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Implacável Manuel Serra d’Aire

Li algures que há um funcionário da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que falta muito no Inverno porque se sente deprimido com os dias cinzentos e chuvosos que tiram a vontade de bulir a qualquer um. Compreendo bem esse infeliz proletário, pois também eu sou atacado por uma lazeira medonha quando ouço de manhã a chuva a bater nas vidraças das janelas. Aquele som faz mais por um sono bem dormido do que picadas da mosca tzé-tzé, contagens de carneiros ou discursos do dr. Jorge Sampaio. Por isso acho que ninguém pode levar a mal que o homem prefira entregar-se nos braços de Morfeu em vez de se agarrar a uma picareta, a um volante ou a um teclado de computador.Surpreende-me é que as anas avoilas, os mários nogueiras e outros aguerridos sindicalistas deste país ainda não se tenham lembrado de incluir este tipo de situações nos seus intermináveis cadernos reivindicativos em prol das amplas liberdades e garantias laborais. Desunham-se por causa das 35 horas semanais e dos feriados e ninguém se lembra de reivindicar esse direito sagrado que é o de permanecer no vale de lençóis em manhãs cinzentas e chuvosas. Ainda por Vila Franca de Xira, um vereador da câmara municipal chamou a polícia na última reunião do executivo por considerar que foi insultado por um munícipe no intervalo da sessão. Não sei o que é que o cidadão chamou ao político, mas o vereador social-democrata Rui Rei já devia saber há muito tempo que quem anda à chuva molha-se (lá está!). E não deixa de ser surpreendente que um homem que mói o juízo aos seus adversários políticos não tenha poder de encaixe para ouvir algumas bocas de um homem com idade para ser seu pai e, ainda por cima, chame a PSP para identificar o ancião. Estamos feitos um país de queixinhas. A queixa é uma instituição nacional, transversal a toda a sociedade e, tal como o bacalhau, serve-se de mil e uma maneiras. As mulheres queixam-se de dor de cabeça para escapar às “obrigações” conjugais. Os clubes de futebol queixam-se dos árbitros quando perdem. Os sindicalistas queixam-se dos patrões. Os patrões queixam-se do Estado que afoga as empresas em impostos. O português comum queixa-se do Governo como se não houvesse amanhã, mas também do calor, do frio, do vento, da chuva, da seca, da geada. Uma tia minha queixa-se de uma dor diferente todos os dias. Os agentes culturais, desportivos, recreativos e afins queixam-se da falta de apoios públicos. Os alunos e os pais queixam-se dos professores. Os doentes queixam-se dos médicos. Os políticos queixam-se em tribunal dos jornalistas que lhes descobrem a careca e, pelos vistos, já há também os que se queixam à polícia quando lhes chamam nomes. Volta Calimero que estás perdoado!O acontecimento da semana passada foi o atentado contra a Capelinha das Aparições, em Fátima. Um jovem atirou-se de carro contra o espaço e quis destruir a imagem de Nossa Senhora, não se sabe muito bem porquê. Há quem vaticine que pode ter sido retaliação por causa de alguma promessa que não resultou. Não sei nem quero saber. A única coisa que digo é que se a moda pegasse e resolvêssemos espatifar os nossos automóveis contra as casas dos políticos que não cumprem as suas promessas, este país estaria transformado num autêntico ferro-velho.Cumprimentos invernosos do Serafim das Neves

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