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“Alguns poderes não têm cultura democrática para aceitar as críticas”

“Alguns poderes não têm cultura democrática para aceitar as críticas”

Pedro Mesquita Lopes, 46 anos, advogado com escritório no Cartaxo

Nasceu e cresceu no Cartaxo e depois de se formar em advocacia e ter estagiado em Lisboa voltou à sua terra. Diz que critica o que está mal para que se possa fazer melhor embora saiba que alguns decisores ainda vejam as críticas como ataques pessoais. Pedro Mesquita Lopes, de 46 anos, tem um grupo de amigos com quem joga à bola há mais de trinta anos. Pertence ao Conselho de Disciplina da Associação de Futebol de Santarém e é membro da Direcção do Jardim de Infância do Cartaxo que o seu pai ajudou a fundar e que ele próprio frequentou.

Sempre quis ser advogado. Talvez influenciado pela imagem romantizada da profissão que surgia nos filmes. A minha preferência eram as humanidades e as letras mas hoje percebo a falta que nos faz o raciocínio matemático. No entanto com treze ou catorze anos não pensamos dessa forma.
Fui estudar para Lisboa mas sempre com a ideia de voltar para o Cartaxo onde nasci e cresci. Tirei a licenciatura na Universidade Internacional. Acabei o curso com 23 anos e depois de um estágio, durante um ano e meio entrei para uma sociedade de advogados. Quando em 2000 essa sociedade fechou voltei para o Cartaxo onde montei um escritório e onde me mantenho até hoje.
O Cartaxo tem que decidir o que quer ser. Nos últimos anos não é dormitório de quem trabalha noutros lados mas também não é uma cidade dinâmica como era há vinte anos. Nessa altura havia uma actividade comercial muito forte e alguma pequena e média indústria em todo o concelho, apesar de nunca ter sido esse o nosso forte. Tínhamos casas agrícolas, armazenistas e empresas à volta da agricultura e dos vinhos e hoje com grande expressão só temos a Adega Cooperativa.
A nossa terra é a nossa terra mesmo que a critiquemos e eu faço-o sem problemas. O concelho mantém uma razoável qualidade de vida. É um meio pequeno, as pessoas conhecem-se e temos segurança. O Cartaxo continua ser uma boa região para viver mas precisa urgentemente de alterações. A rede viária, por exemplo, é um caos. Há pouco bairrismo no Cartaxo. Os cidadãos têm uma relação fraca com as instituições, sejam elas municipais, privadas ou associativas.
Alguns poderes não têm cultura democrática para aceitar as críticas. Acaba-se sempre por não reclamar porque quem está à frente das instituições acaba por entender as críticas como pessoais. O poder político usa muitas vezes essa ferramenta para se defender. Temos de ultrapassar esse medo de dar opiniões cara a cara.
Quando estudava trabalhei nas vindimas. Foi na Joanicas, uma empresa produtora e armazenista de vinhos que foi da minha família durante muitos anos. Era uma forma de me ocupar e de ganhar algum dinheiro, mesmo quando já estava na universidade.
Continuo a fazer férias em Monte Gordo para onde ia em criança. Primeiro para o parque de campismo depois num apartamento que o meu pai conseguiu comprar. É uma praia familiar, boa para miúdos e tem boa água.
Ser advogado na província é como ser médico de clínica geral. Não há mercado para me poder especializar em direito administrativo e de expropriações, que era o que fazia mais em Lisboa. Gosto muito de fazer direito penal, civil e trabalho. Há processos em que peço ajuda a colegas, outros que utilizo as ferramentas ao nosso dispor. E com um país onde se legisla “por dá cá aquela palha” o trabalho é maior e contínuo.
Jogo regularmente futsal. Tenho um grupo de amigos com quem jogo há trinta anos. Chegámos a participar em vários torneios no concelho e hoje já temos alguns dos nossos filhos a jogar connosco. A nível associativo integro o Conselho de Disciplina da Associação de Futebol de Santarém.
O meu pai ajudou a fundar o jardim de Infância do Cartaxo. Eu frequentei-o entre os seis meses e os seis anos e os meus filhos também o frequentaram. Hoje sou membro da direcção. O convite surgiu há cerca de oito anos porque podia contribuir pessoalmente mas também com os meus conhecimentos profissionais, o que aceitei com gosto. O Jardim, apesar de alguns problemas conhecidos, continua a educar e apoiar com muita qualidade as crianças do concelho que é o que mais importa. É uma das maiores instituições do seu género a nível distrital.
Sou presidente da delegação do Cartaxo da Ordem dos Advogados. Antigamente dizia-se que todos os advogados se conheciam mas hoje diz-se que toda a gente conhece um. Os advogados têm hoje uma maior proximidade com as pessoas, já não nos vêem com tanto distanciamento mas ainda não se apoiam em nós como deviam. Os portugueses continuam a ver os advogados como gestores de conflitos mais do que numa perspectiva de prevenção ou forma de os evitar. Não nos definimos pela profissão, mas pelo que fazemos e por quem somos.

“Alguns poderes não têm cultura democrática para aceitar as críticas”

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