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Tirar as pessoas da frente do televisor é fundamental

Tirar as pessoas da frente do televisor é fundamental

Grupo Independente de Teatro da Póvoa de Santa Iria foi criado há um ano. Quase a celebrar um ano de vida, o GITEP apresenta uma nova peça, “Arte”, baseada num texto de Yasmina Reza. O grupo tem crescido e conta hoje com mais de duas dezenas de pessoas a colaborar. Vivem sem apoios financeiros e são as receitas da bilheteira que financiam os espectáculos.

Mostrar teatro na cidade da Póvoa de Santa Iria e com isso arrancar as pessoas do sofá em frente aos televisores é fundamental. Sobretudo se, como é o caso, se tratar de teatro feito por pessoas da terra. A ideia é defendida por Ruben Milheiras, um dos mentores do GITEP - Grupo Independente de Teatro Experimental da Póvoa de Santa Iria, que está à beira de completar um ano de actividade.
Desde que foi criado o grupo não tem parado de crescer e somar sucessos. Como não está constituído como associação conta com o apoio do Grémio Dramático Povoense, que empresta o espaço cultural Fernando Augusto para as suas apresentações do grupo. O GITEP também realiza toda a sua programação sem qualquer apoio financeiro, usando as receitas de bilheteira para financiar os espectáculos seguintes.
A sua primeira peça, “Transição”, obrigou o grupo a criar sessões extra para acolher todos os moradores que queriam ir ver a peça mas não conseguiram bilhete. A expectativa é que o mesmo venha a acontecer com a nova peça do grupo, que está em cena no centro cultural da cidade e tem as próximas sessões nos dias 11 e 12 de Março. Chama-se “Arte”, é protagonizada por Ruben Milheiras, Artur Neves e Carlos Oliveira e é inspirada num texto de Yasmina Reza (ver caixa).
“O balanço do GITEP tem sido muito positivo, crescemos muito. Já temos miúdos dos 11 aos 13 anos a fazerem teatro connosco e nos adultos somos já duas dezenas. Existem muitos grupos de teatro no concelho e isso é bom, mas sentimos que as pessoas se identificaram connosco e têm aparecido nas nossas peças, o que nos honra imenso”, explica Ruben Milheiras, mentor do grupo a O MIRANTE.
Actualmente o grupo também está a ensaiar uma peça clássica, “Romeu e Julieta”, que deve subir ao palco até ao Verão. “A Póvoa tem sabido receber muito bem o teatro, temos sempre casa cheia. A construção deste centro cultural foi uma boa aposta do município. Não é muito grande mas, tendo em conta o velho espaço do Grémio, agora estamos todos a trabalhar em condições. Só o facto de termos camarins é completamente diferente. Ninguém está arrependido de ter avançado no GITEP e este é um projecto para continuar e consolidar-se”, defende Artur Neves.
A maioria das pessoas do grupo tem os seus empregos durante o dia e ensaia à noite, fora de horas. A preocupação do grupo é sempre apresentar teatro honesto, empenhado e sincero. Nada de grandes cenografias ou aparato. O que conta é a interacção e entrega dos actores. “O público não está aqui para ver mobiliário ou pinturas, está aqui para ver trabalho de autor. As pessoas precisam de se divertir e sair da frente da televisão. Ver algo que não se veja todos os dias. Ver teatro feito por pessoas ao vivo. Mas atenção, se a pessoa sai de casa e do conforto para vir ao teatro, paga o bilhete, é obrigação de quem dá a cara pelo teatro ter alguma qualidade e exigência. Senão o teatro entra numa bandalheira e depois deixa de haver público porque as coisas entram num deixa-andar. Quem vai ver teatro pela primeira vez, se não gostar, não volta mais”, defende Artur.
O colega, Carlos Oliveira, explica que a ambição do grupo, particularmente em relação à nova peça, é que as pessoas saiam bem-dispostas e com algo em que possam pensar.

Três amigos e um quadro branco

“Arte” é um texto sobre três amigos e a sua amizade que se encontra estagnada, onde “nem tudo é dito e onde dizer certas coisas começa a cair mal”, explica Ruben Milheiras. A peça é uma comédia inteligente a roçar o humor negro e o conflito centra-se num dos amigos que compra por 25 mil euros um quadro totalmente branco. O objectivo do GITEP é colocar o público a pensar. “O mais difícil está nos ritmos da peça, na forma como a conversa flui. É um ritmo acelerado que depois abranda e acelera. É alucinante”, confessa Ruben.
A peça tem a duração de uma hora e meia e lança o debate sobre o que é a arte. “Estes quadros existem e são caros. Podemos questionar o que é a arte contemporânea. A arte começa a ser tanta coisa, como a performativa, instalações, arte conceptual, é tanta coisa que hoje podemos questionar-nos sobre o que é a arte. E há pessoas que compram estes quadros na vida real, porque gostam e porque querem entrar no mundo imaginário do artista. Ou porque o pintor está na moda ou por uma questão de status”, conclui.
Os bilhetes custam 3 euros para os sócios do Grémio e quatro euros para os não sócios.

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