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“Aprendi a nadar no Sorraia e cheguei a correr à frente de toiros bravos”

“Aprendi a nadar no Sorraia e cheguei a correr à frente de toiros bravos”

Luís Figueiredo, 63 anos, médico oftalmologista, passou a infância em Benavente. Foi lá que aprendeu as primeiras letras, aprendeu a andar de bicicleta e aprendeu a nadar no Rio Sorraia.

Foi também lá que aprendeu a respeitar os toiros. Actualmente os seus dias são inteiramente dedicados à sua profissão de médico oftalmologista. Nos poucos tempos livres que tem gosta de passear, apanhar sol, observar as outras pessoas e admirar pintura. Gosta particularmente de Chagall e dos pintores da escola de Paris como Picasso, Matisse e outros mas também de Graça Morais.

Fiz a escola primária em Benavente com o rigoroso professor Salvado. Foi também em Benavente que passei a minha infância e adolescência. Até ao 5º ano estudei no Liceu, no Colégio de Nossa Senhora da Paz.
Aprendi a nadar sozinho no Rio Sorraia, a andar de bicicleta, a correr à frente dos toiros bravos. Também aprendi as diferenças sociais. Tinha colegas que andavam descalços e rotos e outros que andavam de carro com motorista. O Sexto e o Sétimo anos já foram feitos em Lisboa no Liceu D. João de Castro. Primeiros namoros, primeiros afectos, primeiro emprego.
Iniciei a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa muito cedo. Estudei e trabalhei ao mesmo tempo. Era um trabalho muito gratificante, como estagiário no Instituto Português de Oncologia, com o Dr. Francisco Gentil Martins. Só terminei esse estágio quando iniciei o Internato Médico no Hospital de Santa Maria.
Casei cedo, tive filhos cedo e tenho dois netos. O meu dia é longo começando normalmente pelas 8 horas da manhã e acabando por volta das 21 horas. Passo dois dias por semana em Benavente, em consultas todas as segundas-feiras e no Bloco Operatório às sextas-feiras, na Santa Casa da Misericórdia.
Todos os meus dias, de segunda a sábado, são inteiramente dedicados à minha profissão. É uma entrega total que não me deixa nenhum tempo livre. É uma felicidade para mim o doente entrar com um problema, quer no consultório quer no bloco operatório, e sair bem, por vezes com um ar de felicidade estampado no rosto.
Esta circunstância de fazer bem é extremamente gratificante. Gostava que os mais jovens pudessem, como eu, ter uma profissão que os preenchesse e os fizesse tão felizes.
Lembro-me agora da maravilha que foi, na Escola Primária, o primeiro dia em que usei óculos. Foi quando passei a ver claramente aquilo que estava escrito no quadro. Até aí, o que via era apenas um borrão.
Nos meus poucos tempos livres gosto de passear, apanhar sol, observar as outras pessoas, ver pintura, ver as belas obras de Chagall, da escola de Paris, ou de Graça Morais que sabem tão bem passar para a tela a realidade metamorfosiada e transformada para deleite de quem as contempla e de quem as interpreta.
As minhas férias durante muitos anos foram passadas no campo, por questões logísticas. Agora, sempre que posso vou para a praia onde ao nadar me recordo dos meus dias de praia no calminho Rio Sorraia de há quase 60 anos.
A informação, quer escrita quer falada, põe-nos a par da realidade do mundo de hoje em tempo real. É uma fonte de transmissão de conhecimentos fabulosa e cada vez mais desenvolvida.
O Ribatejo é rico em termos agrícolas mas também em valores humanos. Alegro-me também pelas pessoas que sofreram emocionalmente e fisicamente durante décadas viverem agora uma liberdade que não se conhecia na década de cinquenta. Aos toiros acho que deve ser dada e respeitada a liberdade, como a nossa, pois respiram o mesmo que nós e pisam o mesmo chão.
O último filme que vi e me fez pensar foi The Dress Maker. Trata-se do regresso triunfal de uma personagem que foi forçada a sair da terra onde vivia para pagar por um crime que não cometeu. Com o esclarecimento da realidade, foi possível, após isso, voltar de novo para continuar o seu caminho de vida.
As redes sociais são um sinal de grande avanço neste século. Só quem não quer acompanhar o progresso é que pode renunciar a elas. Bem utilizadas são fonte de conhecimento e grande interacção entre pessoas. No século passado inventaram a energia eléctrica, a televisão o telefone. No século actual foi a Internet e os telemóveis.

“Aprendi a nadar no Sorraia e cheguei a correr à frente de toiros bravos”

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