“O meu maior sonho é ir para os Estados Unidos da América fazer motocross e ganhar”, afirma timidamente Martim Espinho. O piloto de dez anos de Samora Correia quer ser profissional na modalidade onde já apresenta bons resultados e para já não se vê a fazer outra coisa, embora a sua vida ainda esteja no começo.
O pai chegou a fazer algumas corridas de todo-o-terreno e passou para o filho, logo aos três anos, a paixão das motas ao comprar-lhe uma KTM sem motor para brincar e hoje já não consegue competir com ele. “É muito rápido”, afirma entre risos Nélson Espinho.
Aos cinco anos Martim teve a sua primeira mota a motor (uma KTM 50) e aos fins-de-semana começou a praticar em casa e em descampados. Aos oito anos, e depois de treinos em pista no concelho de Salvaterra de Magos, os pais inscreveram-no numa prova no Granho. Nessa prova tinha chovido muito e a mãe, Verónica Cadete, conta que Martim caiu e teve de ir para o hospital por precaução, apesar de não ter tido nada. Martim pouco se recorda desse episódio mas afirma peremptoriamente que não teve medo e à segunda prova mostrou o seu talento em Soure (distrito de Coimbra) onde conseguiu um segundo lugar.
Depois de provas isoladas veio uma mota com mais potência (KTM 65) e em Março do ano passado Martim entrou no campeonato nacional. Mas antes, em Fevereiro, teve um grande susto ao partir uma clavícula o que impediu a realização da pré-época. Apesar disso, no final da competição regular conseguiu um terceiro lugar na categoria de infantis B. “Pensei em desistir, mas como a prova a seguir correu bem, continuei”, afirma o jovem.
Martim está agora a realizar o seu segundo campeonato nacional de motocross (categoria de infantis B) onde está em primeiro lugar com mais 11 pontos do que o segundo, tendo duas provas por realizar em Setembro que o podem sagrar como campeão.

Estudos não se ressentem
“Não é fácil treinar e estudar, mas até agora não chumbei”, sublinha Martim, que passou para o 6.º ano na C+S de Samora Correia onde muitas vezes aparece com arranhões e nódoas negras. Na escola durante muito tempo ninguém acreditou que andava de mota e agora até já leva um amigo para assistir.
Os treinos acontecem em Salvaterra de Magos, Póvoa de Santa Iria, Pegões ou Setúbal e incluem ainda BTT, natação, corrida e ginástica, com indicações do treinador Hugo Santos, piloto de motocross que pertence à Federação de Motociclismo de Portugal. “Temos uma carrinha onde levamos as motas para os treinos e provas e no ano passado fizemos 11 mil quilómetros. Este ano, ainda estamos a meio, e já fizemos 12 mil”, afirma Nélson Espinho.
Os custos são suportados pelos pais, entre combustíveis e comida, mas o jovem conta também com o apoio da Câmara de Salvaterra de Magos que lhe paga a licença desportiva. Nélson Espinho lamenta a falta de apoio do concelho onde reside. “A região de Salvaterra tem tradição no desporto motorizado e a Câmara de Benavente ainda não nos apoiou com a cedência, por exemplo, das piscinas para os treinos, sempre era um dinheiro que se poupava”, diz.