, levou o cavalo teimoso para os bastidores. Uma situação aplaudida pelas cerca de cem pessoas que assistiam ao espectáculo no sábado, 22 de Agosto. Várias vezes durante o espectáculo a presença da linha do comboio altera o ruído de fundo e as vozes dos actores parece que também viajam ao tempo de Viriato.Casamento é o ponto altoA cena do casamento de Viriato com Tangina é o momento alto da peça. É nessa altura que os noivos saem de cena e um dos actores convida o público para fazer parte do banquete que assinala aquele dia de festa. Várias mesas, com panos brancos, são colocadas junto ao rio e não falta comida da época. Carne de javali, pão caseiro e salada de tomate e pepino. Vinho e uma espécie de tarte de legumes também fazem parte do cardápio. Só as batatas fritas de pacote estragam o cenário da mesa que nos quer remeter para muitos séculos atrás. Nada que o jeitinho dos actores e as roupas da época não disfarcem quando começam a servir o público durante o intervalo. O momento é de descontração e o público troca impressões e sorrisos com os actores. A maioria parece satisfeita e agradada com o trabalho do Fatias de Cá. Há pessoas que vieram de Tomar, Santarém e Lisboa. Todos os sábados “Viriato” mobiliza espectadores de todo o país. Enquanto os convivas desfrutam do banquete, um pequeno barco leva um grupo de actores, todos vestidos de branco, para o castelo. Meia hora depois da pausa para aconchegar o estômago começa a segunda parte. Nessa altura já a noite caiu e as nuvens estragam o luar que iluminava o Almourol. Um grupo de crianças, que integra o espectáculo teatral, segura tochas que iluminam os actores. Um holofote é ligado de vez em quando para dar mais realismo a certas cenas. O espectáculo termina depois da morte de Viriato, assassinado à traição, e com um espectáculo de luzes e tochas de fogo nas muralhas do Castelo e na outra margem do rio. No final, os actores, ainda com a roupa dos personagens, confraternizam com os espectadores e tiram fotos com quem as solicita. Tal e qual como os actores de Hollywood. Só que no Castelo de Almourol, entre Tancos e Constância, com actores que fazem do Fatias de Cá um caso de sucesso fora dos grandes centros como Lisboa e Porto.
Uma peça de teatro onde público é convidado a participar na festa de casamento da história

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