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Tradicionalista Serafim das Neves

A Associação de Defesa dos Animais de Coruche e os forcados amadores daquela vila ribatejana vão ter sede no mesmo edifício que é propriedade da câmara municipal e a fazer fé nas declarações da presidente da assembleia-geral dos defensores dos animais, a convivência vai ser civilizada e não se prevêem guerras nem discussões.

Teresa Romão é uma valente. Tão valente como qualquer forcado do grupo de Coruche. Para além de dizer que tanto lhe faz que os pegadores de toiros estejam na porta ao lado como a cinquenta quilómetros, ainda acrescentou que até gosta de os ver enfrentar os toiros na praça.
Claro que não revelou por quem está a torcer no momento do embate mas qualquer pessoa com bom senso compreenderá que ela se possa divertir mais quando o toiro lindo atropela o grupo todo, depois de atirar o forcado da cara e o primeiro ajuda ao ar.
Também se percebe que o cabo do grupo diga que os forcados são quem mais defende o toiro. Eu quando os vejo todos deitados em cima da cabeça e do lombo do animal também fico com a sensação de que se trata de um gesto protector. Pelo menos enquanto lá estão não há nenhum cavaleiro tauromáquico que possa cravar qualquer ferro no bicho. Só é pena não estarem lá muito tempo e só fazerem aquilo depois de o toiro lindo ter a pele com tantos buracos como os de um passador.
Quando eu era criança havia um vizinho que afiançava que as valentes cargas de porrada que dava na mulher se destinavam apenas a ensiná-la. Naquela altura estavam muito em voga aqueles métodos de ensino e tanto o meu pai como o meu professor também me costumavam dar uns tabefes, altamente didácticos.
Mas as tradições acabam sempre, mais tarde ou mais cedo. Agora os pais já não podem bater nos filhos nem os maridos nas mulheres. E também já não se podem colocar cintos de castidade nas mulheres, nem pregar umas arrochadas valentes nas orelhas de um burro mais teimoso. Isto para não falar da tradição de resolver conflitos em duelo à espada ou à pistola, o que, temos que concordar, ficava sempre mais barato do que meter um processo em tribunal.
Aqui em Portugal, e noutros países como a Espanha ou o México, as touradas fazem parte do lote das boas tradições. Daquelas tradições que devem ser preservadas. E a tal dança que referes entre dois homens de meias de renda brancas e calças justas até está a ser candidatada a Património da Humanidade.
Eu, por mim, também defendo a preservação da tradição de fuga aos impostos. É algo que já vem do tempo do Viriato e continuo sem perceber porque é que não tem tanto valor como perfurar o lombo de um toiro ou dar um pontapé num cão que alça a perna e nos mija nas calças.
Por falar em tradições, lembrei-me agora de um rancho folclórico que defendia de tal maneira as tradições que a secção rítmica era assegurada por um senhor que batia com duas pedras uma na outra como fazia o seu tetra avô. Resta-me saber se para manter todas as tradições as dançarinas também eram obrigadas a usar cuecas de meia perna feitas de tecido grosso. A revolta que eu senti quando vi que as dançarinas de alguns ranchos estrangeiros convidados para o festival usavam cueca fio dental e mostravam as pernas até ao umbigo, para além de estarem maquilhadas e não usarem bigode como manda a tradição.
Uma bacalhau tradicional
Manuel Serra d’Aire

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