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É preciso amar intensamente as palavras para conseguir escrever

É preciso amar intensamente as palavras para conseguir escrever

João Cruz, de Cantanhede, venceu o prémio Romance pela segunda vez com um texto sobre a problemática da tuberculose. Júri destacou a grande qualidade da maioria dos manuscritos a concurso nesta edição.

Para se escrever é preciso amar intensamente as palavras e ler, ler persistentemente. A ideia foi defendida na tarde de sexta-feira, 22 de Abril, por João Carlos Cruz, vencedor da edição deste ano do Prémio Literário Alves Redol, na categoria romance, prémio instituído pela Câmara de Vila Franca de Xira.
“Depois do trabalho e aos fins-de-semana sinto necessidade de meter cá fora o que a escrita me pede. Da leitura brota a escrita. Escrevo, mas com muita dificuldade. Um trabalho final não aparece logo, vai nascendo. É preciso amar as palavras para poder escrever, e ler, ler persistentemente, até conseguir meter em obra o caos que Deus criou”, explica o autor.
João Carlos Cruz é um repetente no prémio, pois já em 2009 havia vencido com a obra “Ao redor dos muros”, entretanto publicada. O autor, que vive em Cantanhede mas conhece bem Vila Franca de Xira, voltou a conquistar o júri com o romance “A luz vem das pedras”, que também lhe valeu um cheque municipal de 7500 euros. O texto foi inspirado por uma idosa de Cantanhede, que o desafiou a escrever a sua história.
“É uma história sobre a tuberculose e o caminho que as pessoas faziam desde a Gândara de Carlos de Oliveira até ao Caramulo, onde encontravam sanatórios para tratar aquela doença que era uma fatalidade na altura. Tem outro tempo histórico, tem outras ficções que se vão metendo pelo meio, incluindo a história de um cão já perto do final”, conta a O MIRANTE.
Manuel Frias Martins, em representação do júri, elogiou a versatilidade do seu léxico, a “coerência inabalável” da prosa e frases bastante expressivas “dignas de um novo universo de autores com muito para dar”. João já conhece Vila Franca de Xira e volta sempre que consegue, sobretudo para visitar o Museu do Neo-Realismo e o passeio ribeirinho. “É fantástico, o concelho tem várias pérolas que devem ser visitadas, como a nova biblioteca. Todo este empenho na cultura é digno e deve ser visto como uma referência em todo o país”, defende.
Candidatou-se sem a esperança de vencer porque sabia que já tinha ganho há sete anos. Mas quando soube que tinha vencido o prémio pela segunda vez, agarrou no livro “Uma Fenda na Muralha” de Alves Redol e leu a história de fio a pavio. “Tenho praticamente todos os livros dele. Quando soube que tinha ganho não hesitei e li-o. Foi a melhor maneira de o homenagear”, confessa. João Carlos Cruz é técnico de reinserção social na prisão de Aveiro, onde trabalha com reclusos.
Na categoria de conto o trabalho premiado foi “O homem que quase perdeu a mão”, de Carlos Caeiro, autor que não esteve presente na cerimónia e que vai receber 2500 euros. É um conjunto de pequenas histórias de gente comum com um “forte sentido do real”, elogiou o júri.
Este ano candidataram-se ao prémio literário Alves Redol, nas categorias de romance e conto, 263 obras, o que perfaz um novo recorde de participações. “O prémio é um momento significativo da nossa estratégia cultural. Esta foi das edições em que tivemos mais candidatos e isso revela a pujança do prémio e a sua importância a nível nacional. Tudo farei para que este seja um prémio literário a manter”, explicou Alberto Mesquita, presidente do município vilafranquense.
O prémio presta homenagem a Alves Redol, romancista vilafranquense e tem como objectivo distinguir a criatividade literária. As obras aceites a concurso são de tema livre mas deverão ser trabalhos originais e cada concorrente apenas pode submeter uma obra.

É preciso amar intensamente as palavras para conseguir escrever

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