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Problemas do Tejo estão esquecidos porque a administração central desconhece a realidade

Problemas do Tejo estão esquecidos porque a administração central desconhece a realidade

António Carmona Rodrigues vai ser um dos oradores do II Fórum Ibérico do Tejo em Vila Franca de Xira.

Os políticos desconhecem os problemas do Tejo porque nunca se preocuparam em sair dos gabinetes e ir a Vila Franca de Xira, Santarém ou Abrantes para ver o que se está a passar com o rio. O lamento é de António Carmona Rodrigues, engenheiro especializado em hidráulica fluvial e ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, que será um dos oradores no II Fórum Ibérico do Tejo (ver caixa).
“Há muitos anos que o Tejo está esquecido, mas também a administração da água dos nossos rios por todo o país. Nos últimos anos há uma grande apatia por parte da administração central relativamente a estas matérias da água. Vemos no Tejo os baixos caudais, a poluição, sabemos de onde ela vem e não se faz nada. Há muito abandono e alguns políticos nem conhecem bem o que se está a passar porque nunca saíram do gabinete. Porventura nunca foram a Vila Franca de Xira ou Santarém”, lamenta a O MIRANTE o antigo ministro e antigo presidente da Câmara de Lisboa.
Para o especialista, que integra também o Conselho Nacional da Água, é “extraordinário” e “preocupante” que a comissão luso-espanhola de acompanhamento do rio Tejo não reúna há sete anos. Ver o Tejo sem água em Santarém no Verão é também, para António Rodrigues, motivo de alarme. “Fui uma das pessoas que criticou muito a convenção de cooperação de 1999. A culpa da falta de água não é só espanhola. Acredito que haja cumprimento da parte dos espanhóis, mas critiquei por não se terem estabelecido regimes de caudais mínimos. Estabeleceram-se volumes mínimos anuais, que podem ser facilmente garantidos com descargas no Inverno, que não salvaguardam depois volumes mínimos no Verão”, diz.
Outra questão, segundo Carmona Rodrigues, “é saber no nosso próprio território, onde estão as albufeiras de produção de energia hidroeléctrica, se estão a cumprir orientações de turbinarem [despejarem água] ao fim-de-semana e nos períodos de menor caudal. Sabemos que têm caudal para isso mas a tutela da administração portuguesa não os está a obrigar a cumprir. A exploração das albufeiras no nosso território devia contemplar o lançamento de água nos momentos em que a água é mais precisa no rio”, refere.
O responsável alerta mesmo para a necessidade de estabelecer “regras claras” para a exploração das albufeiras, porque hoje em dia “ninguém sabe quais são e isso é motivo de muita preocupação”, critica, lembrando a possibilidade de adaptar legislação desse tipo já existente no estrangeiro.

Um estudo que ficou na gaveta
António Carmona Rodrigues foi o coordenador de um estudo para a rede hidrográfica do Tejo, que ficou pronto em 2010. Apresentava medidas concretas para problemas do rio como a qualidade da água, protecção dos ecossistemas, regularização fluvial em caso de cheias e assoreamento. Mas passados seis anos pouco ou nada foi implementado no terreno, para lamento do seu criador.
“Na realidade pouco foi feito por razões de ordem económica. Não apenas pouco foi feito como em alguns aspectos até se andou para trás, como no caso da monitorização das massas de água, em termos de quantidade e qualidade. Há desatenção política para os problemas do rio. A administração da água tem estado a perder peso e importância no meio político, tem havido outras preocupações, com Bruxelas, com os orçamentos, com a economia. A água tem ficado para segundo plano”, refere.
Para Carmona Rodrigues, as câmaras municipais têm um papel fundamental no processo de sensibilização e pressão junto do governo central para actuar nas questões do Tejo, isto porque não têm competência directa nas redes fluviais. “Os autarcas podem e dever exercer toda essa pressão junto dos decisores políticos. O MIRANTE
tem sido também ao longo dos anos um grande defensor da causa do rio Tejo, e pode também ser mais um veículo a divulgar e a sensibilizar, alertando, para que não haja um abandono do rio pelas autoridades”, refere.

Fórum em Vila Franca de Xira junta espanhóis e portugueses

António Carmona Rodrigues vai ser um dos oradores do II Fórum Ibérico do Tejo, que se realiza no pavilhão multiusos do Cevadeiro, em Vila Franca de Xira, nos dias 19 e 20 de Março, falando no dia 19, depois das 11h15, apresentando “Um olhar sobre a situação da gestão dos recursos hídricos do Tejo”. Carmona Rodrigues já foi ministro das Obras Públicas em 2002 no governo de Durão Barroso e presidente da Câmara de Lisboa, em 2005.
A segunda edição do fórum terá como tema “Economia, Cultura e Ambiente”. É uma organização da Câmara de Vila Franca de Xira com a Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça (AIDIA). Pretende ir mais longe nas questões que importam ao Tejo e às comunidades que habitam junto dele, como a gestão dos recursos, transvases, reabilitação das linhas de água e o património histórico e cultural do rio.

Problemas do Tejo estão esquecidos porque a administração central desconhece a realidade

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