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A trabalhar aos 92 anos e sem vontade de parar

A trabalhar aos 92 anos e sem vontade de parar

Luís Pereira, empregado de escritório em Santarém, é um caso exemplar de longevidade activa. Quando se reformou, há mais de vinte anos, rapidamente se apercebeu que aquela vida com tanto tempo livre e sem nada para fazer não era para ele. Por isso, quando surgiu a oportunidade de continuar a trabalhar não hesitou. Sem remuneração e sem horários rígidos mas com o mesmo empenho de sempre. E sem querer ouvir falar em férias.

“Se não estivesse a trabalhar, já há 20 anos que estava na cova de barriga para o ar”. É assim que, ao telefone, enquanto marcávamos a conversa que dá origem a este artigo, Luís Pereira resume metaforicamente o motivo por que continua a trabalhar voluntariamente e sem remuneração, apesar de estar a caminho dos 93 anos, que cumpre a 31 de Julho. Aliás, nesse primeiro contacto, o homem que colabora no escritório da empresa Tecnagás - Paulo M. S. Abreu Lda., em Santarém, avisou logo que não tinha muito tempo para conversas porque o dever o chamava.
Luís Pereira, 92 anos, não tem dúvidas: o segredo para a longevidade activa está no trabalho e numa vida regrada, apesar de só ter deixado de fumar há quatro anos. “Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”, sintetiza. Toda a sua vida foi empregado de escritório em firmas de Santarém, até se reformar, já lá vão mais de vinte anos. Essa nova fase da vida não lhe encheu as medidas - “estava a dar em doido por não ter nada para fazer” - e dois anos depois aceitou o convite do dono da firma (entretanto falecido) onde ainda hoje colabora na área da contabilidade, sem qualquer retribuição e sem horário rígido, sublinha. Tal como é por vontade própria que não tira férias. E os fins-de-semana e feriados, tão aguardados pela maior parte da população activa, são para ele um aborrecimento, pois significam dias para ficar “metido em casa”.
Estudou na escola do antigo Ateneu de Santarém, onde tirou um curso de caligrafia, e mais tarde tirou um curso comercial por correspondência. “Os primeiros cem escudos que ganhei foi na Caixa de Crédito Agrícola de Santarém, tinha talvez 16 anos”, conta. Estava no início de uma carreira profissional sempre ligada à área administrativa e financeira em empresas.
Hoje, a maior parte dos seus dias é passada no escritório da empresa de artigos e equipamentos para hotelaria, a meio da Rua Alexandre Herculano (vulgo Calçada do Monte), a trabalhar na contabilidade. A escrita é feita à mão, “à antiga portuguesa”, porque não quer nada com computadores. “Nem pensar nisso, não é para mim”, afirma. Quando está em casa, prefere a telefonia à televisão, a não ser que haja futebol ou corridas de toiros.
Viúvo há muitos anos, pai de um casal, avô e bisavô, Luís Ilídio Pereira esteve muitos anos ligado aos Bombeiros Voluntários de Santarém, onde foi dirigente e operacional. Pertence ao quadro de honra da centenária associação humanitária e diz que viveu ali muitos momentos marcantes da sua vida. “Passei muitos natais e passagens de ano no Hospital de São José, em Lisboa”, diz.
O desporto foi outra companhia na sua juventude. Jogou basquetebol e foi futebolista nos Empregados do Comércio “Caixeiros” de Santarém, até sofrer uma lesão grave num joelho. Foi ainda treinador de basquetebol na Polícia de Santarém e teve sempre uma participação activa na comunidade. Actualmente, diz que já é raro ir aos bombeiros matar saudades e que a sua vida é passada, basicamente, entre o trabalho e a casa.
Percebe-se que Luís Pereira está de bem com a vida - “dou-me bem com os meus filhos e tratam-me bem aqui na empresa” - e para já não se imagina confinado a um lar, pois sente que ainda pode ser útil. Com uma agilidade invejável para a idade e uma memória bem oleada, não é homem de ficar parado ou de ir para o café ou para o jardim como fazem muitos reformados. “A minha vida foi sempre a trabalhar”, realça. E garante que assim vai continuar a ser, enquanto puder.

A trabalhar aos 92 anos e sem vontade de parar

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