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Desistir de ser juíza porque todos mentem em tribunal e forçar-se a acreditar para evitar cometer injustiças

Desistir de ser juíza porque todos mentem em tribunal e forçar-se a acreditar para evitar cometer injustiças

Vânia Neto, directora para a Educação e Cidadania da Microsoft Portugal, e Luciana Nelas, directora da Casa de S. Pedro em Alverca

Frente a frente nas conversas promovidas por O MIRANTE estiveram duas mulheres realizadas profissionalmente, que são conhecidas pelas suas actividades e percursos pessoais e não por serem casadas com homens que actualmente são presidentes de câmaras municipais. O facto de na altura de se casarem terem optado por não ficarem com os nomes dos maridos diz muito sobre a sua forma de ser. Vânia Neto e Luciana Nelas no primeiro dueto com dois elementos do sexo feminino.

Vânia Neto e Luciana Nelas confessam que, como muitas outras crianças, acreditaram no Pai Natal e que sentiram alguma desilusão quando descobriram que afinal quem lhes dava as prendas eram os pais.
“Eu adoro o Natal. Era filha única e acreditei até muito tarde no Pai Natal. Lá em casa deixávamos os sapatos na chaminé para o Pai Natal colocar os presentes. De 24 para 25 de Dezembro eu demorava muito tempo a adormecer porque descia do meu quarto várias vezes para ir às escadas espreitar a cozinha para ver se o Pai Natal já tinha chegado. De manhã era sempre a primeira a levantar-me e ia felicíssima, com os presentes todos, ao quarto dos meus pais para os desembrulharmos. Só descobri que não havia Pai Natal na escola, em contacto com as outras crianças. Tive um choque”, conta Luciana Nelas, presidente da Casa de São Pedro de Alverca, cidade onde reside.
Vânia Neto, directora para a Educação, Cidadania e Responsabilidade Social da Microsoft Portugal (Education & Citizenship Lead), descobriu por ela própria e por mero acaso, a origem dos seus presentes de Natal.
“Descobri quando mudámos de casa e a casa não tinha chaminé. Perguntei à minha mãe como é que o Pai Natal entrava e ela tranquilizou-me dizendo que deixava a porta da varanda aberta. Achei estranho mas acreditei. No entanto, uns dias antes do Natal, quando estava a brincar, encontrei um presente embrulhado debaixo da cama da minha mãe e foi esse o presente que o Pai Natal me trouxe. Acho que tinha cinco anos e disse à minha mãe o que se tinha passado. A partir dali acabou-se o encanto do Pai Natal”, explica.
Casada com o presidente da Câmara Municipal de Santarém, Ricardo Gonçalves, Vânia Neto raramente é tratada como a esposa do autarca porque já tinha um percurso a nível profissional e político antes do casamento e era conhecida por isso. Foi também por isso que decidiu não adoptar o nome do marido na altura do casamento. Mas já lhe aconteceu, pelo menos uma vez, num jantar institucional em que por questões protocolares não ficou junto ao marido, ter descoberto que a organização a identificara no cartão junto aos talheres como Vânia Gonçalves.
Luciana Nelas refere que já lhe aconteceu receber correspondência com o nome Luciana Mesquita, por o marido, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, ser Alberto Mesquita, mas diz que é raro. Quem mais se admirou com o facto de na altura do casamento ter optado por manter o seu nome de família foi a sogra que não evitou um sonoro “Aaaahhh!!!” que surpreendeu todos os que assistiam.
A directora da Casa de São Pedro tem medo de andar de avião desde que teve uma experiência de uma aterragem difícil no antigo aeroporto do Funchal e um regresso com muita turbulência. Apesar disso já fez três viagens a Moçambique desde que tem lá um dos filhos. Voos de onze horas, alguns agitados, em que o marido sofre bastante porque ela com os nervos lhe crava inadvertidamente as unhas no braço provocando-lhe nódoas negras.
Vânia Neto e Ricardo Gonçalves têm uma filha e um filho ainda crianças. A Beatriz tem o nome de uma bisavó de Vânia de quem ela gostava muito e o Afonso, cujo nome foi escolhido após várias conversas em família sobre vários nomes, com a intervenção indirecta da irmã que de vez em quando se referia àquele nome.
Luciana Nelas e Alberto Mesquita, cujos filhos já são adultos, optaram por um sistema “sui-generis”, abrindo a lista telefónica ao acaso. No primeiro filho a lista deu Pê na primeira abertura e Á na segunda e ele ficou Paulo Alexandre. No segundo, o Rui foi escolhido por ser o primeiro nome do pediatra e o Filipe foi ditado pelo método da lista telefónica.

O aeroporto traga malas e os oito dias nos “States” sem qualquer bagagem pessoal

Por trabalhar para uma multinacional Vânia Neto é obrigada a viajar muito de avião e tem várias histórias para contar, desde a paranóia da segurança nos aeroportos americanos à informalidade dos voos domésticos no interior da China onde até galinhas viajam com os passageiros. Nunca apanhou nenhum susto relacionado com perigo iminente de queda ou aterragem forçada mas teve outros percalços.
“O ano passado perderam-me a mala e estive uma semana nos Estados Unidos, na cidade de Orlando, Florida, sem as minhas coisas. Eu não levava absolutamente nada comigo como bagagem de mão a não ser o computador. Ia tudo na bagagem de porão. Não fui com os meus colegas porque o meu marido fazia anos e fui mais tarde num voo que fez escala em Barcelona e foi lá que ficou a minha mala. Mais tarde disseram-me que o aeroporto de Barcelona é o pior do mundo para fazer escala. Em cada 50 malas perdem 40.
A mala só apareceu no dia em que estava para regressar a Portugal mas não me a entregaram. Disseram que em caso de extravio de bagagens elas não podiam viajar no mesmo avião do dono. Ou seja, só voltei a ver as minhas coisas uma semana depois de estar em Portugal.
É uma situação muito desconfortável. Sobrevivi porque estava nos Estados Unidos, numa cidade grande com imensos centros comerciais mas não se pense que é fácil. Quando temos que comprar roupa obrigados e sem tempo disponível para andar a escolher parece que não há nada de que gostemos. Comprei o mínimo indispensável e como estava sempre na esperança que a mala chegasse só comprava ao fim do dia roupa para o dia seguinte e de acordo com a formalidade ou informalidade do programa. Do que trouxe acho que só uso uns ténis. A única coisa positiva foi o facto de haver tamanhos grandes para calçado de senhora. Eu calço o 41 e meio e cheguei a ver lá números 44 para senhora”.

Quando o filho mais novo lhe disse que com pais tão ocupados era como se fosse “órfão”

Luciana Nelas foi chefe de Serviços de Administração Escolar e depois de se aposentar aceitou alguns convites porque pretendia manter-se activa. No entanto teve que impor a si própria certas regras quando percebeu que os filhos, que já tinham perdido o pai para a política autárquica, se sentiam como uma espécie de “órfãos”.
“O meu marido (Alberto Mesquita) começou a ter pouco tempo livre quando foi eleito vereador para a Câmara de Vila Franca de Xira. Os nossos filhos andavam no rugby e era ele que os treinava e os acompanhava mas a partir dessa altura começou a ser impossível fazê-lo.
O primeiro acidente que tivemos de carro foi a caminho de um jogo no Estádio do Jamor. Já íamos atrasados porque o meu marido tinha estado a trabalhar e chovia bastante. Ele ia depressa e despistou-se numa curva. Felizmente não foi nada muito grave. Umas equimoses e eu parti uma mão, coisa que só descobri uma semana mais tarde porque as dores que tinha não paravam. Nessa altura chegámos à conclusão que eram incompatíveis as funções dele com o papel que ele desempenhava como pai. Comecei a ser eu, embora com pouca prática de condução, a levá-los a Lisboa. Como eles só têm 15 meses de diferença, um treinava às segundas, quartas e sextas e outro às terças e quintas. Um tinha jogo ao sábado e outro ao domingo, ou seja, fiquei uma condutora muito experiente em pouco tempo.
Depois de me aposentar passei a estar mais tempo em casa com eles mas fui convidada a abrir uma escola nova no Bom Sucesso em Alverca e entusiasmei-me. Nas alturas de arranque de qualquer projecto é preciso mais tempo e eu cada vez vinha mais tarde para casa. E um dia quando cheguei o meu filho mais novo disse-me que eles já quase não viam o pai e que eu ia pelo mesmo caminho. Foi como uma vacina para mim. Mantive a actividade mas passei a chegar a casa a horas. Muitas vezes estamos a dar mais do que nos é pedido aos outros e descuramos as nossas obrigações para quem amamos”.

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