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Na Granja o enterro do entrudo ainda é o que era

Na Granja o enterro do entrudo ainda é o que era

Sacristão e viúva lêem testamento pelas ruas da aldeia

Na pequena aldeia de Vialonga vive-se a tradição como antigamente. O povo sai à rua para ouvir os versos picantes e os visados recebem a bênção com sorrisos.

Nem a chuva miudinha que caía quando saiu à rua o funeral do Santo Entrudo na Granja, Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, foi suficiente para afastar os moradores da tradição. Quando muito, brincaram alguns, foi uma forma de abençoar o cortejo. Na noite de Quarta-feira de Cinzas, 10 de Fevereiro, a população da Granja despediu-se do Carnaval e do santo entrudo com o tradicional enterro do chouriço, um adereço com mais de um metro e meio que seguia com o corpo do maior folião do lugar. A morte foi anunciada no baile de terça-feira de Carnaval, quando o entrudo caiu no chão e, apesar das manobras de reanimação, acabou por morrer.Mais de uma dezena e meia de populares acompanharam o funeral, feito à moda antiga e de porta em porta. Sempre que o testamento tinha uns versos “picantes” para determinada família, o carro fúnebre parava, o sacristão ordenava que o visado saísse à rua e a viúva, encalorada, dava-lhe a bênção, que é como quem diz atirava-lhe com água. Momentos sempre divertidos que não deixaram ninguém indiferente. A começar pelos Zés Pereiras, o grupo de bombos que acompanhava o cortejo.O arranque foi dado junto à Sociedade Recreativa da Granja, que organizou o Carnaval: “Já morreu o senhor Entrudo/O carnaval não tem idade/Ele enterrou o seu chouriço/Na direcção da sociedade”. Enterrar o chouriço foi, de resto, o mote da noite, e nem jornalista de O MIRANTE que acompanhava o cortejo foi poupado. “Já morreu o senhor Entrudo/Que era muito elegante/Enterrou o seu chouriço/No senhor do O MIRANTE”. Ou no dono do café Baptista que, instado a levar umas minis ao sacristão, acabou “abençoado” junto ao carro fúnebre. Os condutores com mais pressa que atravessavam o cortejo também acabavam molhados... perdão, abençoados.“Já morreu o senhor Entrudo/Com um carnaval agridoce/Ele enterrou o seu chouriço/Nos amigos da Spordoce”. Mais acima, novo verso: “Já morreu o senhor Entrudo/Quem não gosta que se identifique/Ele enterrou o seu chouriço/No nosso amigo Henrique”.O cortejo demorou cerca de uma hora e meia e terminou, como habitualmente, junto à sede da colectividade, onde o morto foi armadilhado e explodiu noite fora, no meio das chamas. Houve também um pequeno fogo de artifício para dar a despedida do maior folião da zona. Depois de tanta chouriçada a noite acabou com petisco e com a população a partilhar, claro, chouriço assado. O carnaval da Granja, em particular os seus bailes no sábado e na terça-feira, são uma referência no concelho de Vila Franca de Xira e o enterro do Entrudo veio provar que a tradição está viva e firme naquela que é a aldeia mais distante da sede do concelho, praticamente às portas de Loures.
Na Granja o enterro do entrudo ainda é o que era

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