Há nove anos tive um grave acidente de moto 4 que me deixou de baixa dois anos. Sou Engenheiro Técnico Civil e fazia direcção de obras. Depois do acidente mudei a minha área profissional por acaso. A minha esposa já trabalhava na área da gestão de condomínios e como não tenho feitio para estar parado, enquanto estive de baixa ia ajudando a dinamizar a empresa e a criar as equipas de limpezas. Depois passei a administrar a empresa, o Espaço Condomínio, que já existe há dez anos.O mais difícil é gerir o pessoal de modo a que nada falhe. Tenho 31 funcionários a meu cargo e vários clientes onde a empresa faz limpeza. Desde os prédios que gerimos até clínicas, hospitais, bancos, lojas, escritórios, fábricas, limpezas finais de obras, etc. Nada pode falhar e a empresa já cresceu muito e tivemos que nos saber adaptar aos novos clientes. Se as empresas abrem às sete da manhã, a essa hora tem que estar tudo limpo. Existem várias equipas de limpeza e vários turnos para que o cliente fique sempre satisfeito. Estamos a tratar da certificação da empresa porque dá-nos mais credibilidade.Há muitos incumprimentos no pagamento dos condomínios. Temos uma avença mensal com um gabinete jurídico para resolver os casos das pessoas que não pagam os condomínios. Há cada vez mais pessoas nessa situação e muitas vezes temos que recorrer ao advogado para resolver o problema. A vida não está fácil e o condomínio é das primeiras coisas que uma pessoa deixa de pagar.Quando vou de férias deixo o telemóvel de serviço no escritório porque é a única maneira de descansar. O telemóvel nunca pára de tocar e eu durmo a pensar nos assuntos da empresa. Tenho equipas de limpeza a trabalhar 24 horas por dia e há ainda a gestão dos condomínios. A minha esposa trabalha comigo mas é raro vermo-nos sem ser em casa. Eu ando muito na rua, a visitar clientes e a resolver problemas que surgem e ela também tem muito trabalho. Por acaso agora está em casa de licença de maternidade.Todos os dias levo a minha filha mais velha para a escola e a minha esposa trata das duas mais novas. Ao final do dia é a minha mulher que as vai buscar. Quando chego a casa à noite, faço questão de brincar um bocadinho com elas. Tento aproveitar todos os momentos porque elas crescem muito rápido. Lá em casa elas é que mandam no comando da televisão que está sempre nos canais de desenhos animados. Não temos ordem de ver outros programas enquanto elas não vão dormir.Gosto de ir de barco para o mar e estar ali o dia todo a pescar. Estar concentrado na pesca e não ver terra no horizonte ajuda-me a descansar psicologicamente. Além disso, como vou com um grupo de amigos, aproveito para brincar com os que enjoam (risos). No final gosto de amanhar o peixe que pesco e grelhá-los no meu quintal. É das melhores terapias para o stress. Nas tarefas domésticas é que já não ajudo como deveria ajudar. (risos)Trabalho para poder dar o melhor às minhas filhas. Quando estou mais saturado apetece-me vender a empresa mas depois penso em tudo o que conquistei e que quero dar o melhor às minhas filhas. Desde que fui pai tudo mudou. As prioridades e as preocupações são outras. A minha maior preocupação é pagar aos meus funcionários todos os meses. Tenho algumas famílias a meu cargo e não posso descurar no trabalho. Tudo tem que funcionar sempre bem.Não sou homem de extravagâncias. Talvez comprasse um bom barco para continuar nas minhas pescarias mas de resto gosto de viver um dia de cada vez. Não posso programar as coisas a médio ou longo prazo porque o trabalho está sempre a mudar a cada 12 horas e tenho que saber gerir as coisas e saber lidar com as mudanças e os imprevistos. O segredo do sucesso passa por construir uma cumplicidade com o cliente e o serviço ser de muita qualidade. Não posso estar fechado no escritório, tenho que dar a cara e falar com os meus clientes. Tenho que aparecer. Nem sempre consigo porque a empresa cresceu muito mas faço um esforço para estar presente sempre que é necessário.Ana Isabel Borrego