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“Tira-me do sério ver pessoas com potencial completamente paradas”

“Tira-me do sério ver pessoas com potencial completamente paradas”

Adriano José Dias, 51 anos, treinador de tiro com arco na Sociedade Euterpe Alhandrense

O treinador da secção de tiro com arco da Sociedade Euterpe Alhandrense, de Alhandra, vive no concelho de Vila Franca de Xira há 12 anos. Natural de Lisboa, Adriano José Dias gosta do ar livre e de fazer viagens com a família. Acha que, a nível desportivo, as potencialidades do concelho estejam subaproveitadas e lamenta que os jovens hoje em dia estejam fechados em redomas. Um dos seus maiores medos são as doenças que o possam atingir a ele ou às pessoas que lhe são queridas.

Estou ligado ao tiro com arco há 27 anos. Comecei no Grupo Desportivo de Azambuja e depois surgiu a oportunidade de vir para a Sociedade Euterpe Alhandrense. Também gosto muito de caminhadas e actividades de ar livre. Desde sempre que o desporto é uma das minhas paixões.
Sou militar da Força Aérea e estou colocado nos depósitos de Alverca. Em 1985 as oportunidades de trabalho no país estavam como estão hoje e eu precisava de ganhar o sustento para a minha vida, optei pela carreira militar. Não estou arrependido, gosto muito da minha profissão e sei que fiz a escolha certa.
Enquanto praticante fui federado em várias modalidades. Naquele tempo não havia tanta oferta desportiva como hoje. Surpreende-me que nas novas gerações não tenhamos pessoas a dar cartas no desporto em Portugal, nem que fosse pela vontade e paixão intrínseca da pessoa de querer praticar desporto. Há oportunidades mas as pessoas não as aproveitam. Não se pode dizer que há um culpado por essa situação, isto tem a ver com a evolução da sociedade para uma vertente mais tecnológica, uma forma mais individualizada de viver a vida.
Metemos os jovens numa redoma tão grossa que hoje nem os vemos lá dentro. Os nossos medos e inseguranças impedem-nos de crescer enquanto jovens. Na minha geração as nossas brincadeiras não eram em frente da televisão. Íamos para a rua, tínhamos experiências diferentes. Eu subia às árvores, corria pelas ruas e se caía e esfolava os joelhos, apesar do inevitável ralhete não era desincentivado mas avisado para ter mais cuidado. Hoje, pela limitação dos pais, muitas vezes os jovens não usufruem de tudo a que tinham direito.
Quando vim para a Euterpe fiquei surpreendido com o seu dinamismo. Não tinha a percepção da dimensão das actividades que são oferecidas. As condições que o concelho tem para a prática desportiva podiam ser potenciadas se Vila Franca de Xira apostasse no desporto e criasse um centro polivalente de desporto, à semelhança do que fez Rio Maior. Isso faria crescer o número de praticantes e chamar muita gente que pratica desporto por competição. Estamos perto do aeroporto, da auto-estrada, somos um concelho plano, com montanha, rio, toda esta oferta para mim está subvalorizada. Há muitas colectividades com muita gente a praticar desporto mas numa perspectiva demasiado amadora para o que poderia ser.
A direcção da Euterpe tem visão. Consegue perceber que apostando em modalidades aparentemente menos atractivas acaba por atrair mais gente. O ano passado fomos campeões nacionais por equipas e tivemos uma campeã nacional. Quando o tempo o permite treinamos no complexo de piscinas da Cimpor e no inverno dentro dos pavilhões. Creio que este ano vamos disparar na escola secundária Alves Redol.
Gosto muito de natureza e de fazer viagens dentro do país com a família. Fazemos muitos percursos a pé, por exemplo o ano passado fomos a Santiago de Compostela a pé, saindo do Porto. Também leio muito e gosto de estudar. Sou obcecado pelo que faço, gosto do pormenor. Sou exigente comigo e com os outros.
Tira-me do sério ver pessoas com potencial paradas. Quando olho para alguém que sei que podia ir mais longe e só não vai porque não consegue despertar dentro dela esse acreditar isso deixa-me revoltado. A nível pessoal confesso que tenho medo das doenças, que possam atingir as pessoas que me são queridas, mas tento não pensar muito nisso.

“Tira-me do sério ver pessoas com potencial completamente paradas”

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