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Parece que os bombeiros são desgraçadinhos mas não é tanto assim

Parece que os bombeiros são desgraçadinhos mas não é tanto assim

Solidariedade é bem vinda mas Estado paga às corporações para apagarem fogos e alimentarem pessoal. Operacionais referem que não há problemas de logística na alimentação aos bombeiros que estão a combater incêndios. E há quem diga que as ondas de solidariedade para levar água e comida às corporações pode dar uma imagem miserabilista do sistema. O presidente dos Bombeiros de Almeirim sugere mesmo que seria mais útil as pessoas tornarem-se sócias das associações.

As campanhas de solidariedade que se têm multiplicado nos últimos dias por causa dos incêndios no país, com as pessoas a fornecerem água e alimentos, “podem dar a ideia de que os bombeiros são uns desgraçadinhos” que não têm apoio mas não é bem assim. A posição é do presidente dos Bombeiros Voluntários de Almeirim, que têm sido mobilizados para vários incêndios no norte do país. Pedro Ribeiro, que também é presidente da câmara, considera que toda a solidariedade é boa mas que esta devia ser canalizada por exemplo para as campanhas de angariação de fundos das corporações ao longo do ano. E sugere mesmo que a melhor forma de ajudarem os bombeiros é tornarem-se sócios das associações. No caso de Almeirim são apenas 18 euros por ano.
Os bombeiros que fazem parte do Dispositivo de Combate a Incêndios Florestais não são voluntários que trabalham de borla. Ganham 45 euros por dia, quer estejam a combater incêndios ou não. Há mesmo quem tire férias do emprego para integrar o dispositivo e ganhar um dinheiro extra. A alimentação nas ocorrências é assegurada pelas corporações de bombeiros locais e pelas autarquias e paga pelo Estado. Pedro Ribeiro refere que o comandante de Almeirim esteve recentemente em incêndios no norte do país e não tem nada a apontar à logística.
É certo que muitas vezes os bombeiros, fora da época de incêndios, precisam de dinheiro para equipamentos das viaturas e para reparação de avarias. Mas durante a época de incêndios a Autoridade Nacional de Protecção Civil assegura o pagamento das despesas com o combate aos fogos. O gasóleo das viaturas, as avarias, os equipamentos, como mangueiras que se estraguem ou queimem, os estragos em acidentes nos teatros de operações são pagos pelo Estado. Pedro Ribeiro não se queixa destas situações e apenas entende que o valor a pagar aos bombeiros devia ser aumentado mais cinco ou 10 euros.
O presidente da Federação Distrital de Bombeiros, e comandante dos Municipais de Tomar, Carlos Gonçalves, confirma que a logística “é assegurada pelo sistema”. O que pode acontecer não é a falta de comida mas as horas a que se come, às vezes janta-se de madrugada, mas isso tem a ver com a situação operacional. Reconhece que nem sempre é fácil abastecer os bombeiros que estão na linha da frente. Mas por aqui também parece não haver problemas de maior. O Comandante Operacional do Agrupamento Centro Sul (que abrange o distrito de Santarém), Joaquim Chambel, refere que os bombeiros levam rações de combate para 24 horas por uma questão de segurança em caso de ocorrer uma falha.
Carlos Gonçalves entende estas ondas de solidariedade como uma forma de as pessoas sentirem que podem participar por não poderem combater incêndios. “É uma maneira calorosa de não ficarem indiferentes”. O comandante sublinha que pode ser útil a oferta de bens para fazer chegar aos combatentes da linha da frente, comentando que é preferível ir levar comida aos quartéis do que andarem nas zonas de fogos a fotografarem e a complicar o trabalho dos operacionais. Joaquim Chambel admite que em locais com pouca população possa ser difícil ao comércio local fornecer a quantidade de bens alimentares, para 400 ou 500 bombeiros, mas garante que a logística tem sido assegurada sem problemas e que as câmaras costumam mobilizar as instituições, como lares, para confeccionarem comida.

Ajuda bem-vinda nas alturas próprias

O presidente dos Bombeiros de Almeirim considera que as campanhas de fundos são importantes para comprar material e sobretudo equipamentos de protecção individual dos bombeiros, que custam muito dinheiro. Só umas botas custam em média 150 euros. Pedro Ribeiro diz que este sentimento solidário das pessoas deve ser aproveitado para se disponibilizarem a colaborar nessas campanhas, fora da época de incêndios.
Pedro Ribeiro, que é também presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, considera que, na generalidade, as corporações desta sub-região estão bem apetrechadas. Mas admite que em algumas zonas do país existam dificuldades, ou, por questões de gestão das associações, ou pela desertificação que leva a que existam poucos disponíveis para serem bombeiros e para ajudarem financeiramente. O comandante de Tomar e presidente da Federação Distrital de Bombeiros, Carlos Gonçalves, revela que na década de 80 chegou a “passar fome nos bombeiros” mas hoje já não existe essa realidade.

ANPC emite esclarecimento
A Autoridade Nacional de Protecção Civil emitiu um comunicado no qual refere que “as manifestações solidárias e voluntárias de apoio aos bombeiros que se encontram no terreno, são naturalmente sempre complementares a uma estrutura planeada e organizada de apoio logístico”. Mas realça que é garantida a alimentação do pessoal envolvido no combate e que essas “despesas são ressarcidas e pagas mensalmente pela ANPC ao respectivo Corpo de Bombeiros, estando definido um valor de referência para o pequeno-almoço, almoço e jantar, bem como para as refeições de reforço e que intercalam as refeições principais”. E acrescenta que é garantido ainda pelas Bases de Apoio Logístico situadas ao longo do país, infra-estruturas que permitem o apoio também no alojamento e higiene dos operacionais das equipas de reforço mobilizadas de outras zonas, “quer na ida para os teatros de operações, quer no seu regresso, após desmobilização”.

Autocarros são uma boa ajuda

A Rodoviária do Tejo, a empresa de transportes colectivos que serve a região, disponibilizou autocarros para transportar bombeiros do distrito de Santarém mobilizados para incêndios fora do concelho e o seu regresso. A oferta foi feita ao presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, depois de este ter divulgado que cedeu um autocarro da câmara para fazer o transporte do Grupo de Reforço para Incêndios Florestais da área de Santarém para Vila Nova de Cerveira. A situação foi comunicada ao Comando Distrital de Operações de Socorro, que já recorreu a um autocarro na quinta-feira. Os autocarros evitam a utilização de mais viaturas das corporações que aquelas que estão nos incêndios e deslocações mais tranquilas e confortáveis.

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