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Não gostam de águas paradas e não abdicam de viver a vida como acham que deve ser vivida

Não gostam de águas paradas e não abdicam de viver a vida como acham que deve ser vivida

Empresário tauromáquico António Manuel Cardoso “Nené” e Vasco Cunha, vereador da Câmara do Cartaxo

António Manuel Cardoso “Nené” está sempre em movimento. Porque a sua actividade de empresário tauromáquico a isso obriga e porque a vida é para usufruir dia após dia com redobrado prazer. Vasco Cunha, vereador da Câmara Municipal do Cartaxo, eleito pelo PSD, aparenta ser mais sossegado mas as aparências podem iludir. Diz que a simples ideia de se imaginar à pesca com alguns amigos que gostam de pescar, o faz ficar nervoso. Os dois foram convidados de O MIRANTE para mais uma conversa da série duetos e, conforme lhes foi pedido, falaram de assuntos sobre os quais não é habitual falarem.

O proprietário da empresa Toiros & Tauromaquia, António Manuel Cardoso “Nené”, usa a liberdade de expressão prevista na Constituição da República sem receios nem constrangimentos. Para ele um cão é um cão, um gato é um gato e o politicamente correcto é modalidade que não pratica. A certa altura da conversa com o vereador da Câmara do Cartaxo e quadro do grupo Millennium BCP, Vasco Cunha, quando se falava de usos e costumes explicou a forma como encara a moda dos “piercings”.
“Quando era miúdo via os toiros com um arganel no nariz. Agora em vez de toiros vejo pessoas com essas argolas. Aos toiros metem-se aqueles chips nas orelhas, é o passaporte deles. Mas há pessoas que em vez de um usam vários e nas duas orelhas. No outro dia passei por um rapaz e até me ia dando um ataque. Tinha um buraco numa orelha que cabia lá... não sei o quê”.
Desafiado a dar a sua opinião sobre o que aprecia mais numa mulher, evitando os lugares comuns dos olhos e da inteligência, Vasco Cunha opta por não abrir nenhum tratado de anatomia feminina. “O que me chama mais a atenção numa mulher é a sua forma de andar. De preferência com sapatos de meio salto ou de salto alto”. O seu companheiro de conversa sorri e lembra os tempos em que ainda era possível dirigir um piropo a uma mulher sem se correr o risco de apanhar uma multa.
Os dois confessam-se apreciadores de bons vinhos e de boa gastronomia. São fumadores e dizem que gostam das coisas boas da vida, estando pouco dispostos a prescindir delas no dia a dia a não ser que a isso sejam obrigados ou que haja valores mais altos que se levantem. Foi o caso do empresário tauromáquico que o ano passado esteve seis meses sem beber nem fumar por causa do 45º aniversário dos Forcados Amadores de Alcochete, do qual foi cabo entre 1984 e 1995.
“Comprometi-me a pegar um toiro na corrida do aniversário. Como já não tenho vinte anos mas cinquenta e dois e porque peguei muitos toiros ao longo da vida, sabia que tinha que estar bem preparado. Cortei no tabaco e no álcool entre 6 de Janeiro e 17 de Junho, quando foi a corrida. Peguei à primeira e foi uma grande alegria. Tão grande que até prometi que vou voltar a pegar no 50º aniversário”, conta.
O apoio de Portugal aos refugiados divide opiniões. António Manuel Cardoso “Nené” considera que o Estado português deve dar sempre prioridade aos portugueses e fala de um carenciado que conhece que não teve direito a uma casa. Não é contra a ajuda humanitária mas diz que deve ser enviada para onde é necessária.
O vereador da Câmara do Cartaxo lembra que há carenciados em Portugal que se auto-excluem e recusam ser ajudados e explica que em muitos casos a ajuda humanitária não chega a quem precisa por ser desviada. “Acho que devemos receber refugiados e acho também que devemos compreender que os que ao fim de algum tempo abandonam Portugal têm direito a mudar de vida. No entanto se forem embora não lhes devemos dar uma segunda oportunidade”, declara Vasco Cunha.
Os dois convidados de O MIRANTE para a série “Duetos” jogaram futebol quando eram jovens. O empresário tauromáquico, embora seja sportinguista, tal como Vasco Cunha, ganhou a alcunha de Nené, um antigo jogador do Benfica porque, tal como ele, não se empenhava por aí além. “Como via que o meu futuro não era aquele, eu não gostava de sujar os calções”, diz.
Vasco Cunha também tinha a mesma percepção sobre o seu futuro como futebolista. Ao longo dos sete ou oito anos que jogou não se lembra de ter aleijado um adversário nem nunca foi expulso mas afirma que não era um santinho. “Na minha primeira ida à discoteca Horta da Fonte, lá no Cartaxo, tinha eu os meus 14 anos, como tínhamos jogo no dia seguinte o treinador passou por lá para ver se encontrava alguém e eu e os meus amigos escondemo-nos na copa até ele sair. Depois ficámos até às seis da manhã. Praticamente não dormimos e o jogo não nos deve ter corrido nada bem”, conta.
No final da conversa, o empresário tauromáquico refere o 90º aniversário da sua mãe no dia 13 de Janeiro e o hábito que tem de ser o primeiro a dar os parabéns aos amigos, logo “à meia-noite e um segundo”, coisa que promete não fazer com ela.

“As escolas construídas em Portugal nos últimos anos pela Parque Escolar foram inspiradas nas escolas dos países nórdicos, com ar condicionado e novas tecnologias. É uma fortuna por mês em energia e manutenção. Temos a ideia que importar coisas dos países desenvolvidos nos faz mais desenvolvidos mas temos que pensar na nossa realidade”. Vasco Cunha


“Foi um erro termos aderido ao euro. Eu adorava voltar a usar escudos e não é por razões políticas, que eu não ligo a política. Actualmente, no dia a dia, já não penso em escudos mas por vezes ainda dou comigo a pensar. ‘Gastei cem euros num instantinho. Cem euros eram vinte contos, vinte mil escudos”. António Manuel Cardoso “Nené”

Uma aterragem de emergência e uma recepção contestada com saída em ombros

As primeiras viagens de António Manuel Cardoso “Nené” ao estrangeiro foram como elemento dos Forcados Amadores de Alcochete, sua terra natal, para onde entrou aos 17 anos e que chegou a comandar entre 1984 e 1995. O empresário gostou de todas elas mas há uma em particular que foi uma verdadeira aventura.
“Fomos convidados para participar num festival taurino na Grécia e aconteceram-nos várias peripécias, a primeira das quais logo em Lisboa. O avião saiu do aeroporto da Portela e passado pouco tempo as hospedeiras começaram a servir uma refeição aos passageiros. Mal tínhamos começado a comer elas vieram apressadas recolher os tabuleiros e aquilo foi um grande rebuliço. Depois o avião aterrou e fizeram-nos sair por uma daquelas mangas de evacuação de passageiros que a gente vê nos filmes. Quando olhei em volta, vi que em vez de Atenas, estávamos outra vez em Lisboa”, conta.
O regresso ao ponto de partida deveu-se a uma ameaça de bomba que afinal não existia. “Algumas pessoas já não viajaram mas eu voltei a embarcar”, acrescenta. Se em Lisboa havia ameaça de bomba em Atenas havia uma manifestação anti-tourada à espera dos forcados. “Foi uma grande confusão. Tivemos que ser escoltados pela polícia até ao hotel, onde nos fardámos e depois até ao local do espectáculo. Confesso que cheguei a ter algum receio. As pessoas puxavam-nos pela roupa, gritavam. Fomos tentando explicar que éramos forcados e o que fazíamos e acho que deu resultado. Os bilhetes esgotaram e os espectadores divertiram-se. Foi uma festa. Entrámos derrotados e saímos em ombros”, conclui.

Uma viagem ao futuro e à modernidade e uma viagem ao passado mais retrógrado

Vasco Cunha já foi duas vezes a Nova Iorque e acalenta a esperança de lá voltar mas, curiosamente, quando começou a viajar, nunca pensou ir lá. Nem sequer em sonhos.
“Se me oferecessem dez hipóteses de viagens eu escolhia tudo menos Nova Iorque. Mas fui a Nova Iorque em trabalho e fiquei fascinado. Aquilo é o centro do mundo e tenho ideia de lá voltar. Maldivas, Cuba, Brasil, é tudo muito bonito, bem como as cidades da Europa mas Nova Iorque, Manhattan... é outra coisa. É como nos filmes. Uma cidade cosmopolita e fascinante. Vamos pela rua e vemos guardas montados a cavalo. Moram ali milhões de pessoas mas não vemos nenhum estábulo nas redondezas e está a polícia montada à esquina a fazer a segurança”, tenta explicar.
Na altura em que lá foi a primeira vez, o ex-deputado ficou em Queens. “Era uma zona dominada pelos negócios de judeus. Às oito da manhã já eles estavam a subir as grades de protecção das montras e a expor a mercadoria. Quem passasse por lá antes disso só via aquilo tudo grafitado. Ali perto fica o mundo financeiro, Wall Street...”.
Outra viagem que o surpreendeu, mas de forma bem diferente, foi uma que fez à Sicília. “Desembarcamos e não se vê praticamente mulher nenhuma na rua. As duas ou três que passam estão vestidas de preto. Tapadas da cabeça aos pés. Os homens estão à porta dos cafés ou encostados às paredes. As mulheres que iam no nosso grupo, algumas das quais de calções e saias e roupas leves por causa do calor, eram devoradas com os olhos. Miradas ostensivamente da cabeça aos pés. Parece que tínhamos regredido 200 anos. É uma sociedade onde o homem é o dono. Confesso que também fui surpreendido por aquele ambiente”.

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