Dois anos depois nem culpados nem indemnizações pelo surto de legionella
Presidente da Câmara de Vila Franca de Xira diz que a justiça tem de ser mais célere. Justiça escuda-se na complexidade da recolha e análise da prova, juntamente com exames periciais também complicados.
Já passaram dois anos desde o surto de legionella que vitimou 12 pessoas e infectou 375 na zona sul do concelho de Vila Franca de Xira sem que tenham sido apurados culpados ou pagas indemnizações aos familiares e às vítimas. Algumas vítimas, escutadas por O MIRANTE, admitem estar a perder a esperança num desfecho para o caso. Dizem-se enganadas pela justiça e pelo Estado e não acreditam que venham a ser julgados os culpados.
Esta semana o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita (PS), já veio lamentar novamente a lentidão da justiça e lembrar que, para dar a todas as vítimas a paz que procuram, é preciso que a lei seja respeitada e os culpados “rapidamente julgados”. O autarca já tem reclamado publicamente da lentidão com que o processo se tem desenrolado, mas notou satisfação por ver a constituição de arguidos e continuou a defender um maior aperto da legislação que regule a qualidade do ar. 90 por cento das vítimas viviam a três quilómetros da torre de refrigeração alegadamente contaminada com a bactéria.
A Procuradoria-Geral da República confirmou no Verão que foram constituídos nove arguidos no processo - as empresas Adubos de Portugal (ADP) e General Electric, juntamente com outros sete técnicos envolvidos no caso - mas a complexidade da recolha e análise da prova, juntamente com os exames periciais de grande complexidade, têm dificultado um andamento mais rápido do processo.
Vítimas desesperam por conclusões
A demora na resolução deste caso está a preocupar algumas das vítimas, que “desesperam” pela conclusão do processo. “Ouvimos na altura os responsáveis dizerem que isto era um crime. E agora, passado dois anos e depois de algumas pessoas terem morrido, já não é crime? Está-se mesmo a ver que a culpa vai morrer solteira”, afirmou à Lusa Joaquim Perdigoto, uma das 375 vítimas da legionella.
Por seu turno, Alfredo Notário, 47 anos, recorda que esteve “à beira da morte”, mas que, felizmente, conseguiu recuperar e voltar ao trabalho. “Na altura fui dos casos mais problemáticos. Estive mesmo entre a vida e a morte. Gradualmente tenho vindo a melhorar, mas ficaram mazelas. Muito cansaço. Nunca mais fiquei a 100 por cento”, resume este militar da Marinha, que esteve 26 dias internado.
Questionada pela Lusa, a ADP Fertilizantes confirmou apenas que mudou de fornecedor no que diz respeito à limpeza e manutenção das suas torres de refrigeração, após o surto em 2014. O surto, o terceiro com mais casos em todo o mundo, teve início a 7 de Novembro e foi controlado em duas semanas. A doença do legionário contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada.