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Regime de exclusividade é o grande cancro dos hospitais portugueses

Regime de exclusividade é o grande cancro dos hospitais portugueses

Joaquim Duarte Costa é médico gastroenterelogista em Vila Franca de Xira. Apaixonado por história, acabou por seguir medicina quando era jovem por motivos económicos. Foi durante cinco anos director do Hospital de Vila Franca de Xira e é um defensor das parcerias público-privadas e da abertura das convenções a todas as clínicas.

O regime de exclusividade dos médicos é o “grande cancro” dos hospitais portugueses, não faz sentido e devia ser abolido. A ideia é defendida por Joaquim Duarte Costa, médico gastroenterologista que dá consultas em Vila Franca de Xira. “Não aceito o regime de exclusividade, odeio-o, é o grande cancro dos hospitais porque oferece três ordenados para a mesma função. Isso é maldade pura, nunca o fiz e sou contra. A pessoa deve ser livre para poder trabalhar”, conta o homem que, confessa, é incapaz de estar parado.
É por isso que, aos 70 anos, continua a trabalhar todos os dias nas duas clínicas que tem, em Lisboa e Vila Franca de Xira. Joaquim Duarte Costa é médico gastroenterologista e tem a especialidade de medicina interna, juntamente com a competência de administração hospitalar. Foi, durante cinco anos, administrador do antigo hospital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira. “Naquele tempo, quando fui para lá, o hospital tinha problemas graves de irregularidades financeiras e de organização”, recorda.
Hoje é um adepto das parcerias público-privadas, como a que gere o actual hospital da cidade. “Defendo as PPP para haver separação da gestão económica da gestão técnica. Não posso aceitar o domínio dos administradores técnicos sobre os médicos, deve ser ao contrário. Os gestores não devem meter o bedelho onde não são chamados. Os médicos têm de ser livres e independentes para fazer o seu trabalho”, defende.
Joaquim Duarte Costa é um homem sem medo de dizer o que pensa. Nasceu em Lisboa mas tem raízes em Arganil, distrito de Coimbra. Aprendeu a ler na casa da filha de uma professora, que vivia na mesma rua. Na escola primária era bom aluno, frequentou a escola da rua das Pedras Negras. “Suspeito que tenha sido na escola onde era professor o Buiça, o regicida”, conta. Era um aluno aplicado, respeitado pelos colegas e pelos professores.
É um apaixonado por história e sonhava ter seguido esse curso, mas as necessidades económicas empurraram-no para medicina. “O curso que queria era história mas não consegui, tive de ir para medicina. Sou um apaixonado por história e os meus períodos favoritos são a Idade Média e o nosso século 19”, refere. Como não era filho de pais ricos teve de começar a trabalhar novo para pagar os estudos, fosse ajudando na leitaria do pai ou a vender gelados à porta dos cinemas de Lisboa.
Ainda serviu na guerra colonial, conflito onde viu a morte de perto. “Toda a gente tem medo da morte. Aquilo que mais horror me causou foi na guerra estar a beber uma cerveja com uma pessoa e dali a duas horas estar a tratar do cadáver dessa pessoa. É horrível. Temos de encarar a morte e perceber que ela vai aparecer. Importante é viver bem, viver livre”, diz.
Joaquim Duarte Costa gostou da gastrenterologia depois de assistir a uma conferência sobre o esófago e o aparelho digestivo. Chegou ao hospital de Vila Franca de Xira na sequência de um concurso público, onde fez de tudo um pouco: chefe de equipa de banco, director do serviço de urgência, director do internato, director clínico e, por fim, director do hospital. Depois reformou-se.
“Um médico deve ser livre, frontal, compreender e respeitar os doentes. A relação médico/doente é unipessoal, total e absoluta. É uma relação forte. Estou muito preocupado com o estado da medicina, estamos a assistir ao fim da carreira médica e isso preocupa-me. A classe está a desagregar-se e a evolução tecnológica tem gerado a perda de alguns valores”, lamenta.
O clínico é também um defensor da revisão das convenções. “Uma das medidas que podia diminuir a falta de médicos passava pelos médicos reformados não receberem dois ordenados, porque isso é imoral, ilegal e mau para quem propõe e aceita, e abrir as convenções a toda a gente. O Governo não o fez de propósito, querem facilitar a vida aos grandes hospitais e grandes clínicas”, critica.

Regime de exclusividade é o grande cancro dos hospitais portugueses

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