uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Um conservador com capacidade para se adaptar às mudanças e um radical com moderação

Um conservador com capacidade para se adaptar às mudanças e um radical com moderação

Uma conversa entre o astrónomo Máximo Ferreira e o advogado Ramiro Matos

Máximo Ferreira, astrónomo e coordenador científico do Centro de Ciência Viva de Constância, não gosta de imprevistos por aí além e convive mal com as mudanças apesar de, passado o impacto inicial, ter uma grande capacidade de se adaptar às novas situações. Ramiro Matos, presidente da Delegação de Santarém da Ordem dos Advogados, está sempre preparado para responder aos imprevistos e aceita cada mudança com um desafio. No decurso de mais uma conversa da série Duetos demonstraram que apesar disso têm ideias semelhantes sobre o que se passa no Mundo.

Gostar ou não gostar de ópera, eis a questão? Ramiro Matos diz que tem uma relação distante com o chamado “Bel Canto” mas revela que, até há alguns anos, costumava ir pelo menos uma vez por ano assistir a um espectáculo de ópera ao S. Carlos, em Lisboa. “O meu interesse vai para além da música ou do canto. Eu gosto de toda aquela envolvência cénica”, refere.
Pelo que diz não admira que a sua melhor recordação relativa àquele tipo de espectáculo tenha sido uma ópera a que assistiu em Viena de Áustria. “Não me recordo qual era a ópera mas recordo-me nitidamente da viagem, da sala, da envolvência, da atmosfera...”.
Máximo Ferreira nunca foi ao S. Carlos nem a Viena mas a ópera chega até ele através do rádio do carro. “Ir à ópera não está na minha lista de desejos. Oiço quando vou de carro porque tenho o rádio sintonizado na Antena 2 mas quando o canto é muito estridente mudo logo de posto”, confessa.
A meio da conversa o presidente da Delegação de Santarém da Ordem dos Advogados confessa o seu fascínio por tudo aquilo que foge ao nosso conhecimento e aproveita o facto de estar a conversar com um astrónomo para lhe perguntar se uma ida do homem a Marte é assim tão importante para a humanidade.
O coordenador científico do Centro de Ciência Viva de Constância, diz que é importante o homem ir a Marte como foi importante ir à Lua, porque é ganhar conhecimento e desfazer algumas barreiras da ignorância, mas não acredita que seja possível. Não por questões tecnológicas mas por causa dos limites humanos.
“Podemos treinar astronautas na estação espacial seis meses ou mais. Vamos falando com eles, monitorizando a sua saúde física e mental e podemos fazê-los regressar a qualquer momento porque estamos a 400 quilómetros de distância. Se eles estiverem a milhões de quilómetros a caminho de Marte isso já não é possível. E não podemos convidar uns aventureiros a irem sem garantia de regresso. A ideia de colonizar Marte e dali partir para Júpiter é uma utopia. Mas acho que se pode fazer isso sem pôr em risco seres humanos”, defende.
Como nenhum dos dois irá provavelmente à Lua e muito menos a Marte fala-se de outras viagens, do receio de actos terroristas e do controlo nos aeroportos. Máximo Ferreira diz que nunca deixou de ir onde tinha que ir por as condições de segurança serem duvidosas.
“Tenho alguns cuidados mas nada mais que isso. Já houve alturas em que dormi algumas noites num hotel de cinco estrelas e outras numa tenda montada à volta dos telescópios onde nos juntávamos vários indivíduos para filmar ou fotografar um eclipse, por exemplo”, conta.
Ramiro Matos confessa que cancelou uma viagem a Paris que estava marcada para quatro dias depois de um atentado. “Achei que aquilo não ficaria por ali, como não ficou, e achei que era correr um risco sério de vida. Mas havia também um risco que me afectaria muito em termos profissionais, que era o de ser obrigado a ficar lá mais dias se os aeroportos fossem encerrados”.
Sobre o controle nos aeroportos conta uma história curiosa. “Até agora, onde me senti mais suspeito foi nos países do Magreb. Eu a determinada altura, por questões profissionais, viajei muito para a Tunísia, Líbia, etc... e o controlo deles era cerradíssimo, o que é curioso porque geralmente controla-se mais quem vem daquelas zonas. A certa altura até cheguei a pensar se faziam aquilo por questões de segurança ou se era uma tentativa dos guardas receberem dinheiro para aliviarem a revista”.
Já perto do final da conversa os dois dão a sua opinião sobre a necessidade de um crematório na região e estão de acordo que deve ser construído e que deve ser num ponto central da região como Santarém. Máximo Ferreira revela que quando foi presidente da Câmara de Constância chegou a pensar no assunto, embora a construção do crematório não estivesse no topo das prioridades. O presidente da Delegação de Santarém da Ordem dos Advogados lembra o falecimento nos dias anteriores à entrevista de três pessoas conhecidas que foram cremadas em Setúbal porque não havia vagas em crematórios mais próximos, nomeadamente no da Póvoa de Santa Iria.

Descargas de adrenalina anuais temperadas com doses de malandragem dos amigos

Ramiro Matos já se inscreveu para a descarga de adrenalina de 2017. Vai fazer bungee jumping saltando de uma ponte para um rio com a garantia de que tocará na água, situação que normalmente não acontece. “Garantiram-me que vão respeitar todas as questões de segurança e que vou mesmo tocar na água”, conta.
O presidente da Delegação de Santarém da Ordem dos Advogados tem por hábito escolher anualmente uma actividade radical que lhe permita descomprimir dos problemas da sua actividade como advogado e libertar-se da contenção que a mesma exige no dia-a-dia. E aguarda com expectativa esse dia libertador.
Em anos anteriores fez coisas como descer uma queda de água em rapel, saltar de um avião em queda livre ou fazer “canyoning” num rio com rápidos. Para além de serem actividades radicais muitas delas ainda foram apimentadas com as partidas pregadas por amigos.
“Quando fiz “rapel” fui com amigos que estavam habituadíssimos àquilo e praxaram-me de uma forma terrível. Deixaram-me para último quando já estava a passar imensa água e foi uma coisa horrível. Disseram-me que até um profissional teria tido dificuldades naquela situação mas eu acho que as coisas são mais interessantes assim. A vida se fosse toda programada não tinha piada nenhuma”, lembra.
E algo semelhante aconteceu quando saltou em queda livre. “Fiz um salto tandem em que vai um instrutor colado. Em terra, e depois já no ar, eles só me diziam que tinha tido azar, que tinha escolhido um mau dia porque o instrutor não era experiente, eu sei lá... Criaram-me imensa tensão até ao último momento mas depois de saltar a sensação é inexplicável”.

O gosto de ter tudo programado e controlado e de só fazer aquilo que lhe dá prazer

Uma astrónomo gostaria de ir à Lua? No caso de Máximo Ferreira a resposta é negativa. “Se fosse só carregar um botão e no momento seguinte estar na Lua não me importava mas aquela coisa da ascensão tenho a certeza que não ia achar muita piada. A aceleração é uma coisa violenta do ponto de vista físico. Se fosse mais jovem talvez tivesse predisposição para arriscar, mas a partir de uma certa fase da vida, que não tem nada a ver com a idade, comecei a não fazer as coisas que me incomodavam. O risco e a adrenalina não são coisas que me entusiasmem. E à medida que fui percebendo as questões físicas associadas e a probabilidade das coisas falharem, fiquei vacinado contra aventuras. Eu prezo a vida”, declara.
O coordenador científico do Centro de Ciência Viva de Constância conta que chegou a andar uma ou duas vezes numa montanha russa mas que a sensação que sentiu não foi de prazer mas de grande incómodo. Sobre a viagem à Lua acrescenta, num comentário ao espírito aventureiro do seu colega de conversa, que se lá fosse era mais para ver o local e o espaço a partir dali, ao contrário de Ramiro Matos que iria mais pela adrenalina da viagem.
“Mesmo o regresso de uma viagem dessas não é fácil. A aceleração para os 40 mil quilómetros por hora é algo extremamente violento em termos físicos”, explica e conta um episódio que ilustra o que acaba de dizer.
“Nas primeiras missões à Lua, para além daqueles sensores todos que os astronautas levam para controlar uma série de coisas como a pressão arterial, etc..., havia uma câmara que permitia aos controladores verem o seu aspecto em todos os momentos mas a partir de certa altura essas câmaras foram banidas porque havia operadores que se sentiam mal quando viam as caras dos astronautas deformadas. Fisicamente aquilo é muito violento”, conclui.

Um conservador com capacidade para se adaptar às mudanças e um radical com moderação

Mais Notícias

    A carregar...