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Fachadas e muros de Riachos transformados em telas

Fachadas e muros de Riachos transformados em telas

Pinturas de murais decoram a vila por altura de mais uma Bênção do Gado. A iniciativa nasceu há quatro anos pela mão do Núcleo de Arte de Riachos e conta com a colaboração da comissão de festas e da população.

Algumas latas de tinta, a mão talentosa de cerca de 20 pessoas e a generosidade dos moradores foram os ingredientes necessários para se pôr mãos à obra e fazer de muros e fachadas de casas de Riachos as telas onde foram ou estão a ser pintados quadros alusivos às tradições e costumes locais. Uma iniciativa que antecede a festa da Bênção do Gado que se realiza de 22 a 31 de Julho.
São cerca de 50 os murais pintados naquela vila do concelho de Torres Novas num projecto que começou há quatro anos. Já era tradição durante os festejos engalanarem-se as ruas com objectos ligados à agricultura e com flores de papel, à semelhança do que se faz em Constância ou Campo Maior. Mas a comunidade quis fazer algo diferente e que fosse tipicamente riachense e daí surgiu a ideia das pinturas de murais. Começou-se pela Lenda do Senhor de Jesus dos Lavradores e de repente foram-se espalhando.
Os moradores viram com alguma desconfiança inicial o facto de lhes irem pintar as paredes mas foram vendo o resultado e acabaram por aderir. O resultado foram 40 murais pintados e desenhados em muros e paredes que estão a ser restaurados para a edição deste ano, a pedido dos moradores, sendo também desenhados alguns novos, cerca de uma dezena.
Este ano a tinta é de melhor qualidade e é patrocinada por uma empresa que está a ajudar, mas há quatro anos atrás foi paga pelos próprios riachenses através de um peditório. A iniciativa partiu do Núcleo de Arte de Riachos, com a colaboração da comissão de festas, e os murais são desenhados e pintados pelos seus talentosos pintores. Os muros são de moradores ou de associações que os cederam para o efeito.
Muros, paredes, cada canto serve para pintar um mural que reflecte as tradições de uma vila ligada ao campo e à agricultura. As representações são várias e de um rigor extremo, desde a Lenda do Senhor Jesus dos Lavradores, que está na génese da festa da Bênção do Gado, à descamisada, às antigas tabernas da vila, ao cavalo ribatejano, às tradições taurinas, à apanha da azeitona ou à ordenha.
Há também homenagens a figuras importantes de Riachos, como Joaquim Santana que há anos lidera o Rancho Folclórico “Os Camponeses” que está representado num dos murais junto à Casa do Povo. José Marques, antigo presidente da junta de freguesia e ex-vereador na Câmara de Torres Novas, figura nas paredes do Museu Agrícola.
Manela Luz, nome artístico, está a pintar a descamisada na parede do Núcleo de Arte de Riachos. Trabalhava com crianças e pinta por amor porque, segundo ela, deposita na pintura o que lhe vai na alma. Pediram-lhe para pintar a descamisada, ficou pouco receptiva inicialmente, não gostou muito da ideia mas decidiu tentar. Já lá vão três semanas de trabalho mas “quem corre por gosto não cansa”, diz.
Fernando Gorgão, 55 anos, começou a pintar um mural há dois dias e está quase a terminar. Pinta no NAR há cerca de 9 anos. Trabalha na Noruega e está de férias, aproveitando para fazer o que mais gosta: pintar. Para além de restaurar os antigos murais da sua autoria, está a pintar dois cavalos numa parede de um espaço que irá receber uma exposição. Escolheu esse motivo porque “representa o espírito ribatejano, e a nossa verdadeira afición ao cavalo e a proximidade com a Golegã”.
Num antigo lagar de azeite pinta Maria Clara Silva que descobriu a pintura quando estava desempregada. Encontrou nela um escape e um passatempo que a ajudou numa fase difícil da vida. Em conjunto com a sua colega Ana Triguinho pinta há duas semanas os utensílios utilizados no lagar.
Miguel Martins está a restaurar uma pintura com a ajuda do filho e considera que estes murais são “um fenómeno único em Portugal, representando tradições em volta de uma festa”. Os murais são já um marco da festa e algo que desperta muita curiosidade entre os riachenses e a quem vem de fora à Bênção do Gado, diz Pereira Jorge, presidente do NAR. O património edificado de Riachos “é pouco ou nenhum” e esta iniciativa pode ser uma ajuda para afirmar Riachos a nível cultural. “É um património cultural incalculável que está ali”, refere.
Os murais podem ser visitados durante as festas da Bênção do Gado mas irão permanecer em vários pontos da vila para quem os queira apreciar.

Fachadas e muros de Riachos transformados em telas

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