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“Não é a vitória e a derrota que importam mas o espírito de missão”

“Não é a vitória e a derrota que importam mas o espírito de missão”

General Ramalho Eanes foi um dos convidados das “Conferências da Liberdade”, iniciativa promovida pela concelhia do PSD de Santarém

António Ramalho Eanes, Presidente da República entre 1976 e 1986, disse em Santarém que está como quando nasceu, “com uma mão à frente e outra atrás”, e que todo o seu património está hipotecado à banca. “O meu filho mais novo comprou duas farmácias e eu tive que ser um dos avalizadores por isso todo o meu património é do banco”, confessou, acrescentando que não são os bens materiais que importam. “Não é a vitória e a derrota que importam mas o espírito de missão”.
O general foi um dos convidados da primeira edição das “Conferências da Liberdade”, iniciativa organizada pela concelhia do PSD de Santarém no sábado, 23 de Abril, no CNEMA (Centro Nacional de Exposições e Máquinas Agrícolas), que teve Pedro Passos Coelho a encerrar a iniciativa. Ramalho Eanes disse a O MIRANTE, no final da sua intervenção, que Santarém tem sabido valorizar o facto de ser a Capital da Liberdade e recordou o ano em que esteve na cidade escalabitana, juntamente com o Presidente da República de então, Jorge Sampaio, para homenagear o capitão Salgueiro Maia, que saiu com a coluna militar em direcção a Lisboa na madrugada de 25 de Abril.
O antigo Presidente da República defende que a liberdade não é uma aquisição mas sim um combate. “É um combate que se trava todos os dias e em que todos devemos estar empenhados. Temos que fazer com que a liberdade seja cada vez mais profunda e chegue a atingir a liberdade positiva, onde o homem faz o que pensa e o que quer, sem atropelar leis, o homem não pode ter medos. Este é um caminho difícil e muito longo mas quando o homem conseguir olhar para o seu semelhante como irmão e entender que somos todos iguais, essa libertação e democracia almejadas serão alcançadas”, referiu.
Questionado por O MIRANTE à chegada à conferência, Pedro Passos Coelho referiu que Santarém tem sabido tirar partido do facto de ter sido, e continuar a ser, a Capital da Liberdade. “Creio que isso é reconhecido por toda a gente e o município tem feito bastante por recordar ao país esse papel importante que veio a ter no dia da liberdade”, afirmou.
O presidente do PSD admite que a liberdade que actualmente existe em Portugal talvez não seja a que se esperava após a Revolução dos Cravos. “As expectativas em 1974 eram muito elevadas mas houve um progresso significativo no país ao longo das últimas décadas. Será miopia confundir os desaires que tivemos, as decepções que registamos, com a ideia que o 25 de Abril não valeu a pena. Existe uma evolução muito grande e conseguiu-se o que se pretendia que era viver em democracia”, sublinha.
Alberto da Ponte, actual consultor da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas (que fabrica a cerveja Sagres), e o principal responsável por trazer o amigo Ramalho Eanes à iniciativa “Conferências da Liberdade”, afirma que Santarém tem sabido valorizar o facto de ser uma cidade incontornável do 25 de Abril mas não o suficiente. “Esta iniciativa da concelhia do PSD, que é muito abrangente, pode ser o pontapé de saída para Santarém chegar à ambição que merece de ser, de facto, a Capital da Liberdade”, reforçou.
Martim Avillez Figueiredo, moderador do painel da tarde, considera que este evento marca a importância que Santarém teve no percurso que Portugal tem percorrido de aprender a viver em liberdade. “Santarém precisa de mais iniciativas como estas para continuar a assumir essa memória histórica que está um bocadinho esquecida. O município precisa de não deixar morrer essas memórias tão relevantes da nossa história recente”, disse.
O consultor, que recentemente deixou o Grupo Impresa, afirma que ainda estamos todos a aprender a usar a liberdade alcançada em Abril de 1974 em benefício de todos e a saber transformá-la num activo que melhore a vida de toda a gente. A iniciativa juntou cerca de uma centena de pessoas, a grande maioria ligados ao partido organizador.

Conferências da liberdade em Santarém todos os anos

O presidente da concelhia do PSD de Santarém, José Gandarez, garantiu na abertura das primeiras conferências da liberdade, na cidade, que esta iniciativa é para continuar todos os anos em Abril, porque “um dos papéis dos partidos é reflectir”. As primeiras conferências, organizadas pelo PSD de Santarém, mas abertas à sociedade civil, decorreram no sábado, 23 de Abril, no Centro Nacional de Exposições, e teve como oradores o ex-presidente da República, Ramalho Eanes. A iniciativa visa juntar pessoas de todos os quadrantes. Para José Gandarez o 25 de Abril, o 25 de Novembro, a democracia, a liberdade, “exige que não nos resignemos com o presente”.

À Margem

Sentadas na segunda fila, duas senhoras, já com alguma idade, aguardaram pacientemente pelo final do discurso de Passos Coelho, para se dirigirem até ele. Uma das senhoras dá-lhe um beijinho e confessa que veio propositadamente de Sintra só para o ouvir. O presidente do PSD agradece afavelmente e recorda-lhe que são vizinhos uma vez que vive em Massamá.
No início do seu discurso, Ramalho Eanes mostra que, apesar do seu ar rígido, tem sentido de humor. O general afirmou que existem dois grupos de pessoas de quem os portugueses dizem bem: os que já morreram e os que não estão longe de bater as botas. “Eu sei que já não caminho para novo”, disse bem-disposto, enquanto agradecia a homenagem de que foi alvo.
Também o professor universitário, Luís Campos e Cunha, que foi ministro das Finanças durante os primeiros quatro meses do primeiro governo de José Sócrates, mostrou que tem um sentido de humor apurado. O ex-ministro disse que ter sido ministro de um governo que ruiu não é currículo, é cadastro. “Mas como só lá estive quatro meses pode dizer-se que estou em liberdade condicional”, disse provocando a risota geral da plateia.
Cristina Campos saltou de vogal do PSD de Santarém para responsável das iniciativas concelhias do partido, andando todo o dia numa grande azáfama para que nada corresse mal durante as conferências. Cristina Campos é esposa de António Campos que já foi deputado do PSD, dirigente da Segurança Social de Santarém e é presidente da Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém.

“Não é a vitória e a derrota que importam mas o espírito de missão”

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