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Um psicólogo criminal à frente do Centro de Reabilitação e Integração de Coruche

Um psicólogo criminal à frente do Centro de Reabilitação e Integração de Coruche

Começou por querer ser jornalista e depois enfermeiro mas hoje é psicólogo. Há oito anos que Ricardo da Silva é presidente da direcção do CRIC – Centro de Reabilitação e Integração de Coruche. Formou-se em psicologia criminal e trabalhou com toxicodependentes e pessoas marginalizadas. Deu aulas a adolescentes e hoje sente-se realizado a trabalhar com pessoas com deficiência mental. Com elas, diz, há muito para aprender.

“Quando era mais novo queria ser muita coisa, mas primeiro pensei em ser jornalista”, começa por dizer o presidente da direcção do CRIC – Centro de Reabilitação e Integração de Coruche. Ricardo da Silva tem 40 anos, é natural de Coruche, onde sempre viveu, e com a adolescência mudou de ideias, tendo-se formado em psicologia criminal.
Em jovem chegou a pintar edifícios na empresa do pai. “Ele achava que me fazia bem repartir as férias do Verão e entrar no mundo do trabalho, queria-me mostrar que as coisas não são fáceis e eu aprendi muito com isso”, sublinha. Mais tarde o jornalismo caiu por terra e a enfermagem foi a primeira opção. “Era o que tinha mais saída e como não tinha jeito nem consegui nota concorri para psicologia. Foi o melhor que fiz”, afirma.
Em jovem Ricardo já se perfilava para a área que hoje exerce. “Nunca fui muito de falar, fui mais de ouvir e observar primeiro. Tentava perceber os gestos, a forma como a pessoa falava e descobrir um pouco mais sobre quem tinha à minha frente”, conta. Ao quarto ano do curso de psicologia na Universidade Lusófona, em Lisboa, o dirigente do CRIC especializou-se em psicologia criminal e do comportamento desviante, influenciado pelo que via na televisão e por amigos da faculdade.
Na hora do estágio académico, Ricardo fez um novo desvio, desta vez para a área da toxicodependência. “Sempre achei as drogas uma coisa tenebrosa mas foi uma área que me atraiu imenso: tentar perceber a história de vida das pessoas e compreender como era este universo da toxicodependência. Descobri um mundo complicado”, afirma.
Com o curso terminado em 2001 Ricardo teve a oportunidade de fazer um estágio profissional na Câmara Municipal de Coruche, com 25 anos. Aí foi desafiado a coordenar um curso de jardinagem para marginalizados - “na sua maioria eram ciganos com o intuito de os integrar, e logo a seguir pediram-me para fazer um projecto de prevenção das toxicodependência nas escolas”, conta.
Na altura, a presidente do CRIC sabia do trabalho do psicólogo em Coruche e chamou-o para coordenar um projecto de prevenção do absentismo escolar. “O CRIC tinha esse projecto a funcionar há ano e meio mas houve a necessidade de ter um coordenador novo porque as coisas não estavam a correr bem”, conta. E depois desse projecto entrou como director técnico da instituição.
O psicólogo chegou a acumular o cargo no CRIC com o de professor na Escola Profissional de Coruche, onde deu aulas nas disciplinas de psicologia do adolescente, psicologia social e sociologia durante dois anos lectivos, mas a falta de tempo para gerir o que fazia levaram-no a dedicar-se por completo ao centro de reabilitação.
Ainda tirou uma pós-graduação em cuidados paliativos na Universidade Católica, área que nunca exerceu, e por volta de 2009, quando a presidente do CRIC decidiu sair, Ricardo da Silva assumiu o cargo. A altura era crucial pois tinham sido aprovadas a remodelação do Centro de Actividades Ocupacionais e a construção de uma residência autónoma no Bairro Novo, em Coruche.
No CRIC o psicólogo coordena as equipas e faz a gestão da instituição, apesar de gostar mais de lidar com as pessoas. “O desafio é interessante e é diferente todos os dias, mas agora sou preciso noutra área e sinto-me realizado na mesma. E as minhas capacidades como psicólogo também me ajudam a gerir tudo”, acrescenta.
Ricardo da Silva admite que o primeiro impacto com a realidade no CRIC não foi fácil. “A primeira semana foi de adaptação e custou-me, não por medo, mas por falta de conhecimento que temos da área, mas depois apaixonei-me por estas pessoas”. E apesar de afirmar que todas as pessoas têm preconceitos, já aprendeu muito onde trabalha: “Aprendi que com estas pessoas se pode ir mais além, que não são inválidas e que não precisam de ser descartadas”.

Um psicólogo criminal à frente do Centro de Reabilitação e Integração de Coruche

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