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“Abri o negócio com uma caixinha de sumos e 37 euros na caixa”

“Abri o negócio com uma caixinha de sumos e 37 euros na caixa”

Jorge Fernandes, 49 anos, é gerente da Benadoce, pastelaria e fabrico próprio em Benavente

Começou como padeiro quando foi para a tropa em Lisboa e aí conheceu a sua paixão, a pastelaria. Se não estivesse nesse ramo gostaria de ser engenheiro agrónomo, mas o sonho ficou pelo caminho por causa das más notas e porque descobriu nos bolos a verdadeira vocação. Aconselha todos a investirem nos seus sonhos por muito que lhes digam que não.

Quase todos os dias, por volta das 3h30, Jorge Fernandes abre a porta da sua pastelaria, em Benavente, para, literalmente, pôr as mãos na massa e começar a fazer o pão e os bolos que dão nome a uma das pastelarias de referência de Benavente. Apesar de as portas abrirem somente às 6h30, há que fazer fornadas sem fim para que nada falte nas montras nem na escola em frente que conta com o pão para alunos e funcionários.E assim é há três anos, momento em que Jorge decidiu pegar na Benadoce, aventurando-se em plena crise. “Peguei nisto quando ninguém me aconselhava a fazê-lo e sem dinheiro. Saí da empresa onde estava e abri isto aqui com uma caixinha de sumos, com 37 euros na caixa e muito trabalho. Hoje estou cheio de trabalho e tem sido sempre a subir. Dá para viver, não viver bem, mas dá muito trabalho e tenho de estar sempre em cima disto”, explica.Quando O MIRANTE o foi conhecer, Jorge estava no meio da azáfama dos bolos rei e outros doces da quadra. E é ali que encontra a felicidade. “No ramo de pastelaria estou há 20 anos. Comecei como padeiro antes de ir para a tropa e só depois disso é que comecei a gostar da arte da pastelaria e aí é que segui. Onde aprendi e me apliquei mesmo foi quando fui para Angola durante dois anos. Gosto porque isto é uma arte que permite estar sempre a inovar, em que há sempre coisas novas por fazer”, explicou.Natural de Beijós, perto de Viseu, Jorge foi para Lisboa para perto de uma irmã e algum tempo depois mudou-se para Samora Correia, para perto da outra. Aí se radicou, porque “é uma zona mais calma, parecida com a minha terra natal. E cá estou no Ribatejo há 12 anos e estou perfeitamente ambientado a uma terra de que gosto”, refere.Pelo caminho, ficou um engenheiro agrónomo, sonho que terminou por causa da realidade da vida. “Se não tivesse optado por esta área seria muito provavelmente engenheiro agrónomo. Sempre fui criado na agricultura. Só não segui porque os meus pais não tinham possibilidades de me manter a estudar na área e comecei a ter muitas negativas e a minha mãe pôs-me a trabalhar”, refere.Está na área de que gosta, mas a sua praia são os bastidores. “Eu não dava para estar no balcão. Porque há clientes, que não são os habituais nem a esmagadora maioria dos que tenho aqui, que me irritam. Não sabem o que querem, tudo tem defeitos, nunca estão satisfeitos e isso para mim não dá. Prefiro estar na parte de trás a trabalhar, onde faço o que sei, quero e o que me dá mais prazer”, admite.Nesse particular, e porque é ele que controla o seu trabalho e o dos seus cinco funcionários, além da mulher com quem partilha a gestão, Jorge rege-se por uma preocupação fundamental. “A minha maior preocupação é conseguir ter e manter a qualidade, porque é com qualidade que me dá prazer trabalhar e é só assim que se consegue conquistar uma base de clientela fiel e que gosta do que fazemos”, afirma.Faz cerca de 14 horas por dia de trabalho e, por isso, pouco tempo sobra para outras actividades, mas apesar dos sacrifícios não tem dúvidas de que as pessoas devem investir em negócios próprios, apesar de os tempos serem difíceis. “Aconselho qualquer pessoa a procurar um negócio próprio, a dar o tiro no escuro como eu dei, mas só se a pessoa tiver vontade e gosto pelo que faz”, avisa.E o negócio é seguro, porque fazer bolos todo o dia é uma tentação, mas Jorge garante que não cai na mesma. “Não sou guloso e não dou prejuízo à casa (risos). De vez em quando provo-os, mas de tanto estar a mexer neles e de os fazer, até me enjoa e nem me lembro de os querer comer”, assegura.A expansão agora é o sonho. “Daqui a 10 anos queria ver se tinha outra casa aberta onde pudesse fazer outras coisas. Não trabalhar em linha, mas fazer pastelaria diferente, mais bonita e ornamentada, cake design. Aqui não tenho tempo”, lamenta.
“Abri o negócio com uma caixinha de sumos e 37 euros na caixa”

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