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Esfusiante Serafim das Neves

Quando saio de Portugal, mesmo para pertinho, fico sempre espantado com a ignorância dos outros povos. Não sabem o que é um torricado de bacalhau ou uma couve a soco do Ribatejo, nunca ouviram falar das potencialidades turísticas da região, nem sequer dos encierros de Samora Correia, ignoram que o maior espaço de cultura da Europa ao ar livre, ou pelo menos o mais caro, fica em Vila Nova da Barquinha, à beira Tejo e que o mesmo tem uma das raras esculturas da Joana Vasconcelos feita com fitinhas de plástico.Desconhecem também, vê lá tu, que é naquela terra que se situa o porto fluvial Miguel Pombeiro, que ombreia com os melhores que eu já vi e que o Entroncamento tem uma estação de comboios que é o maior museu vivo da história dos caminhos de ferro da Europa, para além de outras maravilhas. Antes eram os americanos. Agora são os restantes cidadãos do mundo. A ignorância alastra como uma praga de gafanhotos. De vez em quando, perdoa-me a blasfémia, quase que me apetecia que os bárbaros do auto-denominado Estado Islâmico arrasassem uma daquelas rotundas artísticas de Torres Novas, por exemplo, para o Mundo acordar para o nosso valioso património e deixassem de falar apenas do Cristiano Ronaldo, ainda por cima só para dizer que o Messi é melhor que ele. Li no Cavaleiro Andante da semana passada que um tal Ricardo Araújo Pereira, conhecido por participar nas campanhas de publicidade da MEO que ajudaram a levar o nome da empresa até onde o mesmo se encontra, foi perorar a Santarém, no dia 7 de Novembro, mas avisou logo que não respondia a perguntas de jornalistas de imprensa regional. Percebe-se que se trata de alguém bem informado sobre a falta de acutilância de certos profissionais aqui da parvónia e que prefira ser interrogado por jornalistas de Lisboa, daqueles “mêmo, mêmo” bons que lhe perguntam coisas realmente importantes como: “Ricardo Araújo Pereira, pá, porque é que tu és sempre tão engraçado e dizes as melhores piadas do Mundo, pá?”. A propósito de artistas de Lisboa fui ao baú da memória buscar uma ida a Santarém do Júlio Cavaquinho Pereira que brindou as vinte ou trinta pessoas que lhe foram fazer companhia ao Sá da Bandeira, com uma jovem promissora que conseguiu imitar na perfeição os miados de uma gata em trabalho de parto e que, ao perceber que o ambiente era propício, disse que iria aproveitar para ali mesmo ensaiar umas musiquetas que iria apresentar num grandioso espectáculo a realizar no dia seguinte numa livraria de Lisboa. Foi sublime. Acho que até tirou as botas para se sentir mais à vontadex.Já que estou numa de artistas, não posso deixar de “parabenizar” a câmara de Almeirim por apoiar o talento local, ao pagar um curso de formação em cinema a um dos seus assessores e cortar o trânsito na rua principal da cidade para que ele pudesse fazer uma obra prima, digna de ser apresentada num daqueles festivais internacionais onde há sempre prémios para os projectos enviados pelas entidades patrocinadoras. Eu por mim sugiro desde já a realização da primeira edição do “Festival Internacional das Curtas de Almeirim”. O que achas?Termino com uma referência ao milagre de Casais da Amendoeira, no Cartaxo e lamento que o proprietário do lote de terreno escolhido para a concretização do mesmo, se agarre aos bens materiais, exigindo que lhe seja pago o espaço ocupado, em vez de louvar a Deus por lhe ter concedido a graça de ter um templo em Sua honra, na sua propriedade. Quanto à Câmara do Cartaxo, que já gastou duzentos mil euros na obra, não se percebe porque se lamenta por ter que pagar mais vinte mil. Já que a terra não tem saneamento básico e a escola está em risco de fechar, pelo menos pode orgulhar-se de ter algo que a diferencia em matéria de equipamentos. Quem disse que o consolo espiritual não faz falta ao povo?Saudações crucificadasManuel Serra d’Aire

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