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“A salvação de Vila Franca de Xira era uma universidade na antiga Escola da Marinha”

“A salvação de Vila Franca de Xira era uma universidade na antiga Escola da Marinha”

Lucinda Mata, médica especialista em ginecologia e obstetrícia

Quando era pequena gostava de brincar aos hospitais e tratava da saúde às bonecas e bonecos. Cresceu, licenciou-se em medicina, fez a especialidade em ginecologia e obstetrícia e agora trata pessoas de carne e osso. É um nome acarinhado da cidade de Vila Franca de Xira, trabalha no hospital e tem também uma clínica na rua Noel Perdigão. Tem saudades da antiga vivência e do dinâmico comércio local.

Vila Franca de Xira está transformada num dormitório. Fechou tudo e as pessoas são obrigadas a ir a Lisboa. Não há comércio e nem um cinema temos. Se dependesse de mim o primeiro passo que eu daria para inverter este estado de coisas era negociar a antiga Escola da Marinha para meter ali uma Universidade. Era a salvação da cidade. Iria trazer muitos jovens, procura de residências... era a grande solução. Nesta altura já temos um hospital novo a funcionar muito bem. Toda a gente me diz que sou viciada em trabalho. Realmente sou muito enérgica. Há dias em que trabalho vinte horas. É muito mais fácil trabalhar quando se gosta do que se faz. Trabalho muito mas tenho a sorte de fazer o que gosto e isso é o mais importante. A profissão não me tira o sono mas às vezes alguns problemas acordam-me. Acho que acontece a todos.Sou de uma família humilde e nasci em Vila Franca de Xira. Crescer à beira-rio foi muito agradável. Naquele tempo podíamos circular à vontade e brincar nas ruas sem problema. Vila Franca de Xira era outra cidade, com outra vida muito intensa, convivia-se muito e todos se conheciam. Hoje é uma cidade fantasma. Quando era pequena brincava aos hospitais. Auscultava os bonecos e dava-lhes injecções. O que me atrai nesta profissão é o poder de dar um pouco de mim aos outros, ajudar a melhorar a vida dos que me rodeiam. Muito cedo comecei a interessar-me pela obstetrícia. Mais do que lidar com a doença, queria lidar com a vida e o começo dela. A minha especialidade é muito bonita, tem a ver com a vida e o nascimento.Quando estava a tirar o curso veio o 25 de Abril e a Universidade fechou. Perdemos um ano lectivo. Aproveitei a paragem para tirar um curso de preparadora de análises clínicas. Fiz o curso em Lisboa, depois o estágio de internato no hospital de VFX e voltei a Lisboa para fazer a especialidade na Maternidade Alfredo da Costa. Ainda estive algum tempo em Évora, cidade que me encantou. Não fiquei porque já estava casada e tinha um bebé. Tenho um consultório na cidade há mais de 25 anos. Comecei num espaço muito pequenino ao pé do hospital, depois estive 20 anos na rua do Café Chave de Ouro. Agora estou aqui, na rua Noel Perdigão. É uma clínica sobretudo de ginecologia e obstetrícia. Mas tenho também nutricionista, pneumologista, cirurgião plástico e medicina chinesa, com acupunctura. Não tenho tabus face às medicinas alternativas. Os cidadãos têm direito a escolher. Eu acho que são adjuvantes e não uma terapia completa. Está provada há muitos anos que não têm riscos e por isso, porque não hão-de os doentes experimentar e verem se se dão bem?Para descomprimir vou para uma quinta que tenho na Lezíria, à beira do rio. Gosto daquele sossego. Também gosto de ir ao cinema quando posso, sair e dar uns passeios com os meus filhos. Sempre que posso faço uns jantares para nos reunirmos todos. Felizmente já começamos a ter médicos outra vez em Portugal. O tempo dos numerus clausus foram difíceis. Dentro de três ou quatro anos já deveremos ter médicos em quantidade suficiente para acudir a todos os que precisam. O problema são as instituições que querem pagar ordenados muito baixos. É sempre tudo nos mínimos.Filipe Matias
“A salvação de Vila Franca de Xira era uma universidade na antiga Escola da Marinha”

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