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“Alguns utentes hesitavam entre tratar-me por Ana ou por senhora doutora”
empenho. Ana tem como objectivo continuar a residir e trabalhar na Chamusca

“Alguns utentes hesitavam entre tratar-me por Ana ou por senhora doutora”

Ana Custódio quis ser médica e escolheu trabalhar na sua Chamusca natal.

Boa aluna e bem comportada formou-se em Coimbra e na altura de fazer a especialidade de Medicina Geral e Familiar concorreu à vaga que havia na sua terra, onde vive e onde quer continuar a viver e a trabalhar.

Chama-se Ana Custódio e é médica com especialidade de Medicina Geral e Familiar no Centro de Saúde da Chamusca. Mas dizer apenas isto é pouco. A jovem médica, de trinta anos de idade, nasceu e cresceu na Chamusca e após concluir a licenciatura de medicina na Universidade de Coimbra, foi para a Chamusca, para onde concorreu a fim de fazer a especialidade e foi lá que ficou colocada após a mesma.
Ana Custódio diz a O MIRANTE que sempre quis ser médica. “Os meus pais contam-me que em criança eu sempre dizia que ia ser doutora para poder ajudar as pessoas”. O sonho cumpriu-se e a nova doutora escolheu ajudar as pessoas da sua terra.
“A escolha do local para onde ir trabalhar foi feita na altura em que optei por especializar-me em Medicina Geral e Familiar. Eu queria ser colocada num sítio pequeno e curiosamente quando saiu a lista das vagas para formação vi que havia uma na Chamusca. Foi fácil decidir. Então se eu gostava de sítios pequenos porque não o meu sítio pequeno?!”, conta.
No seu sítio pequeno tinha passado uma infância tranquila. Ana Custódio era boa aluna na escola e bem comportada. Tão bem comportada que não se consegue lembrar de nenhuma traquinice fora das traquinices normais de qualquer criança. Estudou em Coimbra entre 2004 e 2010 e aí soltou-se um pouco mais mas sem nunca descarrilar.
“Foi um período em que cresci muito, tanto a nível pessoal como a nível profissional. E acho que vivi tudo o que era suposto um estudante de Coimbra viver. Guardo boas recordações e trouxe de lá para além do diploma e vivências, grandes amizades”, explica.

E os santos da casa também fazem milagres?
Quando alguns utentes foram atendidos pela primeira vez pela Dr.ª Ana Custódio ficaram um pouco expectantes. “Vim em Janeiro de 2012 e no início as pessoas estranhavam e perguntavam-me o que estava ali a fazer. Acho que não estranhavam eu ser médica. Estranhavam o facto de eu ter escolhido a Chamusca porque o normal é os jovens optarem por sair da terra indo trabalhar nas cidades”.
A conversa com O MIRANTE decorre no Jardim do Coreto a dois passos do Centro de Saúde. “Ouvi muitas vezes a expressão Santos da terra não fazem milagres”, conta a jovem médica.
Ana Custódio começou a atender muitas pessoas conhecidas e próximas. Amigos, pais de amigos, professores. O problema do distanciamento foi logo abordado com a sua orientadora, a médica Alzira Pereira. Como conseguir que a vissem como médica e não como a Ana, vizinha, amiga, familiar, conhecida, que muitas tinham visto crescer.
“Era importante estabelecer um equilíbrio entre não ser demasiado próxima para não dar azo a abusos e não ser demasiado distante ao ponto de parecer arrogante. Mas acho que correu tudo muito bem. Alguns entraram pela primeira vez no consultório e perguntaram. - “Então e agora como é que te trato? Do Centro de Saúde para dentro sou médica da porta para fora sou a Ana”, explicava ela.
A jovem médica vive na Chamusca e mantém o seu núcleo de amigos de infância. “São poucos os que cá estão. Alguns vêm ao fim-de-semana. Para nos divertirmos temos de sair da Chamusca porque aqui não há nada. Para ir ao cinema ou vamos a Torres Novas ou a Santarém”. Nos seus tempos livres gosta de ler e de escrever alguns textos que guarda só para si.
“A ideia é continuar por aqui e só tenho pena não poder ter mais amigos a viver também aqui porque na Chamusca falta emprego e sem emprego não há possibilidade de eles se fixarem. Tem de haver políticas de incentivo para que os jovens se fixem com as suas famílias. A vila tem potencial e tem estado adormecida. Apesar de estarmos no interior estamos muito bem localizados”, constata.
Ana Custódio percebe que a sua opção de se fixar no interior é ainda a excepção, nomeadamente ao nível dos jovens médicos e que por isso é que ainda há tantas pessoas sem médico de família.
“Não me parece que haja falta de médicos. A especialidade de Medicina Geral e Familiar é a especialidade que abre maior número de vagas por ano. É uma questão de distribuição. Percebe-se que por questões pessoais ou familiares possa haver uma maior preferência por zonas urbanas e no litoral. Felizmente essa tendência está a mudar porque já se percebeu que é necessário atrair os médicos com alguns incentivos”, reflecte.

“A Ascensão está mais fraca ou sou eu que estou mais velha”

À margem das questões profissionais era quase inevitável falar na maior festa da Chamusca, a Semana da Ascensão. Ana Custódio diz que já não vive a tradicional Semana da Ascensão com tanta intensidade. “Antigamente era melhor e penso que vinha mais gente de fora. Eram grandes enchentes e eram mais dias. Ou então sou eu que estou mais velha e vivo as coisas de outra maneira”, diz.

“Alguns utentes hesitavam entre tratar-me por Ana ou por senhora doutora”

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