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A caspiada foi registada mas ainda não contribui para a economia de Pontével

A caspiada foi registada mas ainda não contribui para a economia de Pontével

Falta promoção e empresa que comercialize o bolo com formato de folha de couve. Desde 2011 que Pontével tem registada a marca da Caspiada, um bolo que nasceu no meio da população mais pobre desta localidade do concelho do Cartaxo. O presidente da junta reconhece que o registo não trouxe grande alento à freguesia e que falta um trabalho profundo de promoção.

Custa dois euros, é fonte de rendimento para as colectividades de Pontével e desde 2011 que é uma marca registada. O bolo da caspiada é marca dessa freguesia do concelho do Cartaxo e há nove anos que tem uma feira com o seu nome integrada na Artével, certame de artesanato. O registo da marca e a defesa local deste doce traz alguns curiosos à freguesia que procuram o bolo, mas há ainda um trabalho de fundo a fazer como admite o presidente da junta, Jorge Pisca.
“A caspiada é um balão de oxigénio para as colectividades locais e até chega a Lisboa através de algumas encomendas feitas a pontevelenses que trabalham na capital, mas ainda há um trabalho profundo a fazer para que exista uma economia à volta da caspiada”, afirma o autarca, admitindo que já houve conversas informais e intenções nesse sentido mas ainda não se desenvolveu uma estratégia económica.
“As colectividades têm na caspiada mais uma receita extra para poder financiar os seus projectos, mas para que a imagem do bolo dê ainda mais nome a Pontével é preciso fazer um trabalho para que alguma empresa, através de uma concessão, possa elevar ainda mais o nome da caspiada e de Pontével”, refere Jorge Pisca. O autarca realça que não se pode deixar de fora as colectividades, porque são estas que têm mantido vivas as caspiadas. “Podem dizer que estamos a tirar o pão da sua boca e tem de ser falado com elas também”, reforça o presidente da junta.

Um bolo em forma de folha de couve
A caspiada nasceu no meio das pessoas mais pobres de Pontével que queriam oferecer um doce aos vizinhos e visitantes. Às sobras da massa do pão que ficam agarradas no alguidar adiciona-se mais massa, junta-se açúcar louro, azeite, raspa da casca de um limão e canela em pó. Feita uma bola com a massa, achata-se o bolo e coloca-se em cima de uma folha de couve untada em azeite, que serve de tabuleiro e que dá forma ao doce. Depois da cozedura no forno, preferencialmente a lenha, basta polvilhar com canela em pó e tem-se uma caspiada.
“Desde miúdo que eu conheço as caspiadas e que via os particulares fazê-las”, afirma Jorge Pisca. O presidente da junta de Pontével tem 53 anos e não consegue precisar quando é que o interesse em torno da caspiada aumentou, mas arrisca que tenha sido há uns 20 anos. Por essa altura os pontevelenses começaram a vender o bolo e em 2007/2008 “Os Quarentões” (grupo de pessoas de Pontével que fazem 40 anos e que organizam os festejos anuais em honra de Nossa Senhora do Desterro) desenvolveram mais a parte comercial deste bolo típico da vila, criando a necessidade de o registar.
Em 2011 o registo concretizou-se porque, como sublinha Jorge Pisca, “a marca pertence a Pontével”. “Percebeu-se que alguém podia tomar a dianteira e registar o bolo que deixava de ser de Pontével e passava a ser de um particular ou de uma empresa qualquer. E para salvaguardar a caspiada a freguesia entendeu - e muito bem - defender um bolo tradicional da vila e registá-lo”, refere.
O processo da junta para registo no Instituto Nacional da Propriedade Industrial teve o apoio da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant, da qual faz também parte o presidente da junta. O registo não impede nenhum particular de as fazer para consumo próprio mas não para comercializar. “Os particulares só podem vender as caspiadas na Artével, só damos licença para que as possam comercializar nessa altura”, refere o autarca. A licença e o certificado são gratuitos.
A receita nunca foi patenteada porque, segundo Jorge Pisca, “basta adicionar algo diferente, como erva-doce por exemplo, que deixa de ser caspiada e passa a ser outro bolo”. “Aliás, tentaram fazer com farinha de milho, mas não resultou. Não fica tão doce, o sabor é outro, o bolo fica um pouco mais amarelo e as caspiadas são de farinha de trigo”, sublinha.
Quanto às colectividades da localidade, têm um regime especial para a comercialização das caspiadas ao longo de todo o ano. Por enquanto os mais beneficiados com a caspiada são o Rancho Folclórico de Pontével e a Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense, que fazem e vendem as caspiadas no mesmo dia, de 15 em 15 dias, e para os Quarentões, que fazem os bolos tradicionais de Pontével também de 15 em 15 dias, mas nos intervalos das duas primeiras associações.

“Fui a primeira a vender as caspiadas”

Paula Calisto tem 60 anos, é cozinheira na Escola D. Sancho I de Pontével, esteve mais uma vez na Artével a vender a sua doçaria e afirma a O MIRANTE ter sido das primeiras a comercializar as caspiadas. A cozinheira é a única a manter a folha de couve no bolo na hora da venda e sublinha que assim é que as colectividades deveriam fazer. Já experimentou com a folha da figueira como base, mas concluiu que o sabor do bolo fica diferente.
“A geração dos meus avós já fazia as caspiadas e com o passar do tempo deixou-se de fazer. Como gosto muito de bolos experimentei fazê-las, há mais de 20 anos, na Festa dos Fazendeiros [certame que recupera as tradições da vila e que se realiza de dois em dois anos]. E eu era a única que estava lá”, conta Paula Calisto. “Aquilo teve muita saída e até havia uma fila enorme de pessoas à procura das caspiadas”.
Depois do sucesso, Paula Calisto refere que outras pessoas começaram a vender, assim como as colectividades, até que a junta decidiu registar a marca, “mas não falaram comigo porque eu fui a primeira a fazê-las em Pontével”, aponta.
“Hoje já só faço caspiadas para a Artével”, refere, salientando que costuma fazer outros bolos, como os bolos de noivo, o bolo do pão, os suspiros ou as pipias. “Mas a receita das pipias não dou, nem que o rei da Rússia cá venha!”, conclui.

A caspiada foi registada mas ainda não contribui para a economia de Pontével

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