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Uma loja à porta dos clientes

Uma loja à porta dos clientes

José António Fernandes anda de aldeia em aldeia a vender mercearia e outros produtos que fazem falta às populações mais isoladas. O MIRANTE foi encontrá-lo na Junceira, perto de Tomar.

À hora marcada, a buzina da carrinha ecoa pelas ruas da aldeia. É o merceeiro! Sobre rodas, daqueles que quase entram pela casa das pessoas como se de família se tratasse. José António Fernandes, 42 anos, ainda faz venda porta a porta nas aldeias do interior do país. O MIRANTE foi encontrá-lo numa dessas aldeias, Junceira, no concelho de Tomar, depois da hora de almoço. “Há sete anos que ando nesta actividade. Comecei com uma camioneta, com poucos clientes. Já tive duas carrinhas na estrada, mas agora, por causa da crise, voltei a ter só uma. Mas estou a trabalhar bem. Dá para fazer vida se for bem orientado”, explica.Desde fruta, massas, arroz e legumes a molas para a roupa, cola, canetas e cadernos, de tudo se encontra na carrinha de José. Aliás, é essa a sua mais-valia. “Tenho clientes fixos. Já monto a loja preparada para o que as pessoas gastam. Nesta zona não tenho concorrência, porque tenho de tudo um pouco. Tenho colegas que se dedicam exclusivamente a vender fruta, outros peixe. Eu fui acrescentando à medida que as pessoas me iam pedindo para trazer coisas diferentes”, refere.José foi empregado de uma fábrica de lanifícios na sua zona de origem, Figueiró dos Vinhos, depois foi camionista de longo curso, mas o nascimento da terceira filha fê-lo procurar trabalho perto de casa. Agora, garante, faz o que gosta. “É porreiro, porque convivo com as pessoas. Gosto quando se juntam quatro ou cinco que até são vizinhas, mas que passam a semana toda sem se verem. O merceeiro é uma festa”, brinca.Porque José não se limita a vender. Tem um papel social. É um amigo. “Vou a aldeias onde não passa um autocarro, onde não há quem tenha carro e aí tudo lhes faz falta. Já levei medicamentos, paguei a luz e a água, até mudo lâmpadas em casa das pessoas de mais idade. Eles pedem e eu faço”, confessa.E não vai a mais aldeias porque não tem tempo. Por andar sozinho pelas estradas e porque a caixa registadora está logo à entrada da loja, seria de pensar que a segurança fosse um problema. Mas nunca foi assaltado. Isto é, sem querer, porque de propósito até já foi. “Uma senhora pediu-me fiado durante dois meses e ficou a dever-me cerca de 600 euros. Nunca mais os vi e passado um ano ainda me pediu se lhe emprestava 150 euros, sem me pagar o outro”, conta.O comerciante reconhece que a sua actividade está em vias de extinção. “A nova geração de idosos é encartada e aproveitam idas ao médico para fazer as compras. Tive colegas que já pararam. Se formos a fazer as contas ao que se gasta em combustível e tempo, há que começar a ponderar muito bem”, refere, aludindo às despesas com licenças, armazém e outras. “Isto é como se fosse uma loja”, concluiu.
Uma loja à porta dos clientes

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