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O teatro é fundamental para ter uma sociedade mais evoluída, culta e interventiva

O teatro é fundamental para ter uma sociedade mais evoluída, culta e interventiva

Rui Sérgio Dionísio é director artístico do Grupo de Teatro Cegada, de Alverca

Quando era pequeno queria ser piloto de aviões mas quando se apercebeu que eram armas usadas para matar desistiu da ideia. Começou a tocar guitarra e foi através dela que contactou com o teatro, arte pela qual se diz apaixonado. Rui Sérgio Dionísio não conta as horas que trabalha todos os dias porque quando se faz o que se gosta o tempo não tem valor.

Para se conseguir singrar com sucesso numa profissão é necessário empenho, seriedade, honestidade e franqueza, valores dos quais não abdica Rui Sérgio Dionísio, director artístico do Grupo de Teatro Cegada, uma das mais importantes companhias de teatro profissional do concelho de Vila Franca de Xira. Rui Dionísio diz que o teatro é “fundamental” para ter uma sociedade mais evoluída, mais culta e interventiva.“Havia um senhor que dizia que o teatro é sempre interventivo, ou servia para acordar ou para adormecer. Todos precisamos de adormecer e acordar ao longo da nossa vida, não há um lado brilhante e um lado negro. O teatro é um meio de promover a literatura, o gosto pela leitura e os conteúdos que os escritores deixam nas suas obras. É um ofício importante para o senso comum, para a interculturalidade, para o respeito e compreensão pelo próximo. O teatro é importantíssimo para uma sociedade mais evoluída, mais consciente e lúcida de si mesmo”, defende.Para Rui não é possível obter o êxito sem honestidade e seriedade. “A rectidão é fundamental para se singrar numa determinada profissão. Estes valores são coisas que se podem perder em determinados momentos mas são esses valores que vão sustentar esse percurso profissional ao longo do tempo. São eles que geram confiança”, refere. Rui Dionísio trabalha longas horas no teatro mas confessa não ser viciado em trabalho. “Quando gostamos do que fazemos não contamos as horas”, explica. Chega tarde a casa e sai cedo, confessando que praticamente “só vai dormir” a casa.Rui Dionísio tem 35 anos e é natural de Vila Franca de Xira. Desde 2013 que, a convite da direcção, assume as funções de director artístico do Grupo de Teatro Cegada, de Alverca. É também o programador do grupo. Quando era criança sonhava ser piloto de aviões, inspirado pelos filmes que via na televisão. Mais tarde, quando percebeu que os caças serviam para matar pessoas, desistiu da ideia. Cresceu e estudou um pouco por todo o concelho, situação que lhe permitiu ganhar tarimba. Aos oito anos começou a aprender teoria musical e nas férias de Verão, enquanto estudava, ia trabalhar em oficinas de mecânica e construção civil para angariar dinheiro para comprar uma guitarra. “Naquele tempo as guitarras não custavam os 100 euros que custam hoje”, confessa, com um sorriso. O seu primeiro emprego foi ser músico. Aos 14 anos entrou em várias bandas de originais onde fez um percurso interessante, captando mesmo os olhos dos jornalistas do meio musical nacional. “Chegámos a criar várias maquetes e trabalhos de estúdio que não vieram a ser editados por etiqueta oficial, mas ainda gravámos quatro álbuns”, conta Rui, recordando que teve como influências grandes nomes do rock, como os britânicos Pink Floyd. “Foi a música que me catapultou para as artes de palco, a gravação e composição original, mais tarde vim a produzir spots publicitários, montei um estúdio, avancei para a produção de eventos, com muito trabalho no terreno, às vezes como actor e outras vezes como músico. A música era sempre a plataforma artística que suportava isso”, conta.O teatro entrou na sua vida como consequência da música, quando se começou a envolver na criação de bandas sonoras para teatro. “Depois surgiu a oportunidade de me estrear como actor, em 2004, e a partir daí decidi ir estudar. Tirei o curso de representação e o de marketing e consumo em Santarém. A passagem para o teatro foi natural, já conhecia os métodos. A primeira sensação que tive foi de nudez. Se estivermos a tocar um instrumento e não nos sentirmos muito ligados com o público focamo-nos no instrumento e tocamos o nosso melhor. O actor é diferente, está sempre frente a frente com o público, tem de estar sempre focado, é completamente diferente”, refere.Rui Dionísio confessa-se hoje um apaixonado pelo teatro que não se vê a fazer outra coisa. Assim as entidades locais responsáveis pelo financiamento possam finalmente reconhecer o talento, importância e vontade do Cegada de Alverca.“Teatro é comunicar. É a plataforma que une todas as artes, todas as expressões, seja a dramática, plástica ou musical. É comunicar um conteúdo, uma ideia. Se trabalharmos num ambiente corporativo e empresarial comunicamos o valor de um determinado produto para ele se destacar no mercado. Se estivermos a falar de teatro estamos a comunicar o melhor que um escritor tem. A ideia que quis passar, o que sentia no contexto em que escreveu”, defende.Para o responsável, o mais trabalhoso é conseguir adequar o que se quer fazer aos meios disponíveis. “Sou contra a expressão de fazer omeletes sem ovos. Isso é um engano, é uma ilusão. Se fizermos uma omelete com alguma coisa que não sejam ovos isso não é uma omelete. Podemos tentar convencer toda a gente que é, mas não é. Isto não é uma carolice, é uma escolha que se faz, consciente e lúcida, de trabalhar sempre em prol desta arte”, conclui.
O teatro é fundamental para ter uma sociedade mais evoluída, culta e interventiva

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