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Na piscina sentem-se como peixes na água

Madalena Silva e Tiago Campos são jovens promessas da natação regional e nacional

No presente já conquistam resultados de relevo mas ainda têm uma margem de progressão enorme. Em Novembro foram os atletas que mais se evidenciaram no campeonato distrital de absolutos (juvenis, juniores e seniores) em Tomar: Madalena Silva conquistou nove medalhas de ouro e Tiago oito. Números que, juntamente com o facto de serem também campeões nacionais, deram o mote para uma conversa com ambos.

Madalena Silva tem 17 anos e é nadadora do Clube Náutico de Abrantes (CNA), onde cumpre o primeiro ano de sénior. Tinha 9 meses quando os pais a inscreveram na natação, em Constância. Por lá fez a aprendizagem e de lá saiu aos 10 anos com o objectivo de fazer natação de competição. “Sou muito competitiva, gosto de desafios, gosto da adrenalina de competir”, confidencia. Dos sete anos que leva no CNA faz um balanço positivo. Desde a estreia em Mação, em 2008, já lá vão 171 medalhas e conta actualmente com 50 recordes distritais (21 absolutos, 20 de juniores e nove de seniores), algo a que dá muita importância, principalmente aos recordes absolutos. “Significam que sou a melhor de sempre naquela prova”, explica. A nível nacional é campeã absoluta dos 50 metros bruços (o estilo que mais gosta de nadar) em piscina longa. “O segredo é muito treino e é preciso gostar-se mesmo disto. Eu levo aqui sovas muito grandes e há treinos em que não desmaio só porque não calha. Se não gostasse já tinha desistido há muito tempo”. Madalena treina diariamente duas ou mais horas além do tempo que passa no ginásio. O trabalho árduo dá os seus frutos, como se viu no campeonato distrital. “Não era uma prova em que apostasse. Tinha estado a treinar imenso na véspera e estava completamente de rastos”. De rastos cometeu a proeza de conquistar nove medalhas de ouro e bater 10 recordes. Só falhou o título nos 50 metros livres, por seis centésimas, algo que lhe ficou entalado na garganta. “Quando não ganho fico chateada, mas comigo própria”, conta. A nadadora aponta agora as baterias para o campeonato nacional de piscina curta (25 metros), que vai decorrer nos dias 11, 12 e 13 de Dezembro, no Porto. No campo dos sonhos quer ir aos Jogos Olímpicos. “É o sonho de qualquer atleta mas a natação é um desporto muito difícil e é preciso ter os pés bem assentes na terra. É preciso treinar muito e abdicar literalmente de uma vida escolar”, explica.Perguntámos também, depois de 171 medalhas conquistadas e 50 recordes batidos, se Madalena se sentia a melhor nadadora do distrito. “Em termos de resultados fui a primeira nadadora do distrito de Santarém a ser campeã nacional e a primeira a vencer um Open de Portugal. Se eu me sinto a melhor, não sinto, mas se calhar até sou”, admite.Tiago Campos faz da versatilidade uma armaA história de Tiago Campos, 16 anos, nadador do Scalabiswim - Clube de Natação de Santarém, é ligeiramente diferente da de Madalena. Não tem recordes, não tem títulos nacionais em natação pura, mas não deixa de ser um vencedor e acima de tudo é muito versátil. Nada qualquer distância, curta ou longa, e, além das piscinas, é adepto da natação em águas abertas e foi aí que se sagrou campeão nacional de juvenis, em Maio deste ano, depois de nadar 5 quilómetros.Começou na natação aos três anos e compete desde os oito, tendo-se estreado em provas precisamente em Mação, tal como Madalena. A sua carreira conheceu uma grande evolução nos últimos dois anos, em que conquistou várias vitórias e medalhas. “O principal segredo é o trabalho. Sem trabalho não chegamos a lado nenhum. Eu treino bem, dedico-me nos treinos e isso reflecte-se nas provas. E depois tenho também uma grande empatia com o treinador Renato Rodrigues. Gostava que, enquanto eu nadar, fosse sempre ele o meu treinador”. Os treinos são de segunda a sábado, algumas vezes duas vezes por dia e duram entre uma hora e meia a duas horas. Um esforço diário que, segundo Tiago, tem valido a pena. “E não é só por causa das medalhas mas também pelo convívio”, afirma. Por vezes também acontece não ficar em primeiro mas daí não vem mal ao mundo. “Não fico chateado. Se fico em segundo é porque o outro estava melhor preparado e quer dizer que tenho de trabalhar mais”.Não tem recordes distritais mas gostava de os ter, para ficar com o seu nome gravado na história. No entanto, explica a vice-presidente do Scalabiswim, Maria José Dias, que os recordes pertencem quase todos ao nadador olímpico Pedro Oliveira, natural de Rio Maior, e que as marcas são muito difíceis de bater. Tiago Campos quer continuar a melhorar a cada prova e repetir a experiência de nadar 10 quilómetros em águas abertas. Quanto aos Jogos Olímpicos “ainda falta muito para lá chegar mas com muito trabalho eu vou conseguir”, diz o jovem.A calma de Cortiçóis, a desconhecida Abrantes e a falta de apoios Madalena e Tiago vivem em sítios muito distintos. Madalena em Abrantes, onde nasceu, e Tiago em Cortiçóis, junto a Benfica do Ribatejo, tendo nascido em Santarém. O nadador aponta a calma que se vive em Cortiçóis como a sua grande mais-valia. Estuda em Almeirim, treina em Santarém, e por isso anda sempre numa roda-viva. Admite que seria mais fácil ir viver para a cidade mas rejeita deixar a aldeia. “Não gosto muito de cidades, de muito barulho. Gosto de sítios mais calmos”, justifica. Madalena também gosta de viver em Abrantes e assume mesmo o receio em deixar “a terrinha” quando daqui por alguns meses for para a universidade, de preferência para o Porto. Em Abrantes destaca o facto de ser uma cidade que tudo está perto de tudo, boa para os jovens, com vários locais atractivos, mas fica triste por ainda ser uma terra desconhecida. “Ninguém conhece Abrantes”, conta da sua experiência em provas por todo o país. Em Abrantes, Madalena lamenta acima de tudo o pouco apoio que, no seu entender, é dado à natação. “Podia-se apoiar mais. Falta mais divulgação. As pessoas nem sequer notam a evolução que houve no clube, que foi imensa. Quando eu vim para cá, não tínhamos um único atleta a ir ao campeonato nacional e na época passada levámos sete. É uma evolução incrível mas acho que as pessoas não têm essa noção porque se calhar o município não faz esse trabalho de divulgação”, afirma.Aos 16 e 17 anos, respectivamente, Tiago e Madalena já fazem vida de atleta profissional, cumprindo regras e sacrifícios. Dividem o tempo entre a escola, o ginásio e a piscina, restando pouco ou nenhum para o lazer. Questionámos em que sítios se divertiam à noite com os amigos mas nenhum deles o faz. A competição assim obriga.A conciliação entre a natação e os estudos é um problema. Tiago, que anda no 11º ano, vê-se aflito. “Não tenho tempo nenhum para estudar”, admite. Muitas vezes vai carregado com os livros para as provas e também estuda nas horas de almoço. Madalena já teve mais dificuldade em conciliar, visto que anda no 12º ano, em que a carga de aulas é menor que os anos anteriores. Tem aulas de manhã e estuda entre o almoço e a ida para o ginásio às 17h00. Diz que já aprendeu a gerir o tempo e que foi a natação que lhe permitiu fazer essa aprendizagem. Ambos querem ir para a universidade: Madalena para tirar Bioquímica ou Biologia Molecular e Celular e Tiago para tirar Desporto e, quem sabe um dia, ser ele o treinador de natação.Madalena e Tiago estão felizes nos respectivos clubes. Sempre que sobe ao pódio, Madalena faz-se acompanhar da bandeira do Clube Náutico de Abrantes. “É um orgulho”, justifica. No Scalabiswim, Tiago destaca o convívio e diz que quando as coisas não correm bem há sempre alguém a apoiar. Sempre nadou em Santarém e jura fidelidade ao clube. “Aqui represento a cidade onde nasci”, recorda.

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