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“A grande obra deste mandato é o reequilíbrio financeiro”

“A grande obra deste mandato é o reequilíbrio financeiro”

Fernando Amorim é vice-presidente de um dos municípios mais endividados do país

Fernando Amorim é vice-presidente da Câmara do Cartaxo desde 2013. Entrou numa altura em que o município estava à beira da bancarrota e houve momentos em que esteve em causa o pagamento dos vencimentos dos funcionários. Até ao final do mandato gostava de arranjar as estradas do concelho mas afirma que é algo complicado uma vez que não há dinheiro. Uma entrevista a O MIRANTE em vésperas do fecho das comemorações do bicentenário da criação do concelho do Cartaxo.

Que balanço faz deste mandato na Câmara do Cartaxo? Da forma como encontrámos o município, com as complicadas questões financeiras, os processos de contencioso, a desorganização interna, e como está tudo actualmente, penso que o balanço é bastante positivo. Hoje os nossos dias já não têm tantas surpresas como tínhamos há três anos. Já não andamos com o coração nas mãos.
Como é que se governa uma das câmaras mais endividadas do país? Com muito trabalho e uma excelente equipa. Os três elementos da maioria, com muito trabalho, muita dedicação e persistência têm resolvido os problemas. A única forma de ter sucesso, seja onde for, é pelo trabalho.
Tinha noção da real dimensão da situação em que se encontrava a câmara quando chegou em 2013? Os problemas financeiros eram conhecidos mas antes de entrar na câmara não tive acesso a nenhum processo. Tinha apenas as informações que o presidente Pedro Ribeiro nos comunicava. Quando cá cheguei chovia no interior da câmara, andei a arredar computadores e mesas por causa da chuva. Aí comecei a assustar-me e pensei “onde é que me vim meter?”.
Que outros problemas tinham que gerir? Havia também falta de entrosamento no funcionamento da câmara. Estavam sempre a aparecer novos processos de contencioso sem estarmos à espera. E havia toda a pressão por parte dos fornecedores que exigiam o pagamento em dívida. Nos primeiros sete meses passei todos os dias da semana a reunir com fornecedores.
E como lidavam os funcionários com esses problemas? Eles tinham a mesma sensação que eu...Chegavam ao seu local de trabalho e não sabiam o que haviam de fazer porque não havia um fio condutor. As peças estavam cá todas mas nenhuma delas funcionavam entre si. Hoje sabem o que têm que fazer e isso faz toda a diferença. O início do mandato foi muito complicado até conseguirmos entrosar tudo.
O que é que levou a este desnorte? Uma das principais causas que levou a este descontrolo foi a ausência dos responsáveis políticos. Preocuparam-se sempre muito com a questão exterior e não se preocuparam com o interior.
Se soubesse o que sabe hoje tinha-se metido numa câmara cheia de problemas? Gosto de desafios e tem sido um grande desafio. Quando entramos neste tipo de projectos começamos do zero. Aqui começamos em valores negativos. Continua a ser um desafio. Estou na política porque gosto, apesar de também gostar muito da minha actividade profissional.
Dá-lhe prazer ter melhorado a situação financeira da câmara municipal? Dá muito prazer não estar preocupado com o pagamento à Rodoviária, por exemplo, ou com o pagamento dos salários dos funcionários, que foi algo que me preocupou muito quando cá cheguei.
O pagamento dos salários aos funcionários esteve em risco? Durante três meses esteve em risco. O dinheiro que recebemos das transferências do Estado não chega para pagarmos os salários. Foi uma aflição.
De quanto é a dívida da câmara actualmente? Actualmente, e incluindo a dívida da empresa municipal Rumo 2020, são cerca de 53 milhões de euros. Quando chegamos era de cerca de 63 milhões. Conseguimos reduzir a dívida em cerca de dez milhões de euros em três anos.
Como é que o têm conseguido fazer? Fomos a todas as obrigações e tentamos negociá-las. Passamos também por um maior controlo na aquisição de bens e serviços. Há um controlo rigoroso. Deixamos praticamente de ter stock. Compramos apenas o que é necessário. Existe uma maior preocupação de todos naquilo que utilizamos. E cortamos também em muitas gorduras.
Como assim? Havia muitas despesas em publicidade, despesas de representação e em horas extraordinárias.
O PAEL (Programa de Apoio à Economia Local) ajudou a equilibrar as contas? O PAEL veio permitir reestruturar a nossa dívida. Tínhamos encargos com juros de mora de cerca de um milhão de euros por ano e agora já não temos que nos preocupar com os juros de mora, o que permite criar alguma folga financeira para criarmos uma tesouraria e conseguirmos gerir melhor o município. A dívida mantém-se mas conseguimos equilibrar as contas. Se não fosse o PAEL seria difícil fugir da bancarrota. Mas é um processo moroso, que vai demorar cerca de 30 anos para recuperar e os principais prejudicados vão ser os munícipes.
Os políticos devem ser responsabilizados criminalmente por má gestão? Qualquer empresário que não cumpre com as obrigações fiscais ou que, por negligência, leve uma firma à falência, cause dívidas a tudo e a todos, o seu património responde por essas dívidas. Porque é que os políticos não estão nesse mesmo patamar? Cada político devia ser avaliado durante o tempo em que está no exercício do poder.
Houve gestão danosa na Câmara do Cartaxo? Danosa não sei, mas houve má gestão. Não foram acauteladas as receitas necessárias para o nível de despesa que estavam a fazer e isso é má gestão. Não podemos gastar mais do que ganhamos por mês. Não podemos ter receitas de 13 milhões e estar a submeter compromissos no valor de 30 milhões, que era o que acontecia.
Gostava de ser presidente da Câmara do Cartaxo? Ser presidente de câmara é um orgulho mas não tenho a ambição do poder. A única coisa que me preocupa é fazer as coisas bem feitas. Nem gosto quando tenho que substituir o presidente de câmara, fico nervoso… Se chego a ser presidente morro três dias antes. (risos).

Família reúne-se nos almoços do movimento associativo

Fernando Amorim nasceu a 21 de Março de 1971 em Pontével, concelho do Cartaxo. É licenciado em Gestão de Empresas e tirou uma Pós-Graduação em Ciências Empresariais. O mestrado está por acabar desde que entrou para a vice-presidência da Câmara do Cartaxo, em Outubro de 2013. É ‘controler’ de gestão na SGS Portugal. Gosta de aprender todos os dias e foi por isso que, há quatro anos, desafiado pela filha mais nova, de 15 anos, começou a tirar um curso de Inglês. Foi presidente da Junta de Freguesia de Pontével entre 2001 e 2009 e nessa altura tirou uma Pós-Graduação em Contabilidade e Finanças Públicas para perceber o trabalho com que tinha que lidar nessa altura.
Entrou na política aos 21 anos pela mão do seu pai, no extinto PRD (Partido Renovador Democrático). Após a extinção do partido passou a militar no Partido Socialista, onde sempre teve o desejo de fazer algo pela comunidade onde está inserido e tentar fazer melhor. “Dizem que sou um sonhador porque a primeira impressão que tenho de todas as pessoas é a melhor possível mas depois apanho com cada desilusão que não é brincadeira. Mas continuo a acreditar na bondade das pessoas”, afirma.
Casado há 23 anos e com duas filhas, de 21 e 15 anos, as reuniões familiares acontecem muitas vezes nos almoços e encontros do Rancho Folclórico de Pontével, que a esposa e uma das filhas integram. A outra filha pertence à Sociedade Filarmónica de Pontével. Apaixonado pelo movimento associativo, para onde entrou aos 18 anos, pertence, actualmente, aos órgãos directivos de seis colectividades. Faz questão de participar em todas as reuniões e de chegar horas.
Natural da capital do vinho, confessa-se apreciador de um bom tinto. Na juventude, as férias de Verão eram passadas na vindima e na apanha de tomate, nos campos de Valada do Ribatejo. Esse dinheiro servia para comprar os livros escolares. Jogou futebol de salão quando trabalhava em Lisboa. Gosta de música portuguesa e do convívio entre amigos.

“Tem que haver um reajuste no preço da água”

O processo do Campo das Pratas voltou à estaca zero. O executivo foi mal aconselhado, como disse o vereador Vasco Cunha? Não fomos mal aconselhados. Até foi ideia do vereador Vasco Cunha que fosse acrescentada informação sobre o processo para enviar para a DGAL [Direcção Geral das Autarquias Locais]. Na sua opinião viria a enriquecer o processo de expropriação. No entanto, a DGAL não entendeu isso e até referiu que essa informação estava em excesso e por isso mandou o processo para trás.
Mas é motivo suficiente para que volte tudo à estaca zero? Não entendo a atitude da DGAL mas a verdade é que eles devolveram o processo e pediram-nos para nos cingirmos aos itens pedidos e com isso temos que começar o processo de novo. Esta situação vai prejudicar ainda mais o Sport Lisboa e Cartaxo, que continua sem campo próprio para treinar e jogar.
O Valleypark tem condições para vir a ser uma grande zona industrial? Tenho essa esperança. O Valleypark tem pernas para andar e vir a ser um grande projecto de desenvolvimento do concelho do Cartaxo. Tem sido bastante procurado mas, face aos constrangimentos legais que temos tido, ainda não conseguimos dar resposta porque não queremos criar falsas expectativas aos empresários.
Quais são as vantagens para quem se instale no Valleypark? O licenciamento está muito facilitado; o nosso preço por metro quadrado é muito inferior à área logística de Azambuja e Castanheira do Ribatejo; está mesmo ao lado da A1, a meia hora de Lisboa e com infraestruturas muito boas. O novo investidor veio ajudar a desbloquear toda a situação e podemos avançar com todos os processos de licenciamento e venda dos terrenos.
O que falta para finalizar o processo Cartagua? É um processo muito moroso, que se arrasta há três anos mas só em Junho deste ano, a Cartagua nos forneceu os dados necessários para tirarmos as nossas conclusões.
Não estão a adiar a resolução deste processo para ano de eleições? Essas acusações são injustas. Segundo a Cartagua nos disse, andaram mais de dois anos a reconstituir o processo do Factor Z e só em Junho deste ano é que nos entregaram o modelo que serviu para aumentarem o Factor Z para cinco por cento ao ano, em 2013. Estamos a identificar o Factor Z àquela data e a tentar chegar a um acordo.
O preço da água vai aumentar? Tem que haver um reajuste no preço da água. O preço da água vai sofrer um aumento já em 2017. Além do aumento da taxa de inflação vai haver um factor de correcção, não tão elevado como em 2013, mas o preço da água tem que ser actualizado. Estamos a negociar para que aumente o mínimo possível.
Que problemas gostava de ver resolvidos até final do mandato? Arrumar o processo Cartagua, fechar o processo do estacionamento tarifado e ver o PAM [Plano de Ajustamento Municipal] aprovado.
Que obra gostava de ver concluída? A grande obra é o reequilíbrio financeiro do município e depois a repavimentação e conservação das estradas em todo o concelho. Os espaço verdes estarem sempre conservados. As coisas estão muito melhor. Não repavimentamos as estradas porque não há dinheiro. Fico muito satisfeito quando conseguimos arranjar uma calçada porque sei que é difícil fazê-lo. Não é pensar pequenino. É o que eu tenho e tenho que dar valor àquilo que tenho.

“A grande obra deste mandato é o reequilíbrio financeiro”

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