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Chumbou na quarta classe e teve como castigo a sua “bênção”: ser campino

Chumbou na quarta classe e teve como castigo a sua “bênção”: ser campino

José Mendes é natural do Cartaxo e na edição deste ano das festas do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira, vai ser homenageado pelos seus pares

Foi por ter chumbado na antiga quarta classe que José Mendes, 72 anos, teve a sua “bênção”: trabalhar no campo e ser campino. Aquilo que devia ter sido um castigo transformou-se na sua paixão e naquilo que até classifica de “umas férias”, admitindo que nas escola só andava a passear os livros.
José Mendes nasceu no Cartaxo e conta que no mesmo dia em que veio ao mundo nasceu também um cavalo na cocheira existente ao lado do quarto da Casa Manuel Duarte de Oliveira, onde o seu pai trabalhava. Esse cavalo seria o primeiro a ser montado por si, aos 8 anos. Apesar do gosto em trabalhar no campo e com os cavalos já desde tenra idade, a paixão pelos toiros foi sempre maior. “O meu pai era o maioral das mulas e das carroças e como a Casa de Manuel Duarte de Oliveira estava a acabar com os toiros na época, eu só os apanhei de passagem em miúdo. Dão outra emoção”, afirma o campino.
Pouco depois da tropa, José Mendes viu-se forçado a ser camionista por alguns anos numa fábrica no Cartaxo para conseguir mais dinheiro para sustentar o seu filho asmático. “O dinheiro era pouco e tive de optar. Ser motorista era mais compensador. Apesar de trabalharmos de dia e de noite víamos dinheiro, enquanto no campo víamos metade ou menos de metade”, revela.
No entanto, e durante esse período, José acompanhou as actividades da Casa Agrícola Pedro de Santos Lima na qual entrou definitivamente aos 42 anos. O campino refere que essa era a única casa na época no Cartaxo onde as condições eram melhores, apesar da falta de mão-de-obra já se notar.
Actualmente José Mendes trabalha na herdade do Emaús, em Castanheira do Ribatejo, com a ganadaria Canas Vigouroux que no dia 9 de Março foi notícia em
O MIRANTE: o maioral Joaquim Mendes, seu filho, foi colhido por um toiro, que lhe fez um rasgo profundo na perna direita. O seu pai afirma que, apesar do acidente, não se arrependeu nesse momento de lhe ter passado o gosto pelos toiros porque “são acidentes de ofício”.
Mas ter presenciado o acidente custou-lhe muito: “O toiro pregou com ele ao chão, levantou-o ao ar duas vezes e eu como estava por perto para fechar a porta para onde as vacas iam, chamei o toiro e ele lá o largou”.
José Mendes também já apanhou outros sustos na pele, mas nenhum o fez parar com a sua actividade, lembrando que uma vez um toiro matou a égua em que estava montado e chegou a pensar que essa seria também “a sua vez”.

Homenagem dos pares é uma grande responsabilidade
José Mendes sublinha a surpresa pela sua escolha na homenagem da edição deste ano do Colete Encarnado. “Eu disse logo aos meus colegas que não sabia se merecia essa homenagem, mas recebi-a com a maior responsabilidade”, afirma. No dia 2 de Julho o campino vai ser distinguido em Vila Franca de Xira num certame que para si “é a mãe de todas as festas” ligadas ao toiro em Portugal. “É uma grande honra para mim, é muito especial e um orgulho muito grande que me fica para o resto da vida”, reforça.
O campino vê com tristeza a “tendência” para o fim da sua arte, apontando para o facto dos miúdos não poderem trabalhar ou ajudar nas lides do campo, mas conforma-se com a evolução das coisas. “Gostar é uma coisa, andar nas festas de barrete ao lado é muito bonito, mas não são só as festas de barrete ao lado que contam, é o que está por detrás. É o trabalho todo no campo”, sublinha José Mendes.
Quanto à polémica em torno das touradas, custa a José Mendes falar sobre o assunto, mas mesmo assim há algumas palavras a dizer: “Não há ganadeiro nenhum que crie um toiro só para carne porque não dá rendimento, este foi criado também para a tourada. Estão a tentar acabar com uma raça porque ninguém vai criar aquilo para carne se acabarem com a tourada. E estão ainda a acabar com muitos empregos. Há coisas que não compreendo bem: ninguém proíbe as crianças de ver filmes nas televisões com indivíduos a matar outras pessoas e de ver filmes de terror e sangue por toda a parte... Os pais é que têm o direito de decidir que os filhos não assistam às touradas”.

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