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Entrar na loja do senhor Claudino é recuar meio século no tempo

Entrar na loja do senhor Claudino é recuar meio século no tempo

Comerciante mais antigo de Samora Correia continua a ter clientela fiel

A sua drogaria já leva 49 anos e quem nela entra tem a sensação de um regresso às lojas do antigamente. Apesar da preocupação com o crescente número de lojas de chineses na zona, Claudino Serrano não pensa em fechar o estabelecimento e diz que os clientes e fornecedores são como família.

Entrar na loja do senhor Claudino Serrano, na principal avenida de Samora Correia, é como entrar numa máquina do tempo e regressar a meados do século XX, às lojas onde tudo era vendido a peso ou à unidade. O tecto forrado a madeira pintada de cor creme, o balcão escuro já coçado pelos anos de uso, o cheiro das ceras expostas nas velhinhas prateleiras de madeira, tudo remete para um tipo de comércio que se perdeu no tempo.“Estou aqui há 49 anos. Fui sempre empregado de balcão, estive 18 anos noutra casa mesmo aqui em frente”, conta, com o orgulho de quem sabe que nasceu para fazer o que faz. “Aqui não estou só a vender. Converso com as pessoas, aconselho-as sobre os produtos. Tenho aqui uma família. Desde clientes a fornecedores, todos me ajudaram quando me quis estabelecer. Acho que é porque trato as pessoas da melhor maneira possível, algo que me é natural. Quando dou a minha palavra de que, por exemplo, uma coisa está pronta, está. Nem que passe a noite toda a trabalhar”, afirma, orgulhoso o dono da Drogaria Serrano.A conversa é interrompida por clientes que obrigam Claudino, de 78 anos, a trepar, com a destreza de um rapaz novo, as prateleiras. Pé no balcão, outro na prateleira, vai direito ao produto. Sabe onde está tudo no meio de uma aparente desorganização. “Vendo de tudo. Se houver um cliente que queira determinada quantidade de algum produto que não tenho, arranjo sem problemas”, garante. Foi o que aconteceu ainda mal a conversa com O MIRANTE tinha começado. Chegou um cliente para levar só 40 gramas de pregos de cabeça curta. Acabou por sair também com um forro de gaveta, pois para vender Claudino tem mestria. “Trabalhei com empregados e com a minha mulher, ainda hoje o meu braço direito. Tivemos uma luta feroz no princípio de vida, muitas vezes íamos para casa às 5 da manhã e às 9 já cá estávamos. Não penso meter cá ninguém. Para rapaz novo já basto eu (risos)”, brinca. Apesar do optimismo, Claudino reconhece que os tempos não são fáceis para o comércio tradicional. À crise e ao desemprego que deixam as pessoas sem dinheiro junta-se, sobretudo na área de Samora Correia e Porto Alto, a feroz concorrência das lojas chinesas. “Há dezenas e vai haver mais. Prejudica, porque o que eles vendem já nós não vendemos. Mas há sempre uns orifícios invisíveis que só quem sabe é que pode explorar. Não penso que me roubem negócio. Alguns vêm cá comprar porque reconhecem que têm lá mas não presta”, atira.Mesmo com a idade e um neto de um mês que já lhe vai ocupando tempo, Claudino não pensa fechar a loja. “Gosto de aqui estar e, além disso, não seria fácil porque isto está tudo organizado por um sistema que inventei e que não divulgo”, justifica.Entra outro cliente para levar três metros de rede mosquiteira e uma outra cliente para pedir três dúzias de colheres de café. São as festas de Samora e o movimento nas ruas aumenta com a presença de emigrantes. “Há mais clientes de ocasião. Não tenho muita curiosidade com as festas. Vejo a procissão, mas as largadas não. Esta alteração de data por causa de um programa de televisão prejudica muito os emigrantes que costumam cá estar no dia 15 de Agosto. Se a festa costuma ser nessa data, a televisão é que tem de se adaptar e não o contrário, como aconteceu aqui”, critica.
Entrar na loja do senhor Claudino é recuar meio século no tempo

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